domingo, 11 de abril de 2010

29446/47/48/49/50/51/52/53

29446


“Perder o filho quando, grande e forte,”
Gestado com amor e a vida toma
Aonde se pensara em rara soma
Em plena vida vê angústia e morte,
Cenário tão terrível se apresenta
E nele se descobre a insensatez
Diversa do que tanto ainda crês
O corte desta forma violenta
O peso de uma vida feita em luz
Destas vicissitudes vejo o quanto
Romântico caminho em desencanto
Aonde houvera sorte, mero pus
Mortalha da esperança em turva teia
Tecida por terrível mão, alheia.

29447


“Perder o filho é como achar a morte”
Ainda que se pense noutros dias,
Porquanto são inúteis fantasias
Nem mesmo o sonha ainda te conforte
Seguindo em tantas trevas, espinheiros
Das pedras feitas perdas nada vêm
Somente esta incerteza vive aquém
Do quanto poderiam teus canteiros
O corte infeccionado, a porta escassa
Imenso turbilhão, tal pesadelo
E como posso enfim aqui contê-lo
A vida não se vive e se esfumaça
No dia a dia, apenas a saudade
Lateja e ferroando nos degrade.

29448

“amar, cuidar, criar, depois... perder”
Sabendo que deveras não terá
O quanto sempre amara e desde já
Condena-se ao terror e ao desprazer,
Não posso mais fechar as minhas mãos
Abertas traduzindo a despedida,
Assim ao perceber tão turva a vida
Destino comparável ao dos grãos
Que o vento leva além do meu canteiro
E quando se fecundam refazendo
Momento doloroso ou estupendo,
Assim se renascendo o tempo inteiro
Mortalha representa novo sonho
Enquanto um nasce noutro decomponho...


29449


“Porque a sina das mães é esta sina:”
O renascer da vida tão distante
Dos braços que pudessem num instante
Trazer a sorte plena que fascina
Perdendo desde quanto já ganhara
E nesse carrossel o tempo passa,
Aonde se pensara, nem fumaça
Aonde quis a glória resta a escara,
Assim no refazer de cada história
A liberdade gera esta prisão,
E nela novos dias mostrarão
A sina tão querida, mas inglória
O ressurgir da vida exige o fim,
Renova-se deveras o jardim.

29450


“E me viste sumir pela neblina,”
Após as asas toscas que criei
Se agora do universo fiz a grei
Mortalha do passado te alucina,
O peso do viver é sempre assim,
A carga se dilui, mas sempre aumenta
E quando noutra vida se apresenta
Início de um terrível, torpe fim.
Morrer e renascer a cada parto,
Viceja noutra flor outra quimera,
E quando ressurgir a primavera
O tempo se mostrando agora farto
Permitirá sementes do futuro
Cevadas neste solo que é sempre duro...


29451


“dizendo adeus como quem vai morrer”
Por ter acreditado neste instante
Enquanto o meu passado é degradante
O mundo que virá trará prazer,
Assim ao me despir de cada fato
Vivendo tão somente o meu presente
Rasgando a velha roupa que vestira
Crisálida abandona e deixa em tira
A velha vestimenta e nada sente.
Resiste até que um dia noutra larva
A sorte se refaça e mostre a face
Da vida na verdade que inda trace
Por mais que te pareça mesmo parva
O quanto do passado ainda existe
Somente na amargura, se estou triste.

29452


“onde uma noite te deixei sem fala”
Sentada neste banco, olhar distante,
A vida desta forma se agigante
Enquanto de outra vida é vil vassala,
Assim ao se mostrar a face atroz
Do quanto poderia ser diverso
Nascendo para ser sempre disperso
Ainda se ouvirá bem perto a voz,
Por mais que tantas milhas navegaste
Por mais que em tantos sonhos foste além,
Presença de quem foi, decerto vem
O ser e o não estar: mero contraste?
Na casa que ficou ainda é vivo
Quem tanto de outros rumos é cativo.

29453


“Mãe! eu volto a te ver na antiga sala”
Presença que eterniza o quanto pude
Viver em alegria a juventude,
E agora tão distante a alma se cala,
O beijo que te dei em despedida,
As lágrimas e o riso de quem segue,
Enquanto a vida sempre em vão prossegue
A cada novo encontro outra partida,
Compartilhar as sortes? Nunca mais.
O mundo se transforma e não permite
O quanto a cada dia outro limite
Expondo nos meus olhos vendavais
E sei que em ti a vida dita o porto
De um tempo tão distante e nunca morto!

Nenhum comentário: