domingo, 11 de abril de 2010

29396/97/98/99/400/401/402

29396


“que eu compreendo o que significa”
O quanto tanto amor se poderia
Trazer ao mais terrível a alegria
E a vida noutro instante se edifica
Do fardo que carrego, morte e furto
O tempo desvairado em dor e gozo,
O templo que pareça majestoso
Prazer traçado insano, é sempre curto,
E o peso de uma vida em tantas cruzes
Ao nada simplesmente leva quem
Não tendo uma esperança só contém
Momentos feitos trastes, falsas luzes
Medonha imagem viva gera a escara
Enquanto a morbidez já se escancara.

29397


“Sim, tenho mãe! E esta ventura é tanta”
Que possa me alentar mesmo se a fera
Ainda resistindo em mim impera
E dela cada dia se quebranta
Não pude discernir melhor caminho
Venturas tão sutis desnecessárias
As corjas, súcias, hordas companheiras
As horas de prazer tão corriqueiras
E delas se percebem procelárias
Que ao penetrar tomando cada espaço
Matando uma esperança benfazeja
Apenas o final já se preveja
No quanto em desencanto ainda traço
O rumo feito em pedras, em espinhos,
Os dias são deveras mais daninhos...

29398


“Lembro que fui criança, que fui puro”
Apenas são suaves as lembranças
E quando me percebo em frias lanças
A sorte se transforma em dor e apuro,
O fardo do viver se torna tanto
O quanto em morte e insânia mergulhei,
Mortalha dita então a sorte e a lei
E vendo-me no espelho já me espanto,
Menino tão traquina que hoje em rugas
Marcado pela angústia de uma vida
Deveras tão feroz; atroz, dorida
E nela se mostrando tantas fugas,
O cárcere revivo traça o rumo
E nele cada engodo, em vão resumo.

29399


“Mãe! Nos teus braços eu me transfiguro”
E sei quanto é possível ver ainda
Beleza insuperável, pois infinda
Num tempo mais suave, doce e puro.
Nefasta face exposta do passado,
Aonde esta navalha dita a sorte
E quando se percebe em dor e morte
O quanto se mostrasse destroçado
O corpo que carrego, esta mortalha
Que tanto luto e dor, pois, semeara
E tanta fúria toma esta seara
O passo para o inferno assim se atalha,
E tendo-te materna fantasia
A vida noutro tempo se recria.

29400

“me limpasse de todos os pecados”
O amor que tanto quero e até procuro
O mundo se mostrara amargo e escuro
Assim imaginara ter os fados
E deles nada tendo em vis terrores
Arcando com meus erros, não sabia
Que ainda poderia ver um dia
E dele reviver supernas flores,
Assim ao perceber tanta pureza
No olhar envelhecido pela dor,
O quanto neste olhar o redentor
Caminho se apresenta e em tal certeza
Cevando a paz que tanto procurava
Minha alma em tanta luz ora se lava.

29401


“quase é como se o Céu me perdoasse,”
Ao ter no teu olhar a mansidão
E dela com certeza nascerão
As horas renovando cada face,
E o tanto deste amor que ora conheço
Vencendo as mais cruéis vicissitudes
E tanto que permitas tais açudes
E neles de esperanças me abasteço,
Na vívida impressão de amor tão farto
Não pude disfarçar minha alegria,
Quem tanto em ti querida, já porfia
Os erros e os enganos, pois descarto
E sigo coração aberto à vida
Aonde se pensara em despedida...

29402

“E o seu pranto rolando em minha face”
Lavando os meus pecados, tantos erros,
Invés de condenar-me aos vãos desterros
Caminho mais suave que se trace
Gestando enfim a nova primavera
E dela se florindo cada senda
O amor que tanto amor, amor desvenda
Apascentando assim, terrível fera,
Permite que se creia noutros tempos
Aonde a sorte seja mais plausível
Depois de tanto medo em tom terrível
Vencendo em calmaria os contratempos
Alento que ora encontro em voz materna
Gerando a paz que busco: mansa e eterna..

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