terça-feira, 30 de março de 2010

HOMENAGEM A RUDYARD KIPLING

Se
Se podes conservar o teu bom senso e a calma
No mundo a delirar para quem o louco és tu…
Se podes crer em ti com toda a força de alma
Quando ninguém te crê…Se vais faminto e nu,
Trilhando sem revolta um rumo solitário…
Se à torva intolerância, à negra incompreensão,
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bênçãos de perdão…
Se podes dizer bem de quem te calunia…
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor
(Mas sem a afectação de um santo que oficia
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor)…
Se podes esperar sem fatigar a esperança…
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho…
Fazer do pensamento um arco de aliança,
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho…
Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores…
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores…
Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste…
Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio a construir de novo…
Se puderes obrigar o coração e os músculos
A renovar um esforço há muito vacilante,
Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,
Só exista a vontade a comandar avante…
Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre…
Se vivendo entre os reis, conservas a humildade…
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti à luz da eternidade…
Se quem conta contigo encontra mais que a conta…
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa em obra de tal monta
Que o minute se espraie em séculos fecundos…
Então, á ser sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os tempos, os espaços!…
Mas, ainda para além, um novo sol rompeu,
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.
Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem receares jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um homem!…
(RUDYARD KIPLING
- tradução de Féliz Bermudes)


1


“Alegra-te, meu filho, então serás um homem”
Se em todo vão momento enfim puder olhar
Além deste horizonte, além deste luar
Por mais que estas venais dores já nos consomem,
Ainda se acredite em dia pleno em paz
E dele perceber a raridade em luz
À qual toda a verdade um dia nos conduz
No amor que vence tudo e sempre satisfaz
Tornando o temporal um mero contratempo
Sabendo a tempestade imensa, passageira
E além de qualquer medo ainda já se queira
O instante mais tranqüilo, além do próprio tempo,
Audaciosamente um rumo aonde possa
Viver com tal ternura, a glória sendo nossa.

2


“Quando já nada houver em ti que seja humano”
Puder seguir a senda aonde a lua trilha
E dela decifrar imensa maravilha,
Mudando num instante o medo e o desengano,
Sabendo que amanhã o sol renascerá
E dele a natureza embebe-se em ternura,
Além do que talvez mais possa esta amargura
Perene uma alegria e dela desde já
O rumo se transforma em paz, serenidade,
O quanto se deseja o tempo mais suave,
Sem nada que magoe ou mesmo que inda agrave
A dor que qualquer dia, em trevas nos invade,
Tocando o fundo da alma e assim se transtornando
O que deveras fora outrora bem mais brando.

3

“Sem receares jamais que os erros te retomem,”
Seguindo a caminhada em busca do que um dia
A sorte desenhara em mansa sintonia,
E agora em dores vãs os medos já consomem,,
Não deixe que esta incúria invada o pensamento
E transforme o guerreiro audaz que sei em ti,
No quanto em tanto inglório, o mundo que perdi,
Não possa te trazer sequer duro tormento,
Assim meu filho creia a manhã nos trazendo
A paz que tanto quero e ausente dos meus olhos,
Aonde quis roseira, apenas vis abrolhos,
Que possa se mostrar o amor em dividendo,
Decifro este futuro em voz bem mais tranqüila
Enquanto a claridade aos poucos se perfila.

4


“Pairando numa esfera acima deste plano,”
Felicidade mostra o quanto é necessário
Vencer o temporal, às vezes temerário
Tornando mais ausente a dor e o desengano,
Aonde se pudesse um dia em claros tons,
Momento de alegria, em paz e tão sereno,
Mergulho nesta luz e quando vejo ameno
O sol que nos trará em alvorada os dons
Do amor que se eterniza em atos mais sutis,
Permito-me sonhar além do quão podia
Imerso nesta senda em plena fantasia,
Sabendo-me por fim o quanto se é feliz
Quem tenta e já concebe a glória de um amor,
E nela todo dia, o sonho recompor.


