domingo, 28 de março de 2010

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27809

“E os trovões gritadores da dialética,”
Gerando sobre a morte mil discursos
Enquanto seguem sempre os cursos
Os rios mesmo em forma mais eclética.
Perdendo a direção da realidade
Sofismas, metafísicas e cultos,
Não vêm esta verdade nos seus vultos
E a troco do vazio ainda brade
Gestando estupidez em óbvia face
O refazer é claro e insofismável,
E nele como um ciclo inevitável
Não há como evitar algum impasse,
Diversidade dita qualquer norma,
Porém inquestionável: se transforma.

27810


“Sem os métodos da abstrusa ciência fria”
Eternamente escura a caminhada,
Gerado do vazio e decifrada
A história que deveras não nos guia.
Os mitos e os fantasmas do passado
Ainda vivem e traçam o futuro
Apocalipses rimam com tolices
E neles se percebem as crendices
Tomadas sem razões em solo escuro.
De deuses e demônios poluindo
A lucidez de quem tenta saber,
O que há, o que seria o ser, não ser
Se existe alguma poder que se infindo.
Ciência e consciência lutam contra
A mística que tem resposta pronta.

27811


“Pelas grandes razões do sentimento,”
Guiados sem pensar se existe ou não
Tocados dela vã religião
Buscando a qualquer preço algum alento.
Diversos caminhares, mesmo fim,
E a morte se tornando imprescindível,
O medo do final, é tão incrível,
Permite qualquer sonho, bom, ruim.
Demônios que criaram noções d’ética
Sacrossantas figuras divinais,
Gerando do vazio, temporais,
Diversos da resposta mais hermética.
Assim ao se perder tende ao eterno,
Vagando em paraíso, limbo, inferno...

27812


“Provo desta maneira ao mundo odiento”
O quanto nada somos frente ao todo
E tendo esta certeza lodo a lodo,
Da morte e só da morte me alimento.
Retroagindo ao nada após ter sido,
Também como alimento para outrem
O vento que partiu de novo vem,
E assim o meu caminho percorrido,
Eternidade? Leda fantasia
Ou crua realidade da matéria,
Incrível neste tempo de miséria
A fome com tamanha serventia.
Ocaso vai gerando novo ocaso,
O tempo tem que ter limite e prazo.


27813

“A aspereza orográfica do mundo”
Gerando em cordilheiras as respostas
Que encontro na verdade sempre postas
Nos abissais aonde me aprofundo,
Ascendo aos céus e sei quanto é mentira
Se a morte se refaz em vida e encerra
O ciclo sob a fria e dura terra,
Aonde o meu cadáver já se atira.
Prefiro ter visões da realidade
A crer noutros fantasmas egoístas,
Não tendo do futuro sequer pistas,
Só tenho esta certeza que degrade
Matéria se transforma na matéria
Religião jamais se fez mais séria.



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“À condição de uma planície alegre,”
Talvez inda pudesse ter no olhar
Esta esperança de outro renovar
E nela toda a sorte já se integre.
Mas quando poderia ter na crença
A solução tranqüila pro problema
Realidade vem e já me algema,
Um ser que na verdade ainda pensa
Já sabe muito bem que uma resposta
Jamais se conhecida deve ser
Bastante para dar algum prazer,
E nela a sua imagem decomposta
Somente traduzindo morte e vida,
Sem outra senda sendo percebida.


27815


“E reduz, sem que, entanto, a desintegre,”
Verdade inquestionável que ora vejo,
Além do que se fora algum desejo
Que inutilmente ainda venha e alegre.
Diversa fantasia que inebria
Uma alma tão carente quanto a nossa,
Por mais que da verdade já se apossa
Prefere caminha com fidalguia.
Se verme somos, nada impedirá
De vermes sermos, basta de indulgências;
Não quero deste “eterno” mais clemências,
Se tudo o que eu concebo vejo cá.
Não creio noutro tempo, nem preciso,
Deveras esgotado, o Paraíso.

27816


“Todo o fogo telúrico profundo”
Respondendo às questões que nos fazemos,
E nelas quando em fúria nos sangremos
Mostramos quão inútil, fútil mundo.
Asquerosas batalhas se percebem
Por nada que inda possa traduzir
A segurança tosca de um porvir,
Que crenças tão vazias já concebem.
Num passo mais audaz e verdadeiro,
Agigantado ser já se amiúda
E quando a fantasia se transmuda,
Veremos quanto o tempo é corriqueiro.
Gerar e mais gerar, regenerar,
O fim já se traduz no começar.

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