segunda-feira, 29 de março de 2010

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27957


“trazendo a campa dos cabelos brancos”
Em copos de cristais brindes de outrora
Especular imagem me apavora
E a vida; eu levo aos trancos e barrancos,
Aonde poderia ter a sorte
De um dia feito em paz já não consigo
O tempo sonegando algum abrigo,
Nem mesmo a experiência me conforte,
Jogado contra a imensa realidade,
A mocidade ausente, o fim pressinto,
O sonho a cada noite segue extinto,
Somente este vazio agora invade
E o medo de viver, tão temerário
Invade o coração de um solitário...


27958


“sobre o epitáfio dos teus olhos tristes”
A marca do que fomos e perdi,
O mundo se perdendo, então aqui,
Sabendo que deveras não existes
Caminho sobre pedras, espinheiros,
Os dias se passando e nada mais,
Festivos sentimentos? Se jamais
Os sonhos poderiam verdadeiros,
Infaustos caminhares pelas sendas
Aonde a treva toma num segundo,
E quando no não ser eu me aprofundo,
As sortes que vivera, meras lendas,
Morrendo a cada dia, não me resta
Sequer a luz em frágil, tênue fresta.

27959

“Rolarás por escarpas e barrancos:”
Em meio aos temporais, barco sem rumo,
O quanto deste amor que tanto assumo
Permite que se tenha em atos francos
Verdades mais capazes, mesmo quando
O quanto desejara se desfez
Ainda se propaga a insensatez
E o mundo que pensara se tornando
Atroz sem ter defesas, morro só,
Não pude conseguir sequer perdão,
As horas do futuro mostrarão
Desfeito da esperança cada nó,
E o vento que ora invade esta janela
O frio do futuro já revela.


27960


“à inclemência do tempo úmido e frio”
Batendo em minha porta já me alerta
Da sorte tão atroz quando deserta
E nela a mesma dor que desafio,
Medonhas madrugadas solitárias.
Senzalas e correntes, frágeis pés,
Aonde se pensara tais galés
Deveras não seriam necessárias
Somente alguma brisa mais suave,
Tocando no meu rosto poderia
Trazer à tona a velha fantasia,
Porém a cada tempo mais agrave
O quanto desejei e nada tive,
Minha alma, sem futuro, sobrevive.

27961


“abatido verás que não resistes”
Ao quanto deste encanto se perdeu,
O mundo que pensavas todo teu
Agora em dias tolos, toscos, tristes,
Açoda-te o vazio de um momento
Aonde não se pode perceber
Sequer alguma sombra do prazer
Tocado por terrível desalento,
Vestindo a fantasia da esperança
A mórbida figura do passado,
Vencendo qualquer luz ditando a sombra
E quando a realidade vem e assombra,
O medo há tanto tempo anunciado
Preconizando a morte em solução,
Matando o que restara de um verão.


27962


“E sentindo o teu braço então vazio,”
Jogado sobre mim, pensando em quem
Jamais outro momento inda contém
Deixando-te deveras neste frio,
Sentir tua presença mais ausente,
Amortalhada insânia me tortura
Nos olhos de quem amo, esta amargura,.
Vazio caminhar já se pressente,
E tendo todo o infausto de saber
O quanto é dolorida a caminhada,
Aonde poderia mansa estrada
Somente tempestade posso ver,
Colhendo cada fruto apodrecido,
O amor que tanto quis, morre no olvido.


27963


“amanhã, tudo triste... os dois sozinhos”
Já não percebo sorte aonde um dia
Deveras tanto sonho se porfia
Matando o que pensara serem ninhos,
Angustiadamente a vida passa
E o nada se transborda cala o sonho,
Imagem de um futuro tão medonho,
Ainda se mostrando em vã fumaça,
Assisto ao meu final e a cada verso,
Restando dentro em mim medo e terror,
Pudesse ter ainda o grande amor,
Que sinto a cada tempo mais disperso,
Jogada contra as ondas, minha sorte
Percebe tão somente o fim, a morte...

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