sexta-feira, 2 de abril de 2010

48463/64/65/66/67/68/69/70

28463

“este trato se fechava”
Se eu pudesse meu amigo
Nada tenho em desabrigo
Coração não teme lava
Vai seguindo seu destino
No vergel em liberdade
Quando a lua vem e invade
Com seu brilho cristalino
Já não tenho mais paragem
Já não tenho mais final
Rumo segue sempre igual
Procurando nova aragem
Que garanta qualquer plano
Prosseguindo qual cigano.


28464

“— Se eu pudera, meu amigo,”
Se eu pudera ter liberto
O caminho que deserto
Sem saber sequer de abrigo
Esperança trança o rumo
Esperança traça o quanto
Não pudesse mais quebranto
Quando engano logo assumo
E deveras verdes ramas
E deveras verde prado,
Coração sabe do fado
E mantendo sempre as chamas
Não permite noite escura
Lua cheia se perdura.

28465

“já desde os portos de Cabra”
Já desde a senda infinita
Sangrador deveras grita
Coração com fúria se abra
E deveras nada teme
Nem algema nem corrente
E se tudo já pressente
Toma o barco leva o leme
Timoneiro do deserto
Nada sabe num galope
Se este rubro logo tope
Na esperança o peito aberto
Traduzindo verde espaço
Com furor, mantendo o laço.

28466


“Compadre, venho sangrando”
Já não tenho outro caminho
Nesta lua se eu me aninho
Desde cedo e desde quando
No final cigana sorte
Não prevê qualquer descanso,
E deveras me esperanço
Verdejando assim meu norte
Qualquer corte, qualquer trama
Nada mede este final
O caminho é ritual
A verdade sempre chama
Quem se faz além da lua,
Quem decerto já flutua.

28467

“minha faca por sua manta”
Meu desejo pelo seu
Minha sorte percebeu
Quando alto se levanta
Traduzindo o verde louro
Da vitória que se espera
No caminho se tempera
E percebe ancoradouro
Nada temo, nada além
Do que tanto poderia,
Mas suporto esta sangria
Quando a lua ao longe vem
E clareia esta paragem,
Coração dita estalagem.

28468


“meus arreios pelo espelho,”
Meu momento pela sorte
Nada tendo que conforte
Já não meto meu bedelho,
Mas cavalo vai sem freio
Galopando imensidão
Novas tranças me verão
Sem temor e sem receio,
Profusão de tempestade
Dita o rumo do cigano
E deveras desengano
Já não rompe a liberdade
Nem tampo verdes sonhos
Com certeza mais risonhos.

28469

“meu cavalo por sua casa,”
Minha sina pela sua
Corre sangue beija a lua
Solução nunca se atrasa
E o medonho caminhante
E o sonante caminheiro
Nada sabe derradeiro
Nada trilha triunfante
Se não for desta vontade
De luar e verde rama
Quando a sorte não me chama
Já não tenho a liberdade,
Mas se bebo a lua cheia
O caminho me incendeia.

28470

“Compadre, quero trocar”
O destino se pudesse
Mas deveras nem por prece
Nunca deixo este luar
Nem o verde da esperança
Um sonâmbulo caminho
Onde mesmo indo sozinho
A certeza agora lança
E sem freio, nem destino
Galopando o tempo todo
Desconheço charco ou lodo
Sei do mundo cristalino
Onde a lua deita nua
E deveras já flutua.

Nenhum comentário: