quinta-feira, 1 de abril de 2010

28197/198/199/200/01/02/03/04/05/06

28197


“Varrei os mares, tufão,”
Desditoso marinheiro
Um terrível timoneiro
Condenando à negação
O futuro desta terra
Que deveras hoje vejo
Bem aquém de algum desejo
Morte em dor gerando guerra,
Fome e fúria demarcando
Cada dia do futuro,
Tanto atroz, venal e duro
Onde outrora fora brando
Solo feito uma carcaça,
Condenando-te à desgraça.

28198


“Rolai das imensidades”
Fonte em fúria, terremotos
Os porvires mais remotos
Solidão gerando grades,
O degredo da esperança
O terror em cada olhar,
Onde possa navegar
Se este mar tanto balança
Percebendo então meu fim,
Nada resta de alegria,
Uma sorte se esvazia
Tanta seca no jardim,
Um deserto toma a forma,
Tua face se deforma.

28199


“Astros! noites! Tempestades,”
Furacões venais momentos
Em completos desalentos
Com certeza, tanto brades
Nos furores de quem sabe
Que agoniza e vê seu fim,
O terror chegando assim,
Esperança já não cabe,
A mortalha se tecendo
Com terror e a Natureza,
Se tocando com vileza
Onde outrora em estupendo
Caminhar se prometia,
Hoje resta a vilania.

28200

“Do teu manto este borrão,”
Afastando este matiz
O futuro se desdiz
Sonegando qualquer chão,
Mergulhando no passado
Vejo a glória prometida
Numa história desvalida,
O vazio por legado,
Cancioneiro dita a lua
Coração de um sertanejo,
Mas agora resta, eu vejo,
Uma face inteira e nua
Já despida da esperança,
O temor ora me alcança.



28201

“Co'a esponja de tuas vagas”
Nada posso, em vilipêndio
Tuas matas, tanto incêndio,
Devastando belas plagas,
Perpetua o medo quando
Se traduz insensatez
O terror que agora vês
Pouco a pouco desfiando
Uma história que pensara
Bem maior e mais feliz,
Uma imensa cicatriz
Ao gerar-se desta escara,
Numa amara tempestade,
Tanta fúria nos invade.



28202

“Ó mar, por que não apagas”
Do cenário tal torpeza,
Mal se vê na natureza
Cenas duras e tão vagas,
Não pudesse caminhar
Contra a força mais atroz,
De que vale a minha voz,
De que vale meu olhar?
Nada tendo a cada dia,
Um jazigo eu vejo enfim
Onde houvera algum jardim,
Só restando esta agonia
De uma terra outrora bela
Que desnuda se revela.


28203

“Tanto horror perante os céus,”
Percebido em fogo intenso,
Quando em claro azul eu penso,
Cinzas vejo os toscos véus,
No cenário colorido
De um momento do passado,
Percebendo destroçado
Condenando-se ao olvido
O que fora tanta glória
Esperança mais gentil,
Em verdade o que se viu
Cena amarga e merencória
Uma escória toma a cena,
E a desgraça à solta, plena.

28204


“Se eu deliro... ou se é verdade”
Tanta dor que se prevê
Sem ter mesmo algum por que
O cenário se degrade
Consumido pelo fogo
Destruído sem perdão,
Novos dias mostrarão
Que perdemos já tal jogo,
E o futuro se percebe
Sem mais cores, tão grisalho,
Quando em prol inda batalho
Vejo a morte nesta sebe
E mergulho no vazio,
Solo agreste, duro e frio.

28205

“Dizei-me vós, Senhor Deus,”
Porque tanta desventura
Numa terra agora escura
Só se escuta o vão adeus
Tanto tempo poderia
Ter em sorte sorridente,
O calor que ora se sente,
Nossa sorte se faz fria
E o mergulho neste abismo
De um desértico caminho,
Desolando o nosso ninho,
Só gerando o cataclismo,
A medonha face exposta,
De uma terra decomposta.


28206


“Senhor Deus dos desgraçados”
Ao se ver a mesma cena
Que o passado nos condena
Os tormentos desvendados,
O terror já se espalhando
Nos incêndios florestais
Traduzindo em nunca mais,
O que se mostrara quando
Em beleza tão sutil,
Percebido em verde raro,
Cada verso em que declaro
Tanta dor quanto se viu
Mesquinhez de um povo então
Traduzindo em podridão.

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