27932
“De todas as espécies sofredoras.”
A culpa sempre ronda aquela que
Achando-se maior ainda crê
Com garras tão terríveis, corruptoras,
No quanto seja mesmo um próprio deus
Dominando universo, pobre cão,
Aonde se negara qualquer grão,
Prefiro ter meus olhos mais ateus,
E passo a acreditar em Satanás
Com a face diversa da que trazes,
No quanto suas presas são audazes,
No quanto ele destroça e já desfaz,
Humana esta faceta, com certeza,
Imagem que sugere esta torpeza.
27933
“A solidariedade subjetiva”
Ainda poderia dar um fim,
No ocaso que se vê, mas nada enfim
Calando a criatura tão altiva,
Ogivas e fantasmas, seus fantoches
E neles expressões de sordidez,
Enquanto se pintando o que tu vês
Ainda fazes troças e deboches,
Assim ao terminar a vida aqui,
Um deus já destruído e destroçado,
Inerte sem futuro, e sem passado,
Assassinado agora e é por ti.
Deixando como herança este vazio,
Que agora em ledos versos, eu desfio.
27934
“Como um dorso de azêmola passiva,”
Apenas se mostrando em frágil face,
A vida não passando de um impasse,
De morte a cada dia mais se criva.
O quadro assustar já se afigura
As novas gerações não mais verão
Tampouco poderão saber do grão,
Na noite que virá; bem sei, escura
Escusa imagem, ledo patrimônio,
Herdade que deixaste, mas não vês
E mesmo que inda veja sem talvez
Lutar, tu participas, vil demônio,
E assim ao se fazer final eclipse
Tu criarás o tal apocalipse.
27935
“E trago, sem bramânicas tesouras,”
A crua realidade em luz sombria,
Aonde a praga enorme já porfia,
As horas sempre sendo morredouras
Não deixam que se veja algum alento,
Esgota-se a natura a cada instante,
Imagem tão venal, pois degradante
Trazendo para tantos, sofrimento
No reinado do estúpido senhor
Maior que o próprio deus que já criara,
A fera aumentando a enorme escara,
História milenar a decompor,
Somente este destroço sobre a terra,
Capítulo final, assim se encerra.
27936
“- O metafisicismo de Abidarma –“
As crenças de momentos tão diversos,
Não cabem na verdade nos meus versos,
A realidade dura me desarma,
Aonde houvera vida, neste instante,
A morte sem saída já se vê,
O quanto disto tudo tem por que,
Riqueza com poder, tudo agigante,
Prostituindo a mãe que gera a vida,
Deidade destroçada, não restando
Sequer algum momento bem mais brando,
Prepara-se afinal a despedida,
E o vento do vazio no futuro,
Cobrindo este planeta opaco e escuro.
27937
“Na existência social, possuo uma arma”
Palavra que talvez modificasse,
Mas quando se percebe vil impasse,
Não posso sonegar sequer o carma,
E vejo este momento agonizante
Aonde a vida morre sem defesas,
Assim dos homens, todos seres, presas
Não valem nem sequer um mero instante,
Avassalador demônio está
Numa alma transtornada por poder,
Mostrando-se desnudo me faz ver
Que tudo destruído desde já
Deserto em fina areia toma a Terra,
Melancolia plena, a paz soterra...
27938
“E a miséria anatômica da ruga”
Não basta para crer-se tão finito,
Degenerando a vida, eterno rito,
Não deixa escapatória sequer fuga,
A divindade feita em natureza
Assola-se deveras pelo cão,
Que ainda preconiza punição
E gera por si só farta vileza.
Nefasta criatura que venal
Não deixa que se veja alguma paz,
E quando estes destroços; ela traz
Num tenebroso e agreste ritual,
Já não comportará uma esperança,
E a morte sem remédio invade e avança.
27939
“O amarelecimento do papírus”
A tosca realidade dos pequenos
Enquanto dos gigantes os venenos
Destroçam mais que algum intenso vírus,
A história revelada do que fora
Não deixa qualquer dúvida o demônio
Domado por ganância e pelo hormônio
Demarca com a fúria tentadora
Caminho para o qual se precipita
Humanidade inteira, e toda a vida
Que ainda resistindo e já perdida,
Deveras tão somente inda palpita,
A pútrida verdade; vislumbrando
E a cada novo dia deslumbrando.
27940
“Que produz, sem dispêndio algum de vírus,”
A morte em série após tal temporal,
E quando se mostrando triunfal,
Supera qualquer forma de anti-vírus
Gerando o genocídio entre outros tantos
Terrores, demoníaca figura,
Diverso desta sorte que procura,
Apenas tão somente desenganos,
Assisto à derrocada do planeta
E vejo o que jamais imaginara,
Enquanto este vazio se escancara,
Ausente uma esperança, vil cometa.
E todo este final se aproximando
Satânico terror nos dominando.
27941
“- Esta universitária sanguessuga”
Que explora toda a senda, mal se importa
Se ainda havendo luz atrás da porta,
Enquanto houver a força tudo suga,
E trama a discrepância que transforma
A sorte do planeta em que ora habita,
Deveras criatura tão maldita
O que restara ainda já deforma,
E segue sua sina, Satanás
Não deixa sobrar pedra sobre pedra,
A fera mais audaz, decerto medra
Ao ver esta figura tão mordaz,
Aonde houvesse vida, nada resta,
Somente esta paisagem, vã, funesta.
27942
“Não conheço o acidente da Senectus”
Tampouco uma explosão que devastasse
Não deixando restar sequer a face
Quanto a que produziu o homem erectus
Se houvesse um criador inteligente
Jamais teria enfim gerado esta arma
Que condenando a vida a triste carma,
Deveras da esperança tão ausente,
Não posso acreditar nesta dantesca
Imagem que se fez de um pai qualquer,
Anômala carcaça aonde houver
Destroça qualquer forma animalesca,
Devastações após devastações
Da vida nem sequer emanações.
27943
“Pairando acima dos mundanos tetos,”
Imagens do que fora outrora vida,
Desaba sobre as casas, despedida,
Invadem todo o espaço vis insetos,
E mesmo após o fim não restarão,
Atômica explosão, calor enorme,
Ou gélido cenário que, disforme
Os corpos decompostos cobrirão,
E assim num pesadelo finda a história
E o deus também já morto, natureza,
Somente nos restando uma certeza,
Experiência vil e merencória.
Escória das escórias; ser venal,
Preconizando enfim todo o final.
27944
“E a morbidez dos seres ilusórios”
Já não permitiria a sobrevida
Enquanto houvesse luz, rara saída,
Momentos mais felizes, peremptórios,
Mas nada se percebe e vejo o caos
Ancoradouro aonde o barco leva,
A terra se cobrindo espessa treva,
Escada em podres, toscos, vãos degraus.
E a caricata imagem do passado,
Jogada sobre o chão, espólio amargo,
Aonde em procissão se acreditara
Na chaga já percebo enorme escara,
E sigo contra a fúria, sem embargo,
Não sendo nem lunático ou profético,
O fim ora pressinto, mesmo herético.
27945
“A saúde das forças subterrâneas,”
Há tanto combalida não permite
Que a vida ultrapassando algum limite
Exale além de forças momentâneas.
Igrejas, patrimônios do demônio,
Vendendo algum pecado mais boçal
Esquece em cada tosco ritual,
A fúria ensandecida de um hormônio,
E quanto se criou um deus bondoso,
Ou mesmo temeroso e tão atroz,
Estava ao ser humano dando voz,
Sobrepujando sempre enfim, o gozo;
E assim ao destruir a divindade,
Canalha bem mais alto sempre brade.
27946
“E é de mim que decorrem, simultâneas,”
Vias que talvez possam dizer
Do quanto se mostrando em desprazer,
As horas mais difíceis, vis insânias
O parto sonegado da esperança
Rapinas sendo bípedes pensantes,
Deveras não percebem nem instantes,
Enquanto empunham, tosca e vasta lança.
No quanto poderia ter um sol
Que ainda iluminasse este planeta,
A cada novo engodo que cometa,
Destruição domina este arrebol,
E o fim traz seu aroma, tosco enxofre,
A vida se perdendo já de chofre.
27947
“A alma dos movimentos rotatórios”
Talvez deixe restar algum momento
Aonde se pensara num alento,
Embora os dias mostrem tão inglórios
Caminhos pelos quais se aproximando
Cenário em derrocada, tão feroz,
A morte prolongando a sua voz,
As esperanças morrem, triste bando,
E o cárcere criado pela face
Satânica de quem se orgulha tanto,
Espalha com terror o turvo manto,
Somente enredo trágico se trace,
A porta não se abrindo, já se emperra
E a morte dominando toda a Terra.