5


“Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos”
Seguindo em tempestade, alheio aos temporais,
E tendo em teu olhar, imenso e claro cais,
Singrando com ternura os mais duros espaços,
Vencendo o medo imenso e traçando o futuro
Em cada novo verso, a voz de uma alegria
Que tanto se percebe enquanto já nos guia
Ainda quando o tempo expõe-se mais escuro,
Não deixando afinal o medo te vencer,
E mesmo que isto ocorra em ti eu conseguindo
Saber do quão sobejo o mundo bem mais lindo,
E nele refletindo a imensidão do ser,
Que sei somente em ti, eu vejo caro filho,
Assim somente assim, em ti imenso brilho,


6

“Mas, ainda para além, um novo sol rompeu,”
Traçando no horizonte um cais maravilhoso,
E assim se mostra então um tempo majestoso
Diverso do que outrora imerso em tanto breu,
Deixando para trás o medo mais cruel
Vagando em noite escura imenso temporal,
E agora que se vê um novo e triunfal
Belíssimo momento envolvendo este céu,
Cenário feito em luz aonde um sonhador
Pudesse desfilar em glórias o futuro
Matando o que já fora, um dia tão escuro,
No secular desejo expresso em raro amor,
Vender o descaminho e ter imensidão
Singrando um belo mar e nele esta amplidão.

7


“Já dominaste os reis, os tempos, os espaços,”
Ao te mostrar inteiro além da eternidade,
E quanto bem mais alto ainda em sonhos brade
Seguindo no futuro os mansos, doces traços,
Atando com firmeza assim os fortes laços
Tramando com beleza intensa liberdade
E nela se percebe os tons da claridade,
Deixando no passado os medos, vagos, baços,
Entranhando infinito e singrando este mar,
Aonde eu poderia um dia desfrutar
De toda a glória imensa, e nela me adivinho
Envolto pelo abraço em paz e luz superna,
A sorte se mostrado agora em senda eterna,
Jamais eu me verei de novo tão sozinho.


8


“Então, á ser sublime, o mundo inteiro é teu”
Pois sabes decifrar enigmas da ilusão
E quando tanta dor, os dias mostrarão
Diverso do que outrora o rumo se perdeu,
Agora em luz perfeita além de qualquer breu,
Tomando mavioso assim toda a amplidão,
Aonde se podia a paz ser solução,
Encontro em cada passo, o amor em apogeu,
Vencendo todo o medo, invades infinito,
E sabes muito bem, de todo intenso rito,
No qual se traduzira a imensa liberdade
Por onde um caminheiro encontra a sua glória
Mudando num momento o rumo desta história,
E apenas a alegria, agora já te invade.



9

“Que o minute se espraie em séculos fecundos”
Gerando a fantasia aonde caminhara
Depois da tempestade em noite e mansa clara,
Tocando em minha pele imensos, raros mundos,

Vencendo esta quimera em vales mais profundos
A glória a cada instante a voz doce declara
E a sorte do passado, outrora dura e rara,
Agora se transforma e invade por segundos

Entorna-se em beleza e assim proporciona
O rito feito em paz, sobeja maravilha,
Aonde o coração em paz desenha e trilha

E a dor que tanto fere aos poucos se abandona,
O amor regendo tudo é como se pudesse
Ter neste olhar macio, a imensidão da prece.


10


“Do minuto que passa em obra de tal monta”
A vida se demonstra além de simples fato,
E quando noutra senda o amor tanto retrato,
O canto se transforma e a dor já se desmonta,

O quanto do desejo a sorte não faz conta,
Deveras tão distante, às vezes me maltrato,
O medo com certeza aos poucos desacato,
A realidade atrai, enquanto o sol desponta

Tomando este cenário em cores mais sutis,
E o coração audaz se mostra então feliz
Bebendo cada gota aonde poderia

Viver além do cais, imensidade plena,
A sorte me tomando, invade e me serena,
Raiando na amplitude intenso e belo dia.


