domingo, 11 de abril de 2010

29438/39/40/41/42/43/44/45

29438

“E tu ficaste num silêncio frio,”
Ao ver minha partida há tantos anos
Na busca de prazer, ledos enganos
O tempo mais feroz ora desfio
Vagando pelas pedras, espinheiros
Singrando por tempestas prazerosas
Matando o que pudessem velhas rosas
Ainda destroçando estes canteiros
Roubando, ludibrio cada ser
Vertendo em podridão minha viagem
E nela qualquer brilho, tosca imagem
Tesouro sem valia eu pude ver,
Assim fui mergulhar nesta vazia
Seara feita em treva e hipocrisia.

29439


“fui para o mundo me deseducar”
A vida não permite a quem deseja
Além do que pudesse e se negreja
O rumo noutro tanto a se mostrar
Medonha face expondo a realidade
E tanto me perdi quanto sabia
Que a cada novo passo a galhardia
Aonde me criara se degrade
Deixando mera escória que caminha
Por entre os espinheiros, turvas águas
E neste emaranhado, tolas fráguas
Gerando a cada passo outra daninha
E rapineiro ser dos rapineiros
O mais feroz e atroz dos companheiros.

29440

“Fui esquecer o bem que me ensinaste,”
Matando por prazer, roubando os sonhos
E quando se mostrassem mais bisonhos
Os dias entre trevas e contrastes
Rasgando qualquer corpo em busca de
Prazer ou mesmo insânia, estupro e morte,
Assim ao se mostrar terrível sorte
Além do que deveras já se crê
A pútrida verdade mostra ruas
E delas só se aprende a ser pior
Ensinamentos torpes; sei de cor,
E quanto mais em almas podres, nuas
Retrata-se a verdade desta fera
Maior a tempestade que se gera.


29441


“Assim parti, e nos abençoaste”
Mesmo sabendo pútrido o caminho
Que tanto poderia em tosco ninho
Gera a hipocrisia e no desgaste
A corda arrebentando geraria
A liberdade em ares mais funéreos
Os dias a princípio mais etéreos
Transformam podridão em rebeldia
Factóides? Nada disso justifica
A faca no pescoço, a cocaína
A sorte quando assim já desatina
O quanto do passado modifica
Na bala, na senzala no puteiro
O mundo em face escusa, o verdadeiro...

29442


“ainda se volta para abençoá-la”
Depois de ter vendido uma alma espúria
E tanto se mostrando na penúria
Adentra com vergonha a velha sala,
Assim não poderia acreditar
Ainda num possível ressurgir
Matando desde sempre o meu porvir
A sorte a cada dia a destroçar,
Mesquinho caminheiro destes bares
Vagabundo canalha, podridão
Um barco sem destino ou direção
Fazendo dos prostíbulos altares,
Vestindo a face escusa da mentira
Apenas a mortalha como mira...


29443

“sorrindo, o rouba, e a velha mãe aflita”
Ao ver os descaminhos onde adentra
Com fúria quem a sorte em vão concentra
E trama a cada passo esta desdita
Afundo-me em terrível pantanal
A vida movediça não permite
Que possa se adentrar sem ter limite
Na imensidade feita em lamaçal
Um verme se mostrando em tez sombria
Calhorda disfarçado em ar sutil,
Efêmero prazer descobre então
E tudo transcorrendo em podridão
Deveras do que outrora se previu,
E o vil canalha toma cada espaço
E o quanto me ensinaste já desfaço.


29444


“Mas nesse instante uma mulher bonita,”
Ou mesmo a tentadora face exposta
Do quanto a minha imagem decomposta
Não pode acreditar e assim palpita
Satânico cadáver do que fora
No início do viver bela criança
Aonde houvera sombra de esperança
Imagem muitas vezes tentadora,
Apenas o demônio, caricato
E dele novamente se produz
Retalho do que tanto se quis cruz
E neste nada ser onde retrato
A morte ensandecida do menino
Que tanto se mostrara sem destino...


29445


“já podia ampará-la e compensá-la”
Mas quando a sorte dita outro caminho
A face do demônio em que me aninho,
A fúria sem ternura me avassala
E deixa como enorme cicatriz
Cada momento inglório que hoje vivo,
Aonde se mostrasse mais altivo
O mundo noutro tanto se desdiz
E o quanto do passado agora morto
E o quanto do futuro nada traz
O rosto caricato e tão mordaz,
Não tendo mais sequer um cais e um porto
Resume a minha história neste pouco
E dele este retrato, atroz de um louco...

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