sexta-feira, 2 de abril de 2010

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“As vagas que deixa após”
Um moderno navegante
Como fora algum farsante
São somente destes pós
Que deveras entre tantas
Cinzas vejo no horizonte,
Sem ter nada que desponte
Na verdade em turvas mantas
Os destinos se traçando
No vazio e tão somente,
O que houvera de repente
De um momento bem mais brando
Se transforma em solidão,
Nada tendo desde então.

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“Saudosa bandeira acena”
De um passado ainda vivo,
Meu olhar procura, esquivo
Qualquer hora mais serena,
Mas não vendo nada além
Do vazio nesta sebe
Tão somente e já percebe
O que o nada ora contém,
Solitário navegante
Sem sequer tripulação,
Condenado à solidão
Num cenário vil constante
Perde o rumo, se não há?
O que exista aqui ou lá?

28360

“Presa ao mastro da mezena
Deste barco sem futuro
A bandeira em que perduro
Não será decerto amena,
O pendão já destroçado
Tudo cinza e nada mais,
Dos vergeis tão magistrais
Dos meus dias do passado,
Tão somente espúria treva
E deveras nada além,
O que tanto o nada tem,
Do vazio não se ceva,
Mergulhando neste sonho,
Prosseguindo em ar medonho.

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“Como golfinho veloz”
Sobre as ondas do passado,
Ao me ver tão desgraçado
Procurando velhos nós
Nada vendo, sigo assim,
Servidão do nada ser,
Nesta ausência do viver,
Que faço agora de mim?
No semblante doloroso
Numa face sem sorriso,
Este inferno tão preciso
Onde outrora majestoso
Dita assim um frio verso
Num estúpido universo.

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“Resvala o brigue à bolina”
Segue o rumo do vazio,
Nada tendo, nada crio,
A minha alma desatina
Bebe a pútrida ilusão
Que se vê em cenas vis,
Onde outrora fui feliz,
Vejo roto este pendão
Deste solo em aridez,
Desta terra sem futuro,
Deste solo frio e duro,
Toda a história se desfez,
E o que tanto desejei,
Morre em triste amarga grei.


28363

“Cantai! que a morte é divina”
O que resta ao navegante
Que se fez em vago instante
E deveras se alucina,
Nada resta tão somente
O final em voz sombria,
Este sonho não se adia
E deveras se consente,
Alegria derradeira
Neste funeral vazio,
Meu caminho que desfio,
Sem sequer sonho ou bandeira,
Nesta imensa solidão
É de fato a solução.

28364

“Que lhe ensina o velho mar”
Onde possa ter um cais,
Em cenários magistrais,
Teima e tenta navegar,
Mas ausente cada gota
Nada resta nem o sal,
O que fora triunfal
Numa imagem morta e rota,
Formidável solidão
Caminhada pelo espaço
Sem sequer um rumo ou traço
Passo os dias desde então,
E a fogueira esta fumaça
Essa sim, nunca mais passa.

28365


“Ama a cadência do verso”
Quem deveras quis esta arte,
Mas agora em Novo Marte
Solitário este universo,
Sem ter quem possa me ouvir
Minha lira se calando,
Esperança em frágil bando
Numa ausência de porvir
Corta fundo o medo, apenas,
Os delírios de um poeta?
Onde a sorte se completa
Poderiam ter serenas,
Mas completa insanidade,
Quando o ocaso chega e invade.

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“Donde é filho, qual seu lar?”
Nada tenho do passado,
Se não tenho este legado
Nada mais vou encontrar,
Acidez de um solo bruto
Aridez de uma alma vil,
O que outrora se previu
Traduzindo eterno luto,
Nada deixa senão resto
E o cenário em dores feito,
Cada sonho já desfeito,
O que tenho em tom funesto,
Geração da morte apenas,
Devorando frias cenas.

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“Que importa do nauta o berço,”
Que importa se o ledo chão
Nada tem seguindo em vão
Dita a vida em tom disperso,
Mergulhando no passado
Nada vendo no futuro,
O meu canto se procuro
Não seria anunciado
Sorte ausente em podres dias,
Onde houvera luz e clara,
A verdade se declara
Sem sequer mais poesia,
E a mortalha se mostrando
Num momento tão nefando.

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