11


“Se podes empregar os sessenta segundos”
Em torno da alegria a quem já se entregara,
Deixando no passado a sorte tão amara,
E bêbado de luz, entregue aos tantos mundos,

Sentidos mais gentis, em raios tão profundos,
Negando à dor que chega o prazer das escaras,
Então felicidade eu sinto que escancaras,
Matando mansamente os medos mais imundos,

Sabendo discernir a sorte que virá
E nela com certeza, o sol mais brilhará
Tornando assim o dia intenso e belo além

Do que já poderia ausente da tristeza
Desta luz sorvida, intensa esta clareza
Que toda a maravilho, eu sei, sinto, contém.


12


“Se quem conta contigo encontra mais que a conta”
E sabe que jamais tu negarás o braço,
Por mais que a vida mostre um doloroso traço,
A sorte em tuas mãos, a própria vida aponta,

E quando em alegria a senda se desponta,
O quanto de tristeza aos poucos já desfaço,
Seguindo a cada dia, assim teu manso passo,
A lua se dourando em rara e bela conta

Perdura neste céu imensa e prateada,
Traçando em paz sobeja, a mais sublime estrada
Guiando cada passo além deste infinito,

Reinando sobre tudo, a deusa ora desnuda,
Assim eu posso crer que a cada nova ajuda,
A salvação desta alma é mais que simples mito.


13


“São iguais para ti à luz da eternidade”
Aqueles que se dão ao medo e dor intensa,
Assim também terás; do Pai a recompensa,
Na luz que já te toma e doura enquanto invade.

Seara magistral por onde a liberdade
Encontro além da vida, e sei do quanto imensa
A glória de saber que em todos sempre pensa
Quem ama e faz do amor um hino à claridade.

Meu filho, em teu olhar, a mansidão que vejo
Permite que se creia além deste desejo
No sol que existe em ti, e gera em profusão

Calor que tanto sei e necessito enfim,
Floresce em paz superna, assim o teu jardim,
Garantindo afinal, eterna floração.


14


“Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre”
Consegues perceber em igual caminhada,
E neles tanta luz, sem diferenciada
Beleza se traduz, e assim já se descobre,

No quanto a pele traz e a realidade encobre
Diverso prosseguir numa diversa estrada,
Mas sempre pelo sol, decerto iluminada,
Final da mesma história a do plebeu, do nobre.

E assim ao perceber diversidade da alma,
Independentemente o quanto diz da palma
Palavra que meu filho, eu sinto que tu és

Liberto caminheiro em noite tão sombria
E Deus a cada passo, eu sinto que te guia,
Rompendo esta corrente, ausentes as galés.


15


“Se vivendo entre os reis, conservas a humildade”
E sabes respeitar quem tanto te respeita,
Por mais que sobre seda ou lã pura se deita
Conheces afinal, a plena liberdade.
E quando a noite em treva aproxima e te invade,
A dor que já virá uma alma pura aceita,
E mesmo em dor venal, ou quando se deleita
Não perde um só segundo, enfim, tranqüilidade.
Nem mesmo quando o frio inverno sem igual,
Tampouco quando chega intenso vendaval,
A sorte traiçoeira assim não mudará
O rumo desenhado em paz e em plena luz,
Caráter tão somente o que já te conduz,
Deveras o teu sol, eterno brilhará.

16


“Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre”
E assim sem maltratar tampouco maltratando
O vento que exalaste eternamente brando,
Verdade feita em luz em ti já não encobre,
Não importando mais se pouco ou muito cobre,
Caminho para a glória em vida vai traçando,
No coração a paz, aos poucos transbordando,
O mundo ao fim de tudo em sonho te recobre,

E quando a noite vir, imensa e traiçoeira
A morte que é da vida eterna mensageira
Terás em paz serena esta certeza audaz,

Do quanto foste além de mera criatura,
O paraíso então divino se afigura,
E assim quem tanto bem tem fez se compraz.



17


“Só exista a vontade a comandar avante”
No peito de quem tanto em glórias se vestiu,
Num coração que seja audaz, quanto gentil,
O dia nascerá decerto deslumbrante,
O medo não existe e o peito a cada instante
Sem nunca ser venal, tampouco sendo vil
Em justo caminhar jamais sendo servil,
Deveras, pois terá seu passo triunfante.
Vencendo o temporal, adentra a correnteza
E sabe desfilar em plena natureza
Sem magoar a terra, e mesmo sendo além
Do simples caminheiro, audaz e sempre forte,
Ao ferido que alente, ao vencido conforte
Sabendo desta força enorme que contém.


18


“Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,”
A dor vier tomar espaço e não deixar
Sequer algum instante, ao menos de traçar
As células matando, e dela seus corpúsculos,
Gerando o medo então, no olhar mais altaneiro
A glória de saber, o quanto foi feliz,
E tendo em sua vida além do que mais quis,
Do amor e da alegria, um nobre mensageiro,
Vivendo em plenitude o quanto poderia,
E mesmo em toda a dor, saber que um dia o fim
Virá e renovando assim cada jardim,
A sorte noutra sorte um dia findaria.
Olhando mansamente o céu que já desponta,
O sol traça o futuro e ao horizonte aponta.

19


“A renovar um esforço há muito vacilante,”
O olhar permitiria a luz que ainda resta,
E mesmo que pareça aos outros tão funesta,
A sorte que se mostra assim mais terebrante,
Permite um novo tempo e nele um raro instante,
Deixando para trás o medo aonde gesta
A palidez do não, passado não atesta
Gerando um novo ser, deveras fascinante.
Não temas o que a dor decerto nos ensina
O sofrimento eu sei, faz parte desta sina
Da qual ninguém escapa e nem escaparás,
Mas veja com ternura esta dura verdade,
Enquanto o coração mais alto ainda brade,
A mão mais vigorosa, o rumo mais audaz.




20


“Se puderes obrigar o coração e os músculos”
A não saberem tanto a dor que enfim terás
Por mais que talvez seja ausente em ti a paz,
Assim tu vencerás os medos e os crepúsculos.
Não tendo noutro dia o anseio que tomara
A caminhada atroz em noite dolorida,
Ao menos poderás saber que assim a vida,
Transforma a noite escura em manhã bela e clara,
Gerando após a chuva imensa calmaria,
O quanto tão feroz, a dor que consumia
Agora apascentado, enfim o coração
Bebendo a mansidão, em água bem mais pura,
Não há eis a verdade a dor que se perdura,
Um dia mostrará deveras redenção.

21


“Voltares ao princípio a construir de novo”
O mundo que pensara há tanto em desarranjo
Deveras caro filho, o olhar de um pai, de um anjo
Sabendo ter a paz e trazê-la a seu povo,
Vivendo plenamente o amor que não tem fim,
Perdão a cada engano ou erro cometido,
Assim como um amor sem olhar para quem,
Por ser somente amor, e nisto se contém,
A sorte desenhando um tempo prometido
Em paz e claridade em luzes sendo feito,
Gerido pelo encanto e pelo amor sublime,
Que tanto nos permita além do que se estime,
Amar por tanto amor, deveras deste jeito,
Um dia eternizando a voz bem mais suave,
Superarás com fé qualquer problema, entrave...






22

“E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,”
Deveras trazes paz a quem mais necessita
A vida sendo assim audaz, porém bonita
É tudo o quanto quero e em glória tu me deste,
Vencer com mansidão todo o terror da peste,
Por mais que a violência ainda já palpita
Não deixe que se perca a mais bela pepita
Da qual, amor imenso, eu que tu vieste.
Gerando plenitude a cada novo dia,
Traçando esta amizade e nela se porfia
O tempo mais feliz, galante companheiro
Piedoso camarada, e assim sendo sincero
Deveras mostrará o que desejo e quero,
Com paz, suavidade, além deste espinheiro.


