sábado, 3 de abril de 2010

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28488

Nada posso; contrário à caminhada
Que outrora perfazia em noite vã
Sem ter no meu olhar uma manhã
Restando tão somente o mesmo nada
E vendo que se perde em torpe estrada
A sorte muitas vezes tão malsã
O rumo de uma história em vago afã
Transforma qualquer luz de uma alvorada
Albores num momento em grises tons
Já não concebem mais os sonhos bons
E visto desta forma este vazio,
E nele e por somente ser assim,
Vagando sem destino, sinto enfim,
O mundo que conheço e desafio.


28489

Não poderia mesmo caminhar
São tantos desacertos vida afora
E a sorte que deveras se demora
Levando para longe, ganha o mar,
Visando algum momento a procurar
O fardo; se eu carrego e me decora,
Talvez já se aproxime fatal hora
E tendo que, deveras navegar
Mesquinhos olhos buscam uma chance
E mesmo que decerto ainda alcance
Não cabe mais o tempo, resta o fim,
E assim ao me sentir vivo somente
O quanto se deseja, se pressente
A morte se apossando enfim, de mim.

28490

São tantos ermos frágeis que carrego
Andanças por mim mesmo traduzindo
O quanto se pensara fosse infindo
O medo traduzindo em passo cego,
E quanto mais audaz tento e navego
O dia mais feliz; quando deslindo,
Transcende ao que pensara e sinto vindo
O fim, somente o fim, mas não me entrego.
Verdugo dos meus passos, maltratando
O quanto se mostrara sem ter quando
Alvíssaras a quem se faz melhor,
Mas tudo o que restando sendo o nada,
Melhor cessar decerto a caminhada,
O resto? Tanto sei e até de cor.


24891



Vencido pelas ânsias de um momento
Melhor a cada instante e nada tendo
Somente a dor deveras se mantendo
E nela sem sentido eu me atormento,
Sentindo em minha pele o vago vento
Que outrora se mostrara um estupendo
Amigo, pois decerto já contendo
A mansidão suave, doce alento.
A brisa do passado no meu rosto,
Agora pouco a pouco decomposto
Marcado por imensas cicatrizes,
Não deixa qualquer dúvida, decerto
O quanto agora vivo este deserto
Há tempos foram dias mais felizes.


28492


Jogando contra a sorte, esta desdita
Que nada me trazendo só produz
O fim a cada instante; eu busco a luz
E nela qualquer sombra mais bendita
Minha alma se tornando tão aflita
Sabendo que deveras verte pus,
Aonde meu caminho eu não opus
Mais forte qual demônio invade e grita,
Sedento por talvez nova ilusão
Sabendo dos vazios que virão
Nefasta realidade traz funesto
Caminho pelo qual ainda trilho,
E quando me percebe, este andarilho,
Moldando com terror o último gesto.

24893


Jogando contra a sorte e já perdido,
Não posso mergulhar em tal abismo
E quando muitas vezes inda cismo,
O sonho traz resquícios da libido
E o mundo me invadindo sem sentido,
A cada novo tempo um cataclismo
E a todo movimento, o velho sismo,
O amor um grão decerto apodrecido.
Vencido pela fúria de uma vida
Há tanto sem sentido e já perdida
Rasgando cada verso, agora sigo
Vagando sem destino, bar em bar
Até quem sabe um dia me cansar
E ter meu derradeiro e bom abrigo.


24849


Sorvendo cada gota deste fel
Que tanto destilaste enquanto deste
Sabendo ter futuro vago e agreste
Jamais reconhecendo paz e céu,
Ao menos poderia ter fiel
O dia quando o mesmo se reveste
Da incúria, do terror, antiga veste
O mundo desfilando em tom cruel,
Cadenciando os passos rumo ao fim,
Mesquinhas luzes brotam no cenário,
E o gosto de um momento bem mais vário
Esconde-se e maltrata ainda em mim
O franco caminhar traduz em dor,
O quanto imaginara sedutor.



28495


A morte desfiando a cada instante
E nela se percebe o quão voraz
Enquanto tanta dor me satisfaz
Negando algum momento deslumbrante
Das sendas que vivera em tom constante
Apenas se afigura tão mordaz
A ausência mais completa desta paz
Da qual sorvi um tempo delirante.
Riscada desta agenda, feita em vida,
A cada novo sol, a despedida
Tornando-se decerto mais plausível,
A morte se afigura como fosse
Um último tormento que agridoce
Demonstra tão somente o que é possível.


28496

Varrendo dos meus olhos a esperança
A fonte dos prazeres se extinguira
O quanto que restara frágil tira
O próprio tempo ao nada agora lança
E quando se trazia na lembrança
A vida que deveras se retira
Com força e com vontade, a sorte gira
E o mundo me prepara esta vingança
Mortalha revivida em cada verso,
Assim me percebendo mais disperso
Meu universo há tanto desabara,
Açoda-me o terror deste vazio,
E quando mesmo insano, desafio,
A luz que ainda resta? Bem mais rara...

28497

A vida assim cismando em decompor
Caminho que pensara mais suave,
A cada novo dia mais se agrave
O tempo de viver, em farta dor.
Pudesse ter a glória num louvor
E não saber decerto deste entrave,
O risco se aumentando, tomba a nave
E o medo transfundindo o desamor,
Levasse pelo menos deste instante
Um raio que pudesse transformar
Gerando dentro em mim novo luar.
Mas quando se mostrasse tão frustrante
Caminho em trevas feito e nada mais,
Que faço se só vejo os temporais?

28498

Jogando contra o vento o nada ser
E tendo por resposta o mesmo não
Aonde se encontrar a direção
Se a vida apenas traz o desprazer?
Não vejo outra saída, quero ter
Apenas um momento de ilusão
E nele reviver esta emoção
E dela novamente renascer.
Pudesse ver florida a primavera
Crisântemos e lírios, violetas
A sorte preparando tais falsetas
Gerando em destempero tal espera
Não deixa qualquer sombra do que fora
Outrora vida amena e sonhadora.

28499

Já não posso esperar por mais um sonho,
Jamais eu poderia acreditar
Que ainda em mim vivesse algum luar
Se tudo se transforma e é tão medonho,
O quanto do passado recomponho
As coisas vão mudando de lugar,
O quando desejei se fez vagar
Por mar terrivelmente vão, tristonho.
Legado de uma vida em luzes fartas?
Jogadas sobre a mesa velhas cartas
Marcadas pelo sangue da ilusão,
Não deixam que se possa responder,
Apenas demonstrando o desprazer
Dos dias mais vazios, tradução.

28500

Jogado contra a fúria deste vento
Perdido em plena rota de um tufão
O corte se aprofunda e a solução
Não passa de um vulgar pressentimento,
Ausência de ternura em vão lamento,
Vestígios de um momento me trarão
De novo e tão somente a solidão
Semente do que dita o sentimento.
Rasgando o coração nada se vê
O quanto poderia sem por que
Vestir uma farsante luz, sombria
E andando contra a fúria de um tornado,
Restando para mim o meu passado,
Futuro? Nem a noite fantasia...

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