quarta-feira, 31 de março de 2010

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“Colombo! fecha a porta dos teus mares”
Já não comporta mais a sorte aonde
Por mais se procure já se esconde
A sorte permanente de Palmares,
Ainda se percebe em solo agreste
A fúria desdenhosa de uma fera,
Matando a mais perfeita primavera,
Diversa da que tanto tu quiseste,
Assim ao se sentir no americano
Olhar intensidade desta incúria,
Da escravidão decerto esta lamuria,
Causando a cada dia um desengano,
Mortalha do passado no presente,
Futuro de que forma se pressente?





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“Andrada! arranca esse pendão dos ares”
Por onde aventureiros prosseguiam,
Agora novas trevas vêm e guiam
Tornando vis deveras seus altares,
O corte se aprofunda e sempre mais,
O fogo da esperança se escondendo,
Num solo tão fantástico e estupendo,
Encontro da ilusão seus enxovais
E bebo desta imunda água em fel,
Nefasta e caricata garatuja,
A mão que tanto fez-se bem mais suja,
No olhar terrível fera, mais cruel,
A brasa que deveras trouxe o nome,
Agora não sacia a sua fome.

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“Levantai-vos, heróis do Novo Mundo”
Tentai ao menos ver uma esperança,
Futuro no vazio ora se lança
E nesta estupidez eu me aprofundo,
Num verso mais audaz, vejo o futuro
Espelha este passado em sangue e luta,
A mão que vos domina sendo bruta
O dia se tornando mais escuro,
Vagando pelo céu cruzeiro em luz,
Ao menos poderia vos guiar,
Porém na imensidão de vosso mar,
Apenas tanto medo reproduz
A face mais bisonha do gigante,
Aurífero caminho, deslumbrante.


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“Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga”
Jogando sobre as ondas barcos tantos,
Apenas se percebem desencantos
Aonde a solidão, deveras traga
E a peste se mostrando em voz comum,
Negando qualquer brilho ao caminheiro,
Roubando toda a glória do tinteiro,
Caminho que procuro, sei nenhum,
Negando assim a luz onde pudesse
Vencer os dias turvos que encontrei,
Sublime Paraíso, rara grei,
A Natureza aqui derrama a messe,
Mas tudo sendo em vão, um corte imenso,
E deste vão futuro me convenço.

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“Como um íris no pélago profundo”
Pudesse ter a sorte venturosa,
Mas quando a realidade tudo glosa,
O solo em aridez se faz imundo,
Perpetuando assim a vil peçonha
Que tanto do passado diz sangria,
Futuro soberano já se adia,
E toma espaço então tanta vergonha.
Mesquinhos rapineiros corruptores
Políticos venais, podre quimera,
Aonde alguma luz inda se espera
Gerando com beleza raras flores,
Apenas putrefata garatuja
Na mão fétida marca amarga e suja



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“O trilho que Colombo abriu nas vagas,”
Desnuda-se em total angústia quando
Deveras em terror já se tomando
No olhar dos rapineiros as adagas,
Profanas tempestades, roubos tantos,
A lúbrica paisagem se mostrara
Aonde se tortura em vil escara,
Sobrando aos andarilhos, desencantos,
Medonha esta serpente feita em treva
Devastação matando uma esperança
E quando a voz em vão assim se lança
A morte a cada dia mais se ceva,
E vejo quão nefasto este caminho
E nele, do final eu me avizinho.


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“Extingue nesta hora o brigue imundo”
Aonde se perfaz a leda história,
Mas mesmo em plena paz é merencória
Enquanto no passado me aprofundo
Percebo contumaz a roubalheira
Que tanto te sugou por tantos anos,
Assim ao se rever tais desenganos,
A sorte de outra sorte já se inteira,
E o vandalismo expondo esta sangria
Corruptos e canalhas são vulgares,
Poder gerando assim toscos altares,
E a senda tão sonhada se desvia,
Mergulha num abismo sem ter volta,
Revive a cada tempo a vã revolta.

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“Fatalidade atroz que a mente esmaga”
Não deixa que se veja um novo dia,
E quando mais além já se irradia
A fúria dominando cada vaga,
Tempestas e procelas destroçando
O sonho de um momento mais feliz,
O corte reaviva a cicatriz,
E o tempo não se faz deveras brando,
Um sonhador, apenas nada mais,
Assim eu me encontrando solitário,
Caminho tão cruel, desnecessário,
Momentos que pudessem triunfais
Somente traduzindo a desventura
Que em solo mais gentil já se perdura.

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