23


“Vaiadas por malsins, desorientando o povo,”
Errático caminho; das trevas poderão
Traçar no teu olhar diversa direção?
Refaça se preciso, ou faça-se de novo
Sem temer quem assole ou mesmo te maltrate
A vida não se faz conforme qualquer vento,
Assim ao não se expor à força do tormento,
Não deixe que o caminho, a sorte já desate.
O gesto bem mais firme impede a queda plena,
A senda desairosa às vezes necessária,
Tampouco seja a vida atroz e temerária,
Na voz que quando em guerra, a todos já serena,
Servindo com total imensa galhardia,
Apenas a razão deveras seja o guia.

24


“Se podes ver por terra as obras que fizeste,”
E não se perceber cruel em desventura
Que a noite mesmo quando estúpida ou escura
Não deixe que se torne o coração agreste,
Assim ao conseguir vencer os descaminhos,
Deveras caro filho em ti verei a sorte,
Que tanto procurei e agora me conforte,
Envolta na certeza em raros belos ninhos
De dias mais gentis em senda mais tranqüila
Aonde a paz enfim, eu sinto que ora brilha
Enquanto destemida, em luzes fortes trilha,
E nela a mansidão sublime já desfila,
Mudando o que já fora um dia tão venal,
Num rito tão sobejo, e raro, e triunfal.


25


“Com falsas intenções que tu jamais lhes deste”
Por vezes tanta gente estúpida e feroz
Matando uma esperança em mágoa eleva a voz
E torna a caminhada às vezes mais agreste,
E quando isso acontece eu sinto em teu olhar
Perdão por cada fato e assim mais brilharás,
Trazendo a cada instante a vida feita em paz,
Sabendo do poder que existe em perdoar.
Não deixe que esta dor que tanto te devora
Renegue o quanto em ti rebrilha uma esperança
E quando o medo atroz, deveras vem e avança
Teu mundo em cais tranqüilo, agora sei que ancora.
Não cale esta alegria e nem deixe que a sorte
Transmude a tua senda e distorça teu norte.


26



“E que um velhaco emprega eivadas de peçonha”
Tentando destruir o que o amor constrói
Assim a caminhada, às vezes sei que dói,
Porém ao teu caminho a dor que já se oponha
Vencida com teu braço em mansidão somente
Não frutifique nunca e mesmo que inda venha,
Do amor que tanto tens já não sabendo a senha
Em aridez morrendo, alheia esta semente.
O quanto se percebe em claridade feita
Seara mais audaz na qual granaste amor,
E nela se moldando um dia redentor,
Enquanto ao longe a lua, em prata se deleita,
Teus feitos, tua glória eternizada em paz,
Mostrando quão se é nobre ao ser bem mais audaz.

27


“De ver envenenar as frases que disseste”
Por quanto ainda crês na força do inimigo,
Que embora se mostrando em pleno desabrigo
Por vezes se percebe igual à fria peste.
Não cale no teu peito a fúria, nem vingança
Somente esta alegria e dela luz imensa
Gerando a própria glória incrível recompensa
Enquanto em tempestade audacioso avança,
Negando qualquer dor, trazendo em calmaria
O quanto recebera em frio temporal
Assim no olhar suave, o gesto triunfal
De quem conhece a vida e nela a galhardia
Da qual já não se afasta e sabe ser feliz,
Por mais que a sorte mude e o mundo te desdiz.


28


“Se podes resistir à raiva e à vergonha”
Jamais alguém um dia irá te convencer
Do medo natural, sequer de até morrer,
E quando mais audaz, maior que se componha
A sorte que te guia em meio aos vendavais
E nela o caminheiro encontra pedra e espinho,
Mas sabe muito bem e mesmo que sozinho,
Terá a qualquer dia, um manso porto e cais.
Vencida cada etapa a vida é sempre assim,
Deveras a bonança após a tempestade
Por mais que tudo em vão aos poucos se degrade
A flor renascerá cuidando do jardim,
O amor traz a certeza a cada novo tempo
De não temer jamais nem risco ou contratempo.


29


“E resignar sorrindo o amor dos teus amores”
Sabendo ser além e mesmo superando
O vento que vier, seja terrível, brando
O céu se permitindo em várias tantas cores,
Na dor da solidão, uma altivez serena
Mudