29389
“mas tu me olhas num olhar tão doce”
Trazendo a mansidão a quem outrora
Ao ser fera terrível a paz devora
Diverso do que tanto quis que fosse,
Medonho pária, espúrio camarada
Nas hordas mais terríveis, tanto infausto,
Amor se oferecendo em holocausto
Permite se creia noutra estrada
Embora tão difícil para quem
Acostumado à fúria quase hedônica
Não vendo noutra sorte mais harmônica
O quanto em maravilha ela contém,
Assim ao me entregar ao teu olhar,
Jardim de uma esperança renovar.
29390
“Dos mundos onde andei nada te trouxe,”
Somente as cicatrizes e estas chagas
Que tanto acaricias quanto afagas
O quanto a vida fora em agridoce
Caminho aonde pude discernir
As ondas de prazer e dor imensa,
O certo é que deveras não compensa
A morte prematura do porvir,
Ao retornar a ti, revejo o ninho
Suave aonde um dia eu aprendi
O quanto deste amor que existe em ti
E dele da esperança me avizinho,
Um pássaro sem rumo e sem paragem,
Ao léu em torpe senda, vão viagem...
29391
“toda a dor que por mim lhe foi causada”
Deveras não podia ser assim,
O quanto de destroços sei em mim,
Depois de tanto sonho, resta o nada,
Searas mais diversas, dores tantas
Mergulhos no prazer sem ter limites
E sei que em cada engodo ainda existes
Palavras que disseste; quase santas,
Esgota-se o caminho de quem fora
Por vezes um terrível companheiro
A morte, o roubo, a fúria, por inteiro
Matando uma alma outrora sonhadora,
Mas quando a ti retorno, vejo então
Imensidade plena do perdão.
29392
“mas que me beija como agradecendo”
O fato da presença deste verme
Que tanto se podia em face inerme
Momento agora lúdico e estupendo,
Não pude te trazer senão a dor
E as marcas do que tanto procurei
Matando, destruindo, contra a lei,
A pútrida presença em desamor,
Arranco dos meus olhos cada imagem
E vendo-te deveras tão feliz,
O quanto desta vida se desdiz
Ao ver a mansidão desta paisagem
Amor domina a fera e em tal remanso
Teu colo, o paraíso em vida alcanço.
29393
“Santa que eu fiz envelhecer sofrendo,”
Ao ver-te já grisalha, olhar tão manso,
Certeza de um amor imenso; alcanço
A vida traz um raro dividendo
A quem se fez a fera destemida
A quem se fez mortalha em trevas, tantas
E mesmo que pequena te agigantas
Sanando este terror que é minha vida,
O parto se repete neste instante
De ti renascerá novo menino,
No amor onde deveras me fascino,
No olhar tão complacente e deslumbrante
Renasço para a vida em paz e glória
Refaço em calmaria a tosca história.
29394
“O filho é homem, mas a mãe é santa!”
Assim nos meus engodos percebi
O quanto em maravilha havia em ti
Na força deste amor que se agiganta
Gerando uma esperança aonde outrora
A morte se tornando corriqueira,
Mudando neste instante esta bandeira
Enquanto a paz superna me decora,
Vencido pelas ânsias e terrores,
Aonde do jardim gerei daninhas,
E as sendas mais escusas sendo minhas
Jamais permitiriam belas flores,
Audaciosamente quis a morte
E agora em ti, querida, novo aporte.
29395
“o filho é pobre, mas a mãe é rica”
Uma alma transparente em tal tesouro
Garante o mais tranqüilo ancoradouro
A sorte nesta senda já se explica
Forjando do vazio uma esperança
Transforma a minha vida num instante
E quanto mais o dia fascinante
Mais forte este calor que em ti se lança
Mortalhas que tecera em tantas brigas
Nefasto caminheiro, súcia, corja
Agora tanto amor, a vida forja
As sendas onde tanto em paz abrigas,
E tendo esta certeza, posso ver
O sol maravilhoso, amanhecer...
Nenhum comentário:
Postar um comentário