quinta-feira, 1 de abril de 2010

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“E o baque de um corpo ao mar”
E o fogo já destruindo
Um cenário outrora lindo
Pouco a pouco a desbotar
É nefasto o teu futuro
O presente não diz nada,
Onde pode uma alvorada
O que quero e em vão procuro
Ao perder verde esperança
Nada resta sobre a terra,
A verdade se descerra
Neste fogo em vil vingança
Quando pode perceber
Corpo aos poucos, perecer.

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“Pelo arranco de um finado,”
Se percebe a carpideira
Voz da fera madeireira
Todo o mato devastado,
Sendo assim nesta seara
Antes flórea em tal vergel,
Hoje gris o imenso céu
No teu verde vasta escara,
Esfumaça-se o futuro
Sem o sol numa manhã
A esperança se malsã
Neste véu grisalho e escuro,
Traduzindo em fogo e chama
Teu terror exposto em drama.

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“E o sono sempre cortado”
Pela angústia do não ser,
Tão somente o vil poder
Sonegando algum legado,
O vazio em fogaréu
O terror ora se espalha,
Verde mata, agora em palha,
Da floresta até o papel,
A madeira, o corte, a serra
O vazio se moldando,
Esperança em contrabando,
Uma história assim se encerra,
Num torpor em fúrias vejo
O que outrora em vão desejo.

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“Tendo a peste por jaguar”
Nada resta no caminho,
Nem o ser vago e daninho,
Nem tampouco algum luar,
Tão somente escuridão
E o deserto em terra nua,
Onde a sorte se faz crua
Novos dias não verão
O luar nem mesmo o sol,
A nefasta tela cria
Transformando em noite o dia,
Destroçado este arrebol,
O passado se traduz
No futuro em tosca luz.

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“Infecto, apertado, imundo,”
O teu solo mais desértico
Onde outrora quis poético
Nesta senda me aprofundo
E não vejo sequer sombra
De um momento mais feliz
Neste céu imenso e gris,
O futuro já me assombra,
A sangria da esperança
Torna a vida quase inútil
Esperança sendo fútil,
Ao vazio já se lança.
No caminho em trevas feito,
Rio seco, perde o leito.



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“Hoje... o porão negro, fundo,”
Onde outrora quis a sorte
Sem ter nada que comporte
No vazio me aprofundo,
Esperança que guiara
Navegando em vão percebe
Quanto escusa a dura sebe
Que se fez; um dia, clara
Solidão toma o cenário
O terror traduz a fome,
Todo o verde já se some
O calor incendiário
De um momento mais atroz
Já tolhendo nossa voz.

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“Sob as tendas d'amplidão”
Nada mais restando enfim,
O planeta chega ao fim
Num eterno e vão verão,
Incendeia-se a esperança
Nossa mata, nada resta
O que fora uma floresta
O deserto agora alcança
Haveria qualquer luz
Se pudesse ter decerto
O caminho que deserto
E ao terror já nos conduz,
Morte certa, mundo alheio,
Rio perde em seca o veio.

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“O sono dormido à toa”
O caminho desolado,
Quanto houvera do passado
Noutra senda uma canoa
Sorte se escoando em vão
Cicatrizes infinitas,
Onde as terras mais bonitas,
A terrível solidão,
Cena agora repetida
Num país maravilhoso
Vejo agora em tenebroso
Rumo dita esta partida
Para o nunca mais será,
Desde aqui e desde já

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“A guerra, a caça ao leão,”
O rumo sem ter certeza
Onde a sorte com pureza
Ditaria a direção
Hoje a senda se transforma
Tão igual aqui na América
Sorte amarga e vã quimérica
Se tornando a dura norma,
O planeta já sangrando
Se perdendo a cada dia,
Onde a sorte reluzia
Num suave tempo, brando.
Aquecimento global
Prenuncia este final.


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“Ontem a Serra Leoa,”
Hoje a fúria no Brasil
Céu grisalho aonde anil,
Voz vazia já se entoa
Sendo assim nada se vê
Nem talvez uma esperança
No vazio em que se lança
Sem ter menos um por que
Tanta luz que houvera outrora
Tanto sonho no porvir,
Natureza a destruir
Em terror tudo decora,
Morte eu vejo invés do brilho,
De viés escuso trilho.

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