28471
“sonhando na onda amarga”
Nada temo nem tempestas
Onde verdes de florestas
A minha alma não embarga
Segue sendo libertaria
Nada mais pode parar
Sob os raios do luar
Caminhada temerária?
Não conheço tal desdita
Não conheço nada além
Do que tanto me convém
E a esperança verde dita
Na cigana maravilha
Alma solta sempre brilha.
28472
“Ela está em sua varanda,”
Eu percebo lua intensa
Vou buscando a recompensa
Feita em brilho e já desanda
Coração aventureiro
Não sossega no meu peito
Verdejando neste pleito
Pode ser o derradeiro
Da senzala nada vejo
Nem sequer outro momento
A poeira toma assento?
Não conforme o meu desejo
Verdes dias são constantes
Nos meus sonhos verdejantes.
28473
“mas quem virá e por onde;”
Tanto faz desde que venha,
A fogueira dita a lenha
Lua minha não se esconde
Verdejando em pratas feita
Caminheiro diz cigano
Na verdade se me ufano
Alma segue satisfeita
Carrosséis vencendo o medo
Vestígios da bala em mim,
Vou chegando e bebo o fim
Desvendando algum segredo
Cedo ou tarde, nunca mais,
Não me escondo em vendavais.
28474
“eriça suas pitas ágrias”
Nada teme nem ventura
Na verdade até procura
Dores quando cedo trague-as
Coração aventureiro
Segue em rumo mais incerto
Bebe sonhos do deserto
Verdejante caminheiro
Na procura destas ramas
Lua traça em prata o ninho
Se deveras vou sozinho
Logo cedo me reclamas,
Tramas tantas desencantos
Encontrando em mil quebrantos.
28475
“e o monte, gato gardunho”
Escondendo a lua cheia
Quando logo se recheia
Neste verde que eu empunho
Traça em prata este vergel
Matagais, florestas, tantas
Ramas belas, verdes mantas
E o meu mundo em carrossel
Vago entranhas das estrelas
Bebo as luzes que polvilha
Lua cheia em farta trilha
Alegrias posso vê-las
E bebê-las, pois decerto
O meu rumo não deserto.
28476
“com a lixa de suas ramas”
Espinheiros mais agudos
Dias fartos ou miúdos
Traçam velhas, novas tramas
Esperança se bendita
Pouco importa o fogaréu
Galopando este corcel
A presença sempre dita
O costume do cigano
De ter sequer paragem,
Coração vira estalagem
Traz mudança neste plano,
Liberdade reconheço
Já conhece este endereço.
28478
“A figueira arranha o vento”
Nada impede este caminho
Se deveras eu me aninho,
Nada pode o sofrimento
Desalento nada sei
Esperança dita o mundo
E da prata que eu me inundo
Inundando toda a grei
Caminheiro um andarilho
Polvilhado em verdes tons
Sabe dos momentos bons
E decerto segue o trilho
Desta lua prateada
Bebe à farta, nesta estrada.
28479
“que abre o caminho da alva”
Sol ditando brilho intenso
Na verdade lua penso
A certeza que me salva
Nada além do verde prata
Que deveras bebo agora,
Quando o coração decora
A verdade sendo ingrata
Forja nova correnteza
Bebe incerto caminhar
Mas sabendo do luar
Desfrutando tal beleza
Verdes olhos, verdes tramas,
Sei que enfim já nem reclamas.
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