domingo, 28 de março de 2010

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27833

“E autopsiando a amaríssima existência”
Percebo tão somente o mesmo nada
Realidade torpe já degrada,
Religião tentando ser ciência.
E tendo consciência do que somos,
Apenas passageiros de um vazio,
Aqui a cada verso ora desfio,
Tentando decifrar os vários gomos,
Não posso me calar frente ao sarcasmo
De quem vende ilusões e se enriquece,
Sobrevivendo assim de cada prece,
Deixando se há um Deus, o mesmo pasmo.
Abutres, rapineiras e daninhas
Cordeiros entre ovelhas mais mansinhas...

27834


“A asa negra das moscas o horroriza;”
Mas saiba que serão as comensais
Do que pensara ser além e mais,
Porém nunca passou de mera brisa.
Assim entre estas larvas, tantos vermes
Destroços putrefeitos, tua herança
E deles renovando-se esperança
Senão apenas seres mais inermes.
Os vândalos que pensas; necessários
Também do vandalismo te alimentas,
O que talvez pareçam ser tormentas
Facetas tão diversas de corsários,
Deveras são tais deuses; geram vida,
Da carne sem valor, apodrecida.

27835

“Sente que megatérios o estrangulam”,
Mas na verdade veja com cuidado,
Apenas traduzindo qualquer fado,
Embora microscópicos, te engulam.
E fartam-se dos restos num banquete
Que há tantos na verdade propicias
Fazendo no teu corpo romarias
Não resta do teu sangue nem filete.
Esgarçam cada parte te desossam
Percebo enfim em ti, utilidades,
Por mais que em altos tons, grites e brades
Os deuses que criaste te destroçam.
E o pântano do qual tu foste feito,
Agora eternizando, último leito.


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“As alucinações tácteis pululam’
E fazem-te deveras pressentir
O quão inútil seja o teu porvir,
E tantas as riquezas que acumulam
As podres criaturas tão venais,
Esgoto do que fora a criação,
Se nela se mostrasse desde então,
O quão vazio o mundo em ares tais
E tudo não passando de um momento
Após outro momento, sucedendo,
Aonde tu fizeste dividendo
A pútrida verdade diz alento.
E o verme que tu foste que tu és
Devora da cabeça até os pés.



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“Que ele tem praticado na família”
Os mais pândegos sonhos, tão devassos,
E quando se percebem mais escassos,
A sorte não permite nem mobília
O vento da verdade; eu sei, banal
Não deixa qualquer dúvida, entretanto
Mais fácil e lucrativo um novo canto
E dele a realidade virtual
De um céu iluminado, inferno em lava,
Passivos os cordeiros tão ignaros
Não sabem quanto custam, pois são caros
Enquanto a “santidade” já se lava
Em águas perfumadas, olorosas
Insânias geram cenas pavorosas...


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“As incestuosidades sanguinárias”
Que, bíblicas transcendem qualquer deus,
Maculam os olhares, geram breus,
E neles as figuras temerárias
De deuses e demônios parecidos,
Ungidos pela mesma falsidade,
E quando a realidade ainda brade,
Ascendem-se com fúria tais libidos,
E humanidade segue sequiosa
De um dia mais tranqüilo, céu em paz,
Mas quando se criara Satanás
Um ágio gigantesco em tez viscosa
Fomenta este mercado feito em almas,
Trazendo para os crentes duros traumas.

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“Mostrando, em rembrandtescas telas várias,”
Histórias tantas vezes dolorosas
Deveras quando vejo imaginosas
Ao mesmo tempo sendo mais falsárias
Incutem variantes que, terríveis,
Não deixam ao vivente outra saída,
Senão de transforma a própria vida
Em moeda se expondo noutros níveis.
Assusta-me o poder desta gentalha,
Que tanto quanto pode negocia
E vende a qualquer preço a fantasia,
Um cancro tão temível que se espalha.
A podridão expressa em cada tela,
Negociata espúria me revela.

27840

“- Macbeths da patológica vigília,”
Herdeiros dos primeiros sacerdotes,
Pensando tão somente em ricos dotes
Dominam todo o clã, toda a família.
E bebem deste sangue apodrecido
Gerado por total estupidez,
Enquanto em tais heréticos tu crês
Teu corpo a cada esquina é consumido.
Jogatinas usando de evangelhos
Distorcem qualquer coisa que se creia,
E engolem com a gula da baleia
Cadáver se expondo: escaravelhos.
E assim se decompõe a realidade
Que a cada nova crença se degrade.

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“É a fauna cavernícola do crânio”
Que gera a vida envolta noutra vida
E quando a consciência e consumida
Por mais que tanta glória ainda ufane-o
O ser tão poderoso exposto ao verme,
Encontra-se deveras bem mais útil,
A divindade eterna, sendo fútil
Já não traduz o corpo agora inerme,
Esboça-se talvez a reação
De quem tão humilhada e destroçada
Natura pelos homens deformada
Renova em divindade a criação.
Espúrio ser, cadáver da esperança
O homem ao banquete assim se lança.

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