28454
“Teu sangue transuda e cheira”
Nada aquieta o coração
De um cigano em direção
Sem ter eira e menos beira
Segue assim estrela e céu
Navegando espaços tais
Entre raios magistrais
Desta lua, seu corcel
Não segura num galope
Verdes matas, verde encanto,
Quando se vence quebranto
Qualquer pedra que se tope
No caminho nada vale,
Seja montanha ou no vale.
28455
“leva tua camisa branca”
Bandoleiro coração
Sem perder a direção
A verdade já desanca
E carrancas ignorando
Nada teme nada vê
Se procura sem por que
Desde sempre e desde quando
Verdejando lua mansa
Nos sertões e na cidade
Só conhece liberdade
Só conhece esta esperança
Verde rama, verde sonho,
Onde o futuro eu reponho.
28456
“Trezentas rosas morenas”
Olhos livres no canteiro
Segue o ritmo corriqueiro
Revivendo antigas cenas
E sem nada senão isso
Liberdade ganha o vento
Toma todo o pensamento
E neste encanto já me viço
Quando quero sem algema
Não mergulho no passado
Vendo o dia vislumbrado
Do futuro nova gema
Servidão eu desconheço
Cavalgando sem tropeço.
28457
“desde o peito até a garganta”
Desde o chão até a lua
Nova senda continua
Quando a voz já se levanta
Vence todo temporal
Caminhando no vergel
Verde mundo em carrossel
Verde tempo, o milharal
Sob o sol brilhando tanto
Radiando o verde louro
Parecendo nascedouro
Do meu sonho em belo canto
Canto verde, pois liberto
Esperança não deserto.
28458
“Vês a ferida que tenho
Vês a marca no meu peito
Na verdade contrafeito
Já não faço mais empenho
Vou vencendo por vencer
Se preciso derrotado
Nada faço contra o fado
Libertário desdizer
Do futuro em verde rama
Do passado em lua plena
Repetindo a velha cena
Esperança já me chama
Verde mata, verde trança
Verde canto, o tempo avança.
28459
“com os lençóis de cambrai”
Minha cama em prata e lua
A morena rosa nua
Coração nunca me trai
Vê no verde do presente
Vê na prata do futuro
Só não vê temor e escuro
De algum medo sigo ausente,
Nas estrelas, ganho o brilho
Nas cidades ganho o céu
Liberdade diz corcel
Alma livre de andarilho
Na morena rosa sinto
Verde tom no qual me tinto.
28460
“de punhal, se pode ser”
De sangria na garganta
Desde quando se garanta
O caminho a percorrer
Liberdade se é preciso
Muito além de navegar
Verde terra vê luar
E decerto o paraíso
Vou selando o meu corcel
Galopando em ventania
O passado não me guia
Nem estrelas ditam céu
Sem destino, um andarilho
Desatino quando trilho.
28461
“decentemente na cama”
Do punhal ou bala e tiro,
Quando o sonho já retiro
Verde já não dita a trama
Mas verdejo quando vejo
O meu ruma em prata e lua
A morena bela e nua
Traduzindo algum desejo
E o cigano pela estrada
Cavaleiro da ilusão
Bebe cada direção
E no fim não resta nada
Só talvez este vergel,
Onde guardo o meu corcel.
28462
“— Compadre, quero morrer”
Onde nasce a lua mansa
A saudade da esperança
Contrastando com sofrer
Dita o rumo e cavaleiro
Que não teme nem a morte
Deste verde faz o norte
E mergulha por inteiro
Lua inteira, lua cheia
Nada deixa de brilhar,
No caminho por trilhar
Tanta frágua me incendeia
Vejo assim verde esperança
Nela um verde em aliança.
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