domingo, 11 de abril de 2010

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29454


“aí podereis com tempo consolar-me”
Depois destas desditas do passado
Aonde o tempo amargo vislumbrando
Não pode sequer ter qualquer alarme
E quando a realidade se aproxima
Domando cada passo rumo ao nada
Percebo todo dia a velha estrada
E dela se percebe o novo clima,
Mesquinhas trevas ditam o que fora
Decerto é tão difícil caminhar
E tendo mais distante algum lugar
Uma alma tantas vezes sonhadora
Não sabe se consegue novo brilho,
E insano sem destino, ainda trilho.


29455


“ou, convertido em água aqui chorando,”
Já não comportaria algum momento
Quem tanto se mostrando em desalento
Não sabe de outro rumo e vai nefando
Ganhando a cada dia outra senzala
E dela se porfia este vazio,
Ainda que deveras saiba o rio
Sem foz, a minha vida então se cala,
Não posso ter a voz que tanto quis
Nem mesmo acreditar em nova história
Se o quanto demonstrando falsa glória
De quem se fez do todo, um aprendiz,
E quando me percebo solitário
Amor, um caricato imaginário...

29456

“não podereis de lástima escutar-me,”
Já que tantas vezes dita a minha sorte
Apenas o vazio, e se conforte
A vida preparando este desarme
E nele poderia ser feliz
Traçando com ventura um novo dia,
E quando se percebe a fantasia
Diversa do que tanto mais eu quis
Não posso condenar-me à solidão
Nem devo disfarçar meu passo rumo
Ao quanto a cada verso mais me esfumo
Traçando tão somente a indecisão
Vestindo esta quimera em dores grises,
Apenas coletando os meus deslizes.


29457


“pouco vos detereis, do modo que ando:”
Já que tanto libertais o pensamento
E quando mais aquém eu me atormento
Querendo pelo menos bem mais brando
O quanto vós seria muito mais
Do que tanto pudesse o sonhador,
Na lira um tão inútil trovador
Encontra o que deveras derramais
E neste encanto raro que porfio,
Embrenho-me nas ânsias do futuro
E quando mesmo só eu me asseguro
Deixando para trás o quão vazio
Medonho caminhar em noite escusa
A sorte desde então numa alma inclusa.


29458

“vossas louras cabeças por fitar-me;”
Ourives da esperança a senda invado
E deixo para trás qualquer enfado,
A vida se transforma e pude dar-me
A luz que tantas vezes procurava
Por tantas ilusões, diverso rumo,
Errôneo caminheiro, pois assumo
A sorte mesmo quando é tola e escrava
Residualmente tenho ainda em mim
Fulgores de momentos que distantes
Ainda poderiam radiantes,
Mas aridez sonega algum jardim,
E sinto-me deveras neste insólito
Caminho como fosse um vão monólito.



29459


“deixai um pouco esse labor, alçando”
Momentos onde tanto poderia
Singrar com mais cuidado e galhardia
Um mundo mais suave ou mesmo brando
Alvissareira sorte se transforma
E doma o caminheiro sem destino,
E quando em vossos braços me fascino
O mundo em delicada e mansa forma,
Expõe a realidade que se trama
Navego por tão belos oceanos
E deixo no passado os desenganos
Mantendo do que fomos, mera chama,
E sendo-vos deveras mais fiel,
Em vós encontro o rumo para o céu.

29460

“os amores contando-vos e as vidas:”
Somando a cada dia eternamente
Permitem que se creia ou se demente
As ânsias tantas vezes esquecidas
Nas tramas mais sutis de um caminheiro
O mundo em vossos olhos traduzido,
Assim a vida doma algum sentido
E nela, com ternuras eu me inteiro,
Vencendo os dissabores mais vulgares
Vencendo os meus momentos mais ferozes
Ouvindo do passado mansas vozes
Estrelas maviosas, constelares.
Assim eu me permito acreditar
Ainda nesta noite de luar...

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