27882
“No cadáver malsão, fazendo um s”
Ou melhor um te, percebo o quanto
Ao abraçar o mundo em desencanto,
No olhar eterna e mansa, bela prece,
Encontro este cenário devastado,
E nele as cenas todas se repetem,
Enquanto as multidões enfim competem,
Querendo cada uma o seu legado,
Apodrecendo o pouco que restara
Daquele ser suave e mesmo manso,
Ao ver o sofrimento seu, alcanço
O quanto é dolorosa cada escara
Aberta nesta vil humanidade,
Aonde desejara uma igualdade.
28883
“Vendo as larvas malignas que se embrulham”
Comendo cada parte do repasto,
Eu tenho a sensação do tempo gasto
Enquanto tais canalhas o debulham,
Vencido pela insânia no seu tempo,
Agora exposto como um vil troféu,
Olhando para o nada vê um céu
Imenso feito em dor e contratempo,
Assassinos vorazes, rapineiros,
Que outrora devoraram o infeliz,
Atualidade então repete e diz,
Momentos que pensara derradeiros,
A pústula se abrindo em cada chaga,
Satânica figura tudo draga.
27884
“E até os membros da família engulham,”
Ao verem quão inútil sacrifício
Jogado num enorme precipício
As turbas do presente tanto empulham
Que a pobre criatura, este judeu,
Ao ter a sensação de eternidade,
Enquanto a cada dia já se invade
O lar que um dia quis que fosse seu,
Depredam, prostituem, negociam,
Prometem o que sabem nunca fazem,
E o que ainda resta; já desfazem
Cena terrível logo propiciam.
Modernos vendilhões, batinas, ternos,
Se alimentando sempre dos infernos.
27885
“Toma conta do corpo que apodrece”
A mortalha que um dia a prostituta
Cobrira a criatura que inda luta
Enquanto a realidade se esvaece,
O parto do quem sabe no futuro,
Já anunciando a morte do passado,
Aonde se vivendo do pecado,
O mundo penetrara neste escuro,
Igreja sendo dona do universo?
A humanidade tendo este castigo
Deveras tão terrível, não consigo
Nem quero imaginar neste meu verso,
Já basta o que fizeram com Joana,
A santa que é guerreira e que é profana.
27886
“A bacteriologia inventariante”
Traduz o refazer da vida, mas
Aonde se postara Satanás
A corja na verdade sempre mente,
Usando da figura do menino
Que um dia se entregou, qual pobre otário,
E agora rende sempre um honorário
Bem caro para um sórdido cretino,
Abutre carniceiro, um agiota
Vendendo o que de Graça recebeu,
Quem fala mesmo sendo incréu e ateu,
Já viu e muito além de qualquer cota,
Os vermes andam soltos sobre a terra
Enquanto uma esperança já se enterra...
27887
“É uma trágica festa emocionante”
Aquela feita em nome do demônio
Satânica figura em puro hormônio
Canibalesco rito deslumbrante,
Assim também se faz em nome dele,
Do herdeiro do reinado de Israel
Dizendo estar num Éden, vulgo céu,
Orgástico desejo já compele
A qualquer festa feita desta forma,
Dos carnavais de deus ou do diabo,
Festejo com certeza mais nababo
Enquanto uma mensagem se deforma,
Iguais em tudo eu vejo tais festeiros,
Somente muda a face dos puteiros.
27888
“No espasmo fisiológico da fome”
A sensação da morte se aproxima,
Enquanto humanidade em baixa estima
Não tendo sensação de quem a dome,
Gerando a morte apenas por prazer,
Um velho costumeiro ritual,
Aonde se mostrando o canibal
Devora sem perguntas qualquer ser,
A culpa é do demônio? Meu amigo.
Se somos nós demônios de nós mesmos
Vagando sem destinos pelos esmos,
Deveras demonstrando o que persigo,
Imolam cada vez mais o cordeiro
Santificando então sexo e dinheiro.
27889
“Como as cadelas que as dentuças trincam”
Percebo as tais bacantes do senhor,
E quando se fazendo seu louvor
Com cruzes e cadáveres, pois, brincam,
Assisto aos mais profanos caminhares
Longínquas vozes ouço de quem tanto
Pensara num irmão com tanto encanto,
Explorado sem pena nos altares,
Assim caminha rumo ao seu final,
Quem tanto desejara paz e glória
Demônio comemora uma vitória
E ri-se esta serpente sensual,
Enquanto Barrabás se congratula
Nos olhos dos fiéis, somente a gula.
27890
“Numa glutoneria hedionda, brincam,”
Usando de uma imagem tão sutil,
Se tudo o que acontece se previu,
Paredes deste templo sei que trincam,
E o gozo insofismável já se alastra
E deixa cada qual bem mais contente,
Aonde se pensara em penitente
Vontade de justiça já se castra.
Hedônicos espectros vagam nus
E deles posso ver a hipocrisia,
E enquanto este cadáver não esfria,
Vendido numa esquina, o tal Jesus,
Que outrora tanto amor ofereceu,
Melhor se o povo fosse enfim, ateu.
27891
“Dentro daquela massa que o húmus come,”
O cadáver putrefato de quem tanto
Pensara noutra tempo, novo canto,
Enquanto a realidade já consome
O bêbado palhaço ri de tudo
E mesmo se mostrando este bufão
Caminhos mais diversos mostrarão
Por mais que na verdade não me iludo
Eu sei da caricata criatura
Que veste esta mortalha mais venal
A Páscoa se transforma em bacanal,
Tomando toda a terra esta loucura,
Depois venham falar em Satanás?
Deixem este diabo, pois em paz!
Nenhum comentário:
Postar um comentário