terça-feira, 30 de março de 2010

HOMENAGEM A WILLIAM E. HENLEY

Invictus
(Título Original: "Invictus")
Autor: William E Henley
Tradutor: André C S Masini
Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.
Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.
Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.
Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.




1

“Eu sou o comandante de minha alma”
E assim jamais concedo alguma chance
Ao medo que deveras já me alcance
Enquanto a realidade ora me acalma,
Vencer os dissabores; prosseguir
Em meio às tempestades mais comuns,
Os medos? Na verdade tenho alguns,
Mas nada que inda impeça o meu porvir,
E quando amanhecer, eu tentarei
Vencer os meus temores que restaram,
Nos portos onde os barcos ancoraram
Fazendo da esperança a minha lei,
Deveras sem temer o temporal,
O amor sendo meu nobre ritual.

2

“Eu sou dono e senhor de meu destino;”
E nada impedirá tal caminhada,
Sabendo já de cor inteira a estrada,
O quanto que desejo ora domino,
E tudo o que pensara no passado
Expondo em voz tranqüila, enfim garanto,
Não mais trazendo o medo, angústia e pranto,
O gosto do viver mais exaltado,
E quando se percebe muito além
Da dor que antes domara um peito aberto,
Anseio num momento em deserto,
Traduz esta esperança que ora vem
Falando da emoção de ter nas mãos,
Certeza do brotar de antigos grãos.

3


“Nem por pesada a mão que o mundo espalma;”
Nem mesmo pelo céu que se mostrando
Por vezes tão audaz ou mesmo brando,
Trazendo a tempestade, ou tanta calma
Nem pela luz que outrora se fez rara
E agora mostra imensa claridade,
Nem pela angústia enorme que me invade,
Tampouco pela voz que se declara
Em tez tão revoltosa dentro em mim,
Singrando mares sempre audaciosos,
Nem mesmo por saber dos tantos gozos,
De espinhos e roseiras no jardim,
Somente por ter sempre esta esperança
A voz mais forte ainda ora se lança.


4


“Por ser estreita a senda - eu não declino”
Do passo que preparo; mesmo audaz,
O quanto de alegria amor me traz
Deveras toma conta do destino,
Outrora sendo assim, o sonhador
Que tanto procura por alguém
Da sorte muitas vezes sigo aquém,
Trazendo a cada passo imensa dor,
Vivesse esta esperança que hoje trago
Talvez inda pudesse ser feliz,
O amor que na verdade contradiz
Sonega qualquer luz e sem afago,
Durante tantos dias pereci,
Distante do que encontro agora em ti.


5


“Não me amedronta, nem me martiriza”
Saber da dor terrível de quem ama,
E quando se mantém mais firme a chama,
O temporal transforma em mera brisa
Aquilo que seria uma alegria
E agora vejo em lágrimas, somente,
Ausente do meu solo esta semente,
Durante tanto tempo não procria,
Gerando a cada inverno a sensação
Do medo de seguir contra a maré,
O amor que tanto quis, perdendo a fé,
Somente me traduz a negação,
E assim sem ter ninguém sigo sozinho,
Somente na esperança inda me aninho...


6


“Porém o tempo, a consumir-se em fúria,”
Já não permitiria uma saída
Ausente dos meus olhos, minha vida
Tomada pelas ânsias de uma incúria,
Atando cada passo em luzes frágeis
Galgando tão somente o nada ser,
Na falta de ternura, em desprazer,
Os dias poderiam ser mais ágeis,
Algozes, na verdade são diversos
E deles sem notícia sigo alheio,
O passo mais audaz, sempre receio,
Assim como contidos, os meus versos,
Apenas esperança me domina,
Quem sabe mudaria a amarga sina?


7




“Somente o Horror das trevas se divisa;”
No olhar de um andarilho sem destino,
O mundo que pensara cristalino,
Agora a cada dia se escraviza
E nada do que fora se percebe,
Premissas hoje ditam solidão,
O quanto do meu sonho fora em vão,
Vazia e sempre escura a minha sebe,
Audaciosamente eu procurei
A sorte que deveras nunca via,
E sendo mais ausente esta alegria,
Tristeza vai ditando toda a lei,
Pudesse ser feliz, ah quem me dera,
Teria finalmente a primavera.

8


“Além deste oceano de lamúria,”
Somente a ingratidão tomando a cena,
Minha alma neste instante se apequena,
Aonde quis a glória vi penúria.
Semente se abortara em pleno chão,
O vento mais dorido já traçando
Aonde imaginara outrora brando
Total enorme eu sei, devastação
E o quanto ser feliz inda pudesse,
Talvez num novo dia, noutra senda,
Somente a solidão vaga e desvenda
Negando ao meu futuro alguma messe.
Sentindo a cada dia desabar
O sonho que aprendi edificar.

9


“Minha cabeça - embora em sangue – ereta”
Rodando em carrossel, vive a tristeza
De ter somente a dor desta incerteza
Na qual a realidade se completa,
Vivesse pelo menos um momento
Aonde se pudesse acreditar
Distante dos meus olhos o luar,
Sentindo o mais completo desalento,
A noite se passando em trevas, vejo
E nela não concebo outro caminho,
Deveras percorrendo ora sozinho
Searas mais atrozes do desejo,
Uma esperança morta, tão somente,
É tudo o que decerto esta alma sente.


10


“Nunca me lamentei - e ainda trago”
Nos olhos o temor da solidão,
Enquanto se ausentando do verão,
A sorte se desenha e o tempo estrago
Com versos doloridos e não mais,
Sabendo ser tão triste o dia a dia,
Aonde esta emoção já não se cria,
Exposto a gigantescos temporais,
Nefasta vida, ausente de esperança
Sombria madrugada, sem manhã
O quanto a minha vida segue vã,
Apenas a tristeza ora me alcança
E o gosto tão amargo da saudade,
Ainda com furor, chega e me invade.


11


“Sob os golpes que o acaso atira e acerta,”
O dia se aproxima do final,
O medo que percebo sem igual
Uma alma solitária e tão deserta
Deveras poderia ter enfim,
O brilho que jamais eu conheci,
O amor sem ter limites via em ti,
E quando me percebo, sigo assim,
Sem nada em minhas mãos, somente o medo,
E quanta noite feita em ilusão
O barco sem sentido ou direção
Por vezes esperança inda concedo,
Mas sei que no final, nada se soma,
E angústia o sentimento inteiro toma.


12


“Nas garras do destino e seus estragos,”
Depois de tantas noites procurando
Um tempo que em verdade fosse brando
Trazendo a placidez de doces lagos,
Os dias se passando em nada creio,
O quase se tornando uma constante,
Aonde se pensara um diamante,
Apenas pedregulhos, sigo alheio.
E o quanto ainda posso acreditar
Num dia diferente em minha vida,
Se já não concebendo uma saída
Vazio com certeza o meu lugar,
Seara da paixão, abandonada,
Por onde caminhara, o mesmo nada.


13


“Por mi’alma insubjugável agradeço”
As tantas ilusões que ainda tenho,
E quando se percebe tanto empenho,
O amor já desconhece este endereço,
Vagando pela noite solitária,
E nada se fazendo em plena lua,
Uma alma sem ninguém só continua
Caminho sem carinho, procelária.
Acordo e nada tendo, volta a dor
Antiga companheira, contumaz,
Amor já não mostra mais capaz
E dele nem um raio salvador,
Apenas esperança e sigo só,
Percorro e não percebo nem o pó.


14


“A qualquer deus - se algum acaso existe,”
Eu clamo em desespero por alguém
E quando a solidão retorna e vem,
O coração deveras ledo e triste
Cansado desta luta sempre inglória
Na busca por quem tanto desejara
A noite dos meus sonhos nunca é clara,
A lua se declina merencória
E o peso do viver vergando tanto
Somente o desencanto se porfia
Aonde poderia a fantasia
Encontro a cada dia outro quebranto,
Medrando o caminheiro em noite vã,
Jamais conhecerá outra manhã.





15


“A me envolver em breu - eterno e espesso,”
Não posso nem devia caminhar,
Na ausência mais completa de um luar
O quanto em solidão; creio, mereço,
Vencido a cada dia pelo medo,
Aonde se mostrara em abandono
Perdendo a lucidez, morto de sono,
Desenho solitário novo enredo,
Mas nada se aproxima da verdade,
O quanto ser feliz, ah se pudesse,
Nem mesmo com ternura, reza e prece,
Por mais que uma alma sonhe ou mesmo brade,
Cansado de lutar inutilmente,
Somente a noite fria se pressente.


16


“Do fundo desta noite que persiste”
Depois de ter tentado melhor sorte,
Sem ter quem na verdade me conforte,
O coração deveras já desiste,
E sinto que talvez nunca mereça
A senda venturosa de um amor,
Aonde se escondera o sonhador,
A dor tomando assim minha cabeça,
E o fogo da paixão que outrora via
Perdendo a cada dia o seu sentido,
O amor que desejara em vago olvido,
Deixando em seu lugar esta agonia,
E o comandante segue em temporais
Ausente do que outrora quis, um cais.

Nenhum comentário: