domingo, 28 de março de 2010

27851/52/53/54/55/56/57/58/59/60

27851


“A destra descarnada de um duende,”
Multiforme cadáver se vendendo,
E nele tão somente um dividendo
Do qual a corja imunda já depende,
Sagrando criaturas ou fantoches
Espúrios caminhares sobre a terra,
E nada da verdade ora se encerra,
Deveras são comuns venais deboches,
Assíduas caricatas, cartomantes,
Astrólogos, videntes outros tais,
Vivendo da ignorância dos boçais
E deles retirando os diamantes.
Crendices pós crendices, dizem morte
Do quanto a própria vida nos comporte.


27852


“Dos filamentos fluídicos de um halo”
Jogados sobre o crânio de um ignaro,
E quando a santidade assim declaro
Deveras da verdade nada falo,
O pensamento morre a cada esquina
Vendido numa seita, numa crença
Espalha-se venal torpe doença
Que tanto quanto vende já domina
Não posso mais verter sequer palavra
Que possa traduzir o que ora penso,
Diverso quanto sei, ou mesmo imenso
Produto subvertido desta lavra,
Assim, agricultores dos infernos,
Prometem dias claros, bons e eternos.


27853

“Hirto, observa através a tênue trança”
A vendeta que é feita em várias tendas,
E quanto bem mais caras as revendas,
Menor eu te garanto, uma esperança
Do demônio vivendo criaturas
Que dizem ter nas mãos toda a verdade,
Ainda quanto mais a vida brade
Da morte sanguessugas mais impuras.
Se há deus ou se não há, louvado seja
Quem bebe deste cálice satânico
O quanto deste deus se faz orgânico
Termina na garrafa de cerveja
Vendida como cálice sagrado,
Em nome do diabo e do pecado.


27854


“Mas muitas vezes, quando a noite avança,”
Por sobre as almas torpes, loucas, crédulas
Gerando sempre os dotes, ricas cédulas
No quanto se mostrando deus em lança
O gesto mais estúpido e banal
Num gutural rangido feito atroz,
Demônio se criando dando voz
Ao pútrido fantoche sem igual,
Levando assim diversas multidões
Aos mais perfeitos pântanos e austeros
Olhares tantas vezes bem mais feros
Traçando do pecado exposições.
Leiloam salvação a cada instante,
No bolso reluzente diamante.


27855


“Mas muitas vezes, quando a noite avança,”
E traça os mais estúpidos demônios
Aumentam dos canalhas, patrimônios
Enquanto diminui uma esperança.
Assim a cada altar negociatas
São feitas todo dia impunemente,
Quem tanto se faz deus, ou mesmo crente
Em vozes quase uníssonas, cascatas,
Gestando parcimônia onde não há,
Vestindo caricato fato espúrio,
A cada novo canto, outro perjúrio
E seja desta forma aqui ou lá
Sacrílego caminho pra fortuna,
Roubando sem ninguém que ainda puna.

27856

“E os arremessos de uma catapulta”
Na secular figura tão famélica
Imagem distorcida que evangélica
Cobrando ao pecador pesada multa
Assalta tantos bolsos quanto mentes,
E gera incoerências onde um dia
Talvez por ter deidade ou maestria
Diversos seres, raros penitentes
Falaram de um amor e do perdão
Agora transformado por imundos,
Em atos mais profanos oriundos
Dos tempos onde havia salvação,
E quando vejo a cena repetida,
Pergunto de que vale a nossa vida?


27857



“Com a veemência mavórtica do aríete”
Tentando destroçar quem inda pensa,
A corja procurando recompensa
Eternidade a todos já promete
E vende por trocados ou milhões
Seara inexistente ou se, gratuita,
Realidade então se faz fortuita
Pertuito aonde adentram multidões.
Acordos entre crápulas; cenário
Para um raro e vão cultivo,
O quanto em meio às trevas sobrevivo,
Sabendo do poder de um adversário,
Permite que inda tenha a resistência
E nela peço a ajuda da ciência.

27857


“E explode, igual à luz que o ar acomete,”
A insânia ritual que tanto vejo,
Dilui-se nos demônios o desejo,
E a mesma história sempre se repete.
Acordo e quando sinto esta presença
Nefasta do poder e do dinheiro,
Percebo quão enorme este puteiro
E nele se vendendo qualquer crença,
Catástrofes terrestres e mundanas,
Vestindo roupas novas, de castigos,
Momentos usuais, velhos e antigos,
Agora se transformam em profanas
Escravizando assim tolas ovelhas
Domando do alicerce até as telhas.


27858

“Do seu zooplasma ofídico resulta”
A eterna sensação: crime e castigo,
Condena-se ao terrível desabrigo
Enquanto a inteligência sempre insulta.
O cárcere da raça propicia
Aos vendilhões da culpa e do perdão,
Poder que se demonstra em podridão
Negando a qualquer ser uma alegria.
Jogando num cassino suas cartas
Demônios gargalhando são reais,
E querem sempre tanto ou muito mais
E logo que conseguem, mesas fartas,
Arrastam-se em correntes gerações
E delas outras turbas quais tufões.


27859



“Negra paixão congênita, bastarda,”
Há tanto dominando cada ser,
Espúria dominância do prazer
Usando qualquer luz, vendida farda.
Assim negociando a claridade
Sonegam para tantos, salvação
Quais fossem donos mesmo do perdão,
Por mais que outro caminho a sorte invade.
Esgarçam divindades e os destroços
Os trastes mais vulgares, indigentes,
Somando a cada dia os penitentes
Não deixam que inda sobrem nem os ossos,
Cadáver disputado por pastores
São pútridos deveras seus odores.

27860


“Sôfrego, o monstro as vítimas aguarda”
E devorará todos os incautos,
Assim como os demônios nestes lautos
Banquetes onde a sorte se resguarda
Regados com o sangue de quem fora
Outrora numa cruz sacrificado
E agora em toda esquina relembrado
Imagem tantas vezes sonhadora,
Não posso imaginar como seria
A sorte deste pobre que se fez
Naquilo que deveras inda crês,
E serve de repasto e de iguaria
Nos pântanos sarcásticos, igrejas
Em torpes fantasias, mais sobejas.

Nenhum comentário: