domingo, 11 de abril de 2010

29417/18/19/20/21/22/23/24/25/26/27/28/29/30

29417

“Eu te esqueci: as mães são esquecidas”
Prazeres mesmo intensos, mas fugazes
Em passos muito além e tão mordazes
As hordas comemoram as feridas
E quando me percebo em podridão
Mesquinho ser em busca deste hedônico
Caminho que me leve ao falso brilho
Enquanto a morte e a insânia tanto trilho
Num corpo à minha frente um mal já crônico
Senzalas entre fúrias, cadafalsos
A sorte em prostitutas, lupanares
Rondando madrugadas, tantos bares
E a cada novos erros, mais percalços
À bala resolvida uma questão
Mais um cadáver para a coleção...

29418

“eu fui covarde em todas as batalhas”
Sangrias dominando este cenário
Tocaias removendo os adversários
A morte se prepara em riscos, falhas,
E tanto se porfia sobre o nada
Amordaçando assim, seqüestro e dor,
O porto a cada instante decompor
O quanto poderia abençoada
Estrada que levasse para o bem,
Sarjetas e riquezas, festas, mortes
Vagando por diversos rumos, sortes
Apenas a mortalha me convém,
Mas vejo ainda a sombra de um passado,
Um porto mais seguro, relembrado...

29419


“eu fui vilão em todas as tragédias,”
Um asqueroso verme caminhando
Em ar tão tenebroso quão nefando
A vida toma em fúria minhas rédeas
E sendo assim a podre realidade
De quem, um rufião, um porco imundo
Nos becos, nas esquinas me aprofundo
E a cada nova morte que degrade
Eu tento com sorrisos aplacar
A fome insaciável do poder,
E quando neste espelho posso ver
A cicatriz da vida a se mostrar
Nefanda face exposta da mentira
Ao canto mais atroz a alma se atira.


29420


“Eu fui jogral em todas as comédias,”
Bufão que se vestira em tal tormenta
A morte se mostrando me apascenta
E dela se preparam vis tragédias
E destes regozijos mais ferozes,
Medonha face expondo este terror
Aonde poderia haver a flor
Nem mesmo dos infantes mais as vozes,
Negando em bala e foice a melhor sorte
Mesquinho ser caminha entre os piores
E quando o teu olhar inda demores
Verás no meu olhar sinais da morte,
Esfacelando uma alma em tom sombrio,
Rosário de cadáveres desfio...

29421

“eu andei pelo braço dos canalhas”
Vagando nos escombros da cidade
A sorte em face escusa pra me invade
E dela se percebem cordoalhas
Atando o que pudesse, mas não veio
Ao quanto sou em face mais atroz
Arrebentando assim os firmes nós
Espalho pelas ruas o receio,
A fonte dos terrores, voz sombria
Do desencanto imenso em vida fútil
O passo sem destino sendo inútil
Apenas se prepara em tal sangria
Matando o que restara dentro em mim
A bruta fera espúria; eu vejo enfim.

29422


“eu brandi o punhal dos assassinos,”
Regendo com terror o dia a dia
E tanto sobre a morte se faria
Num eterno dobrar de vários sinos,
Mesquinho este agiota, um torpe pulha
Da corja a mais venal camaradagem
Dos corpos, das rapinas quase um pajem
Virtude? Num palheiro, mera agulha.
À sombra desta vil caricatura
A morte desregrada dita a norma
E quando cada corpo se deforma
A face se transforma e mais impura
Um pária disfarçado entre mil párias
Searas produzidas, procelárias.

29423


“eu brandi o punhal dos assassinos,”
Riscando deste mapa uma esperança
Aonde pude ter torpe aliança
Os dias entre fúrias, pequeninos
O gozo das bacantes, prostitutas
As ânsias entre tantas desvendadas
Palavras tantas vezes malfadadas
Vontades mais atrozes ou astutas,
Resíduo do que fora corvo e fera
Rapina entre carcaças, carniceiro
Da morte a cada instante o mais fecundo
E fero lavrador, ser vagabundo
Por entre tais esgotos eu me esgueiro,
Maldito camarada do não ser,
Nefando verme em busca do prazer...



29424

“minha voz rouca murmurar:''Sou eu!"”
E quando se percebe a volta ao lar
O quanto se pudesse imaginar
Do todo que deveras se perdeu
Num átimo a mudança dita a forma
E tudo o que se fora já se esquece
Vivendo prazerosa e rara messe
O amor, somente o amor, pois nos transforma
O quadro que se vê neste momento
Em que se poder ver com claridade
Beleza e mansidão de novo invade
Deixando para trás dor e tormento
É como se eu pudesse renascer
Nas ânsias deste encanto em bel prazer.

29425

“da minha máscara irreconhecível,”
Transfigurada face pela incúria
Deveras contumaz a intensa fúria
Deixando no passado a tez terrível
Do quanto em dor e trevas fora feito
Percebe-se a mudança neste olhar,
E quando em novos trilhos soube achar
Um dia mais suave e satisfeito
Regado pela sorte em redenção
Podendo acreditar no puro amor
E dele tal aspecto tentador
Previsto nas entranhas do perdão,
Eu sinto-me decerto um novo ser,
E passo ao próprio Deus reconhecer.

29426

“E quando vires e expressão horrível”
Daquele que já fora mais suave
A sorte a cada tempo tanto agrave
Gerando este demônio que implausível
Agora adentra a casa onde nascera,
Criança tão amada e desejada.
Porém a vida molda a fera armada
Diversa da que tanto conhecera
O amor aonde agora dessedenta
Após angústias tantas, dura vida,
E quando se percebe esta guarida
Certeza de aplacar-se tal tormenta
E vivo finalmente esta esperança
No amor que pelo amor, amor alcança...


29427


“toda a miséria que me aconteceu”
Certeza de abandono em fúria e gozo,
O quanto no princípio majestoso
Traçando a cada passo imenso breu
E o vandalismo aflora esta verdade
Na podre face escusa da miséria
Arisca tempestade em vil matéria
O corpo a cada dia mais degrade
Uma alma que decerto da pureza
Em trevas e medonhas faces vê
Um mundo sem razões e sem por que
Tolhendo qualquer luz, fria incerteza
E quando a faca adentra o peito inerme
A sorte desvendada em cada verme...

29428


“de te mostrar nas rugas do meu rosto”
Sinais do quanto fora em temporal
Aquele ser audaz, atroz, venal
E nele se desvenda este desgosto
Repondo cada coisa em seu lugar
A podridão da face envilecida
Especular fantoche do que um dia
Envolto com carinho e alegria
Pudesse transformar a própria vida,
E não sabendo mais sequer o rumo
Do quanto pode ter e nunca teve,
Apenas a desgraça já reteve
Enquanto cada engodo agora assumo,
E vindo desta pútrida viagem,
Espero nesta casa uma ancoragem...


29429


“O direito de dar-te este desgosto”
Depois de tantos anos de abandono,
Retorno como fosse um cão sem dono,
Olhando cabisbaixo, amargo rosto,
Figura caricata, a alma suja
Nos tantos vis covis eu me entranhara
E quando vejo a face mansa e clara
A minha envelhecida garatuja
Envolta pelas tantas cicatrizes,
As marcas do passado, em tais punhais,
O peito destroçado em temporais
Nas mãos marcas tão feras dos deslizes
Aonde não pudesse mais viver,
A morte sendo enfim, maior prazer.


29430


“não sinto que me caiba este direito”
De ter sob meus olhos a pureza
Daquela que se dando em tal beleza
Um dia nos meus sonhos fez seu pleito,
Pudesse adivinhar o meu futuro,
Pudesse adivinhar a fera espúria
Talvez ainda assim, sem ter lamúria
Regasse com amor tal solo duro,
E perdoado ou não, mãe eu retorno
Procuro pelo quanto já perdi
E sei que ainda tenho vivo em ti
O amor, que é muito além de algum adorno,
A redenção procuro em teu amor
Mas sei que não mereço este favor...

Nenhum comentário: