quinta-feira, 1 de abril de 2010

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28189

“Que o pavilhão se lave no teu pranto,”
Após não restar nada, só o vazio
Apenas nestes versos eu desfio
O quanto trago em mim, tal desencanto,
Vencida a voz de quem tanto lutara
Perdida uma esperança a cada dia,
Mergulho neste nada que se cria,
A noite não será de lua clara,
A morte feita em treva se aproxima,
A terra se exaurindo, gera a fome,
E quando o verde eu vejo, aos poucos some,
Aonde se escondera nossa estima?
Vagando em terra escusa e mais agreste,
Diversa da que outrora tu nos deste.

28190


“Silêncio. Musa... chora, e chora tanto”
Ao ver já destruída a Mãe Natura,
O fardo que deveras se assegura
Ocaso se mostrando qual quebranto,
Percorro estas entranhas, vejo enfim,
O quanto se destrói sem serventia,
A morte a cada passo mais me guia
Aonde houvera outrora algum jardim,
Nefasta se afigura a torpe imagem,
Atípicos demônios nesta sebe,
E o quanto do vazio se concebe
Tragando com furor a paisagem,
Um árido caminho dita a sorte,
Da vida em plenitude, vejo a morte.




28191


“Que impudente na gávea tripudia”
Por sobre mares turvos, poluídos,
Os dias noutros tantos vãos perdidos,
E apenas se moldando a sorte esguia,
Erguendo a cada passo a morte eu vejo
E tanto se percebe o ritual
Que um dia se prepara, ato final,
E nele se mostrando torpe ensejo,
Marcando com furor a nossa história,
Gestando alguma pútrida farsante,
Aonde houvera luz de um diamante,
A lua se mostrando merencória,
Quem poderá deveras dirimir
O medo de um nefando e mau porvir.

28192

“Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,”
Com os tons já embaçados num mosaico,
Aonde se pudesse em paz, prosaico
Caminho dita a sorte mais funesta,
Perece a cada golpe do machado,
Sangrando em moto-serra algum futuro,
O gesto tão diverso que procuro,
Ditame mais feliz de algum passado,
Mas nada do que posso perceber
Traduz alguma chance, nada disso,
Apenas paz e luz, o que cobiço,
Somente posso ver o desprazer
De ter a minha terra solapada,
E a vida traduzida neste nada.



28193


“Em manto impuro de bacante fria,”
A terra destroçada se percebe
E aonde poderia nesta sebe
A claridade aos poucos se esvaia,
Sedentos e nefastos caminheiros,
Gerando invés de flores, dores tantas,
E quando tu concebes e levantas,
Apenas restarão vis espinheiros,
Jazidas em jazigos transformadas,
As ânsias de um momento bem melhor,
Morrendo a cada dia onde o menor
Traduz as novas luzes d’alvoradas.
Espúrio com certeza o teu legado,
Diverso das promessas do passado.


28194

“E deixa-a transformar-se nessa festa”
Orgástica loucura tão venal,
Poder se transformando na banal
Medonha criatura que se gesta
Negando algum futuro para quem
Depois de tantos anos não pudera
Conter a imensidão da torpe fera
Negando ao que deveras inda vem
A sorte de tentar outro caminho
Diverso deste estúpido e mordaz,
O passo se mostrasse mais audaz,
Quem sabe algum canário tenha um ninho,
Chagásica esperança se afilando,
Apenas das rapinas, tosco bando.

28195


“P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia,”
Nem mesmo alguma mata; eu vejo após
Um ato tão terrível quão feroz
Que à própria natureza desafia,
Escárnio? Vilipêndio tão somente
Assisto à derrocada desta terra
Que há tanto uma esperança ainda encerra,
Negando um solo bom à vã semente,
Ausente dos meus olhos a alvorada,
Fumaça se tornando a cor do céu
Futuro se moldando mais cruel,
Restando a terra nua e desolada,
Jazendo o que talvez pudesse ser
A salvação de um mundo em vil prazer.

28196


“Existe um povo que a bandeira empresta”
Para o furor terrível dos farsantes
E vejo noutros dias os brilhantes
E verdes caminhares da floresta,
Agora nada havendo, só deserto,
Areia invés do verde que inda havia,
Diviso com terror, melancolia,
O coração se mostra ainda aberto
E teima contra a fúria mais nefasta
De quantos e temíveis vãos grileiros,
Os cortes são profundos e ligeiros,
A sorte a cada morte já se afasta,
E assim ao se perder verde esperança
Ao que, por que e quando enfim se lança?

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