domingo, 11 de abril de 2010

29375/76/77/78/79/80/81

29375

“Volto com nova força a esta porfia”
E dela não descanso um só segundo
E quando neste tanto me aprofundo
Sabendo discernir esta alegria
Encontro finalmente o que hora teces
Em tons suaves, ditas minha sorte
E tanto quanto pode este suporte
Trazer ao dia a dia mais benesses,
Assim ao caminhar em face altiva
Andando entre os espinhos, pedregulhos
Ausente dos ouvidos os marulhos
Minha alma muitas vezes já se priva
Do todo que se esboça num momento,
E quando me percebo, imerso ao vento...

29376


“em vendo meu suor se me desvia”
O passo tantas vezes prometido
Negando qualquer luz, já distraído
Vagando pela noite, rasgo o dia,
E tento pelo menos conceber
A sorte que deveras não me cabe
E quanto mais a vida em vão desabe
Maiores os descasos, posso ver
Apenas os escombros do que fomos
E neles revivendo a dor insana
A voz que tanto aplaca quanto engana
Diversa do que ainda eu penso, somos.
E a soma do vazio com o nada
Traduz a mesma história em voz velada.

29377


“Quanto mais vou cerni-lo com meus laços”
Mais tento conceber a liberdade
Do nada que deveras me degrade
Seguindo mansamente velhos passos
Na areia em turbilhão e temporais
As dunas gigantescas de minha alma
O pantanal dos sonhos não me acalma
Na ausência de caminho, ausente cais
Nefanda história dita o mesmo rumo
E quanto me percebo muito aquém
Por quanta poesia ainda vem
Ao fardo mais mordaz não me acostumo,
Gestando este abandono corriqueiro
O amor quando demais é traiçoeiro.

29378


“com um trasgo que trago entre meus braços”
Revivo como fosse algum bufão
As horas de menino, mas em vão
Do quanto fui feliz, sequer os traços
O coração traquina dita normas
E dele não se vê qualquer paragem
Ainda que se pense na paisagem
No amor quando incessante; isto deformas
E trazes como herança a dor sombria
E tanto quanto pode ou mais pudesse
A vida se mostrando enquanto tece
A noite insuperável, tosca e fria,
Aninho-me deveras no passado
E vejo o dia a dia desolado...


29379


“passo sozinho em lutas, noite e dia,”
Cansado desta enorme desventura
E quanto mais atroz esta procura
A sorte não se vê ou mesmo adia
A realidade é torpe camarada
E nada do que pude ainda creio
No olhar de quem desejo vejo o anseio
E sigo sem saber a árida estrada
Sem ter nas mãos momento de esperança
Sem ter nos olhos brilho que de antanho
Mostraram velho jogo agora ganho
Enquanto ao mesmo nada já se lança
Realidade turva o meu caminho,
E mesmo enamorado, vou sozinho...


29380



“em sonhos cansa-se a alma nesta via,”
E nada do que fosse realidade
Permite o quanto a luz ainda invade
No todo que deveras não se cria
No quadro enternecido da ilusão
Vergastas me cortando se aprofundam
As velhas emoções ainda inundam
Gerando a mais completa sensação
Do fardo que me enverga enquanto tento
Ainda acreditar num novo encanto,
E quando nada vejo mais me espanto
Deixando-me levar por sofrimento,
Amortalhado encanto quero além
Do quanto no vazio sempre vem...


29381


“A fugitivas sombras dou abraços,”
Mas nada do que tanto poderia
Viver além do caos, tanta agonia
Gestando com ternura novos laços,
Perece esta ilusão a cada instante
Mortalha se demonstra a vestimenta
Que ainda mesmo em dor já me apascenta
Em tal momento duro e fascinante.
Morrendo as fantasias, resta o nada
E deste nada ao menos posso ver
A chance de outro ser vir, renascer
Tornando inda possível a alvorada,
Cadenciando a vida desta forma,
Nada se perde e tudo se transforma...

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