quarta-feira, 31 de março de 2010

HOMENAGEM A FRANCISCA CLOTILDE

A REDENÇÃO

A treva esconde a face delicada
Do Salvador exangue sobre a Cruz,
Porque fugia do sol a própria luz
E a natureza treme horrorizada.

Nem um conforto! Só a desvelada
Mãe comprimida ao lenho de Jesus
Sente pungir-lhe n’alma desolada
A dor cruel que a pena não traduz.

Silêncio, trevas, mágoa, confusão!
Eis terminada a lúgubre Paixão
Consumou-se a tragédia deicida.

Abriu-se o eco, oh! justos, exultai!
Flori boninas! Aves gorjeai
Saudando a humanidade redimida!

Francisca Clotilde, O Lyrio, recife-PE


1


“Saudando a humanidade redimida”
Após os temporais eu vejo a face
Por mais que a solidão inda trace
Caminho para a sorte em vã ermida,
Seguindo cada passo do Senhor,
Permito-me sentir intensa glória
Aonde ainda alcance esta memória
Entôo em todo canto outro louvor,
Vencendo antigas trevas vejo a luz
Amanhecendo após tanta tristeza,
E quando em Vós encontro esta grandeza
Ao passo mais feliz já se conduz
A senda venturosa de quem sonha,
Por mais que a vida seja tão medonha.


2


“Flori boninas! Aves gorjeai”
Chegado, pois o tempo em que se vê
A sorte desejada desde que
Por nós esteve o Santo Pai,
Vencendo os dissabores vejo a sorte
Mudando a direção a cada dia,
E nele esperança que me guia
No amor que tantas vezes me conforte,
Confrontos que travara dentro em mim,
Mergulhos no vazio de minha alma
A sensação de Deus enquanto acalma,
Florindo com certeza o meu jardim,
Canteiro feito em luzes, santidade,
No amor que tanto quero e que me invade.


3


“Abriu-se o eco, oh! justos, exultai!”
O mundo não será conforme fora,
Imagem do Cordeiro, redentora,
Enquanto a dor ao longe já se esvai,
Mudando a direção dos temporais,
Aquele que se deu em Seu calvário,
Num sacrifício imenso e necessário,
O Vosso sangue Pai que derramais
Transforme em glória toda imensa senda,
Cenário de batalhas do passado,
O dia feito em paz anunciado,
A cada amanhecer que se desvenda
Perdão tomando conta de quem traça
A vida muito além, plena de Graça.

4


“Consumou-se a tragédia deicida”,
Mas nesta morte vejo uma esperança
Aonde em holocausto já se lança
Mudança preparada em nossa vida,
Assisto à derrocada dos venais
Caminhos entre as trevas porfiados,
E quando se percebem vãos pecado,
Perdão que a cada dia transformais
Seara mais sublime e soberana,
Na qual se percebendo a Graça e a Glória,
Traduz a realidade da vitória
Enquanto a sanguinária nos engana,
Vencendo as tentações, prossigo em Vós,
E elevo com vigor a minha voz.



5


“Eis terminada a lúgubre Paixão”,
Mas dela se percebe um novo tempo,
Vencendo qualquer dor e contratempo
Momentos mais feliz se verão,
Enquanto houver a força da verdade
Deixando qualquer medo no passado,
O amor que neste Amor tem triunfado,
Mais alto no meu peito agora brade,
Vindouras esperanças de outras horas
Auroras com certeza mais bonitas,
Gerando da emoção raras pepitas
As Graças, do futuro são senhoras.
E sinto em Vossa luz tanta fartura,
A vida em Vosso encanto, nunca escura.

6


“Silêncio, trevas, mágoa, confusão!”
Assim se percebera a noite em dor,
Aonde se matando o Salvador,
Guardado em nosso peito, na Paixão,
Percebo quantas vezes nossa luta
É feita num momento mais audaz,
E assim ao se mostrar a plena paz,
A humanidade enquanto em vão reluta,
A Mão abençoada de quem tanto
Amando se fez mártir, numa cruz,
E quando morto explode em tanta luz,
Gerando neste instante farto encanto,
Amar e perdoar, eis o legado,
De quem se fez em dor, crucificado.

7


“A dor cruel que a pena não traduz”
Esgota qualquer chance para quem
Amor sem ter limites não contém,
E nega vendo mesmo a imensa luz,
O cego que se perde em claridade,
O surdo que não sabe traduzir
O som maravilhoso do provir,
Tampouco a sinfonia que ora invade,
Tocando os corações, mesmo os mais feros,
E gera tão somente o ser eterno,
Matando o que deveras fora inverno,
Em atos, pensamentos tão sinceros,
E sei que se em verdade hoje existo,
Eu tenho em meu Pai, que é Jesus Cristo.


8


“Sente pungir-lhe n’alma desolada”
Aquele que não sabe da existência
De quem ao se entregar em penitência
A história num momento transformada,
A santidade expressa em tanto amor
E nele perpetua esta alegria,
Que agora quando em luzes já nos guia
Traduz no nosso olhar o Redentor,
Em Vossa caminhada sobre a Terra,
O medo não faz parte do que em Vós,
Vencendo a fria fera mais atroz
Somente a claridade ora se encerra.
Alvissareiro seja, pois então,
Quem sabe deste amor e do perdão.


9


“Mãe comprimida ao lenho de Jesus”
Aonde se mostrara em Sangue a Graça,
Futuro com passado se congraça
E a vida vejo então em rara luz,
A morte no Calvário nos redime,
E faz nascer em nós farta esperança
Na ponta venenosa de uma lança
Uma expressão terrível, dolo e crime,
Mas quando se percebe a força tanta
Deste Cordeiro rei dentre os hebreus,
O mundo que vivera então nos breus
Agora em força e sorte se levanta.
Alvissareiros dias para quem
Conhece esta verdade muito bem.

10


“Nem um conforto! Só a desvelada”
E dura sensação do sofrimento,
Enquanto a cada dia me atormento,
Minha alma me levando ao mesmo nada,
Percebo no horizonte imenso sol
E dele bebo os raios mais felizes,
Embora do passado, as cicatrizes,
Futuro se desenha em tal farol,
Mergulho em Vossos braços, Pai Eterno,
E sinto-me deveras mais tranqüilo,
No amor que em tanto amor ora destilo,
Nas ânsias mais ousadas eu me interno
E sigo cada passo do Senhor
Que se fez morto ou vivo em pleno amor.


11


“E a natureza treme horrorizada”
Ao ver o sacrifício de quem tanto
Se fez em pleno amor, e no entretanto
A sorte noutro rumo viu lançada,
A espada penetrando, o vil açoite,
A cruz, o prego o fogo da vingança
Quem sempre ao grande amor eu sei se lança
Não teme a tempestade, enfrenta a noite
E vence mesmo sendo derrotado
Num momento feroz da humanidade
Aonde com furor a fera brade,
Cordeiro que assim vejo ora imolado,
E sendo em nome claro deste fausto
Que Ele se entregou, duro holocausto.

12


“Porque fugia do sol a própria luz”
A Terra em trevas plena se mostrava
Aonde se fizera fúria e lava,
Apenas o terror tudo conduz,
Assim na sexta feira se trazia
Em fogo a desventura do Cordeiro,
Do amor e do perdão, um mensageiro,
Moldando com fulgor tal fantasia,
Assisto à velha cena a cada instante
Na fome, na miséria, na injustiça
E quando esta verdade movediça
Se mostra com certeza torturante,
A cada novo tempo outro Jesus,
Só muda de cenário, corte e Cruz.



13


“Do Salvador exangue sobre a Cruz,”
Imagem dolorida se percebe
O sangue se escorrendo toma a sebe
E nela se realça em dor, Jesus.
Percorro cada dia numa esquina
E vejo mesmo olhar de sacrifício,
Assim num tosco e eterno precipício
A podridão deveras nos domina,
Dirima-se decerto esta injustiça
Não deixe que este mundo siga assim,
Brotando nova flor neste jardim,
Aonde existe a marca da cobiça,
Deveras Aleluia se refaça
E a Glória do Senhor em nós renasça.


14


“A treva esconde a face delicada”
De quem ao ser deveras torturado
Redime com perdão todo o pecado
Da humanidade sempre tão amada,
Amarga realidade nos tomando,
A fúria de hoje em dia transcendendo
Aonde poderia em dividendo,
O mundo se perdendo, e demonstrando
Que a fera ainda existe e se transtorna
Enquanto noutra cruz outro cordeiro,
Assim se vê no mundo, quase inteiro,
E a sorte do futuro já se entorna,
Mordazes e terríveis os chacais,
Foi por eles que Vós vos entregais?

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