quinta-feira, 1 de abril de 2010

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28236


“...Adeus, amores... adeus!...”
Nada resta do passado
Este mundo desolado
Envolvido em dor e breus
Não permite sequer canto
Nem tampouco uma alegria
Solidão que desafia
Nela em puro desencanto
Penetrando em solo escuro
Nada resta, tão somente
O vazio por semente,
O vazio por futuro,
Sendo assim, dos meus amores
Já não tenho mais albores.


28237

“.Adeus, palmeiras da fonte!...”
Nada além de um solo frio,
Do deserto este vazio
O grisalho no horizonte
Tanta bruma aonde outrora
Azulejo se mostrara
Desta senda bela e clara
Nem lembrança nos decora,
E devora o desespero
Toma conta e quando invade,
Ao gerar a tempestade
Traz consigo o destempero,
Solitário caminheiro
Vendo só fogo e espinheiro.




28238

“Adeus, ó choça do monte,”
Nada resta, nem ao menos
Os momentos mais amenos
Água limpa em bela fonte,
Destroçado vejo o dia
Não se vê sequer o brilho,
Dominando o escuro trilho
Os ares de uma agonia,
Morte feita em solidão
Caminhando em treva e dor,
Poderia então compor
Novo tempo ou estação,
Mas as feras, digo um homem,
Pouco a pouco te consomem.


28239

“Cisma da noite nos véus”
Bela lua sertaneja
Traduzindo o que deseja
Quem não quis os fogaréus,
Mas a força do dinheiro
Bem maior do que esperança
Apontando a fera lança
Destruindo por inteiro
O que fora mais sutil,
E deveras se desmata,
Sorte vã em terra ingrata
Tão diverso fim se viu,
Onde houvera natureza,
Nem água, nem correnteza.

28240


“Quando a virgem na cabana”
Iracema de Alencar
Encontrara um verde mar,
Noutra terra soberana
Não podia nem saber
Nem tampouco traduzir
Uma ausência de porvir
Nesta sede de poder,
Vejo a morte e nela traço
Com terror imenso um verso,
O caminho então disperso
Feito em nó, em fogo em aço,
Veste apenas o vazio,
Que deveras já recrio.



28241


“Passa um dia a caravana,”
De terrores sendo feita
Toda a terra já desfeita
Em furor seguindo insana
Navegando sobre o nada,
Se percebe este deserto,
O caminho agora aberto
Onde a mata era fechada
Espelhando em fina areia
O futuro do planeta,
Tanto engano se cometa,
Dilacera corpo e veia
E sem sangue, sem futuro,
Solo morto, amaro e escuro.

28242

“Viveram moças gentis”
Homens fortes, sonhadores
Nos jardins diversas cores,
Um momento mais feliz,
Mas a fúria toma tudo
E se em fogo me transmudo
Vou fazendo o que bem quis
Nada resta do que outrora
Se pudera acreditar,
O vazio a desenhar
Sem a luz, ausente aurora
Morte traça dia a dia,
Terra em dor, farta agonia.



28243


“Nasceram crianças lindas,”
Mas agora em triste aborto
Natureza perde o porto,
Onde as dores são infindas
A mortalha a recobrir
Cada sonho que inda existe
Um futuro amargo e triste
Solitário este porvir,
Nada havendo nem a luz
Segue assim a tua sina,
E esta mão quando assassina
Só vazio então produz,
Sangra a terra e se agoniza
Tempestade areia; avisa.

28244

“Das palmeiras no país,”
Que falava outro poeta
Nada resta, a fina seta
Do terror tudo desdiz,
Morte em forma de futuro
Navegando sem ter cais
Das florestas magistrais,
Tão somente um solo duro,
Geração pós geração
Nada resta, nem o brilho,
Quando o amor este andarilho
Já não vê mais solução,
Esperança se perdendo,
Treva onde um sol estupendo.

28245


“Lá nas areias infindas,”
Do deserto brasileiro
Tanta dor, um mensageiro
Do passado em cores lindas
Se perdendo em tanto gris
Nada sabe, nem conhece,
Não se vê sequer a messe
Onde outrora quis feliz,
Geração do nada ter,
O presente se lançando
Ao vazio desde quando
Fala forte este poder,
E o calor de uma esperança
No vazio ora se lança.

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