27948
“Em minha ignota mônada, ampla, vibra”
A força que talvez já redimisse,
O sonho se quem sabe alguém ouvisse,
Mas pura realidade se equilibra
Nas fúrias e nas ânsias mais tenazes
Buscando da riqueza o lenitivo
Enquanto da esperança já me privo,
Percebo caricatos tão mordazes,
Se adonam do poder e faze disso,
Apenas um caminho para o gozo,
E o que se fora outrora majestoso,
Não tem sequer mantido um mero viço.
E o gesto terminal de Satanás
Humano tão somente o fim me traz.
27949
“A Simbiose das coisas me equilibra”
Ainda que se mostrem sempre frágeis
Os dias necessitam ser mais ágeis
Pesando contra mim a imensa libra.
Pereço a cada dia e sei do quanto
Inválido este brado de um pensante
A cada novo tempo o ledo instante
Traçando no final o desencanto.
Cansado de lutar contra o poder,
Esgoto-se deveras minha senda,
E quando o fim amargo se desvenda,
Ninguém procura mesmo ver e crer,
Lunático cantor, profeta espúrio
A cada novo verso, outro perjúrio?
27950
“Da substância de todas as substâncias”
Carbono feito em deus já se perdendo,
Deveras não deixando dividendo,
Ausentes ou bem frágeis militâncias,
Não podem contra a força do dinheiro,
O deus que foi criado por tal fera,
Matando este verão, sem primavera
O inverno se tornado corriqueiro,
Assomam-se demônios, vejo bem
A face denegrida do que somos,
E quando ainda creio no que fomos,
Percebo que somente o nada vem,
Destruidora e torpe criatura,
Das rédeas do futuro se assegura.
27951
“Da escuridão do cósmico segredo,”
Negar a própria sorte? Estupidez
Diverso do que espúrio ainda crês.
No verso que ora faço já concedo
Preconizando o fim inevitável,
Desesperança rege e mata deus,
Ainda que meus cantos; sinto ateus
A cada esquina um demo demonstrável,
Na mão que prostitui e explora a dor,
Na infância já perdida em meio aos vândalos
Ainda há hipocrisia dos tais sândalos,
Apascentando ao fim o lutador.
Vergonha, tão somente uma vergonha,
Envolta por enorme e vã peçonha.
27952
“Larva de caos telúrico, procedo”
De tempos mais felizes, sonhadores,
Aonde ainda houvera belas flores,
E agora se percebe tanto medo,
Vencido pela intensa morbidez
Na qual se imiscuindo deuses tantos,
Aonde se mostraram tolos prantos,
O quanto se pudera já desfez,
E a glória de um passado tão fugaz
Nas fátuas impressões, fráguas suaves
Agora se perfilam tantas traves
Matando o que inda houvera de uma paz,
Pudesse haver quem sabe um deus pensante,
O mundo mudaria num instante.
27953
“Pólipo de recônditas reentrâncias,”
Assisto à derrocada do que fora
Outrora alguma imagem redentora,
E agora se perdendo em militâncias
Diversas entranhadas pela incúria
Gerações perdidas, sem futuro,
O quanto de mim mesmo inda procuro
Traduz imagem tosca em tal penúria.
O vento que viria abençoar
Demônio que criaste tudo impede,
Nem mesmo uma esperança se concede,
Aonde existiria luz solar,
Se a morte finalmente conseguiste
Tornando este cenário bem mais triste.
27954
“Do cosmopolitismo das moneras”
Pudesse discernir a melhor sorte,
Que ao menos num momento me conforte
Negando o que se vê nas torpes eras,
Abraço os meus delírios e deleto
O quanto dolorido se faz ver
Vitória do dinheiro e do poder,
Serviço tão bem feito, pois completo.
Assino com meus erros, meus engodos,
Partícipe deste ato terminal
Jogando sobre a Terra a pá de cal
Deixando-me levar pelos vis lodos.
Ainda que pensasse nalgum deus,
Prefiro os caminhares mais ateus.
27955
“"Sou uma Sombra! Venho de outras eras,”
Aonde se pensara em luz e glória,
Agora a vida escassa e sem memória
Já não mais revivendo primaveras,
Assola este planeta o frio e o tédio,
Devastação sombria e dolorida,
Morrera neste instante toda a vida,
Erguemos Satanás em alto prédio.
E o pendulo que eterno dominava,
Agora se calando, não traduz,
O quanto da verdade reproduz,
Tomando pela cinza, fúria e lava,
Ausência de esperança, morto deus,
Natura se demonstra em pleno adeus.
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