27825
“Que é talvez propriedade do carbono”
A vera divindade onde eterniza
A vida muito além e concretiza
Um ente sendo essência e soberano.
Não creio noutra forma senão esta
Que tanto se parece inferior,
Mas dela a todo novo decompor
Enquanto assim a morte, vida gesta.
E desta realidade incontestável
Nenhuma destas crenças usuais
Permite que se veja onde jamais
Pudesse ser o tempo tão findável.
Morrendo e renascendo a cada instante,
O eterno ser disforme se garante.
27826
“Essa necessidade de horroroso,”
E pútrido caminho: redenção
E nele a morte encontra a solução
Portanto se transforma dor em gozo,
Geração após traça outra verdade
E transformando o pútrido em viver
Renova-se deveras cada ser
A cada novo tempo se degrade
E traz no olhar certeza mais profunda,
Do etéreo caminhar por sobre a terra,
E assim mal começando já se encerra
Enquanto a realidade se aprofunda
Na morbidade feita em luz sombria,
E nela a própria vida se recria.
27827
“Na própria ânsia dionísica do gozo,”
Respostas para a dita divindade
Gerada pelo fogo que mais brade
Tornando este repasto prazeroso,
Não crendo noutro tempo mais feliz
Tampouco num castigo após a morte,
Já não preciso mais que me conforte
Aquilo que deveras contradiz,
Paraísos em formas mais dispersas,
Alhures o que tanto vejo aqui,
Não quero perceber se já perdi
Nem mesmo sobre o quanto ainda versas,
Somente o fardo inútil que carrego,
E teimo quando um deus disforme nego.
27828
“Reconhecendo, bêbedo de sono,”
Herméticos caminhos que porfio,
E neles se percebe o desafio
Que a cada amanhecer eu abandono.
Percalços encontrados no caminho
Já não mais justificam as mentiras,
Nem mesmo que se tenham vivas piras
Aonde em doce alento já me aninho.
O prêmio ou um castigo tanto faz,
Jamais eu poderia precisar
Tampouco deste intento transformar
Futuro em tempestade, gozo ou paz.
Acordos; não suporto nem mendigo,
Não quero temporal sequer abrigo.
27829
“E a consciência do sátiro se inferna,”
Enquanto a do mais crente se eterniza
E quando a realidade demoniza
Uma alma busca apoio na caserna
E tudo não passando de ilusão
Castrando o que devia ser real,
Traçando sobre o bem e sobre o mal,
Os dias e os momentos que virão,
Da leda fantasia se alimenta
A mente humana feita em cores várias
As sortes são deveras temerárias
Por vezes noutra face violenta.
Mas quando se desnuda e nada tem,
O peso do viver; conheço bem.
27830
“Míngua-se o combustível da lanterna”
A cada desengano ou mesmo morte,
Não tendo quem deveras dê suporte
A sorte noutro rumo já se interna,
Não posso sonegar toda a verdade
Inútil caminhar contra a corrente,
E mesmo quando o encanto já se ausente
Mais forte dentro em mim, a vida brade.
Nefastos amanhãs, podre carcaça,
Somente o que me resta, terra e vão,
Assim ao perceber tal direção
Uma esperança tola se esfumaça.
Eternidade? Mero afago tolo,
Confeito sobre um podre e falso bolo.
27831
“E três manchas de sangue na camisa”
Traduzem a verdade insofismável,
O quanto se pensara em agradável
Caminho que deveras eterniza
A realidade mostra noutra face
Que tudo não passando de tão fútil
Delírio que deveras se faz útil
A quem possa saber o quanto trace
Mentiras são apenas lenitivos
E nada se mostrara tão fatídico
Desde que se criara o mito ofídico
Os sonhos são deveras mais altivos.
Serpentes, paraísos e castigos,
São na verdade toscos desabrigos.
27832
“Encontra um cancro assíduo na consciência”
Herméticos delírios de uma turba,
Que tanto quanto pode mais perturba
Gerando prêmio ou mesmo penitência.
Assim caminha e ganha a liberdade
Quem pensa ser escravo do futuro,
Ainda que se veja bem mais duro
O solo que deveras nos degrade,
Putrefação transforma a vida em vida
E a morte não passando de momento,
Se dela a todo dia me alimento,
Não vejo mais a senda assim perdida,
Um deus se aproximando punitivo,
Diverso do que creio ou mesmo vivo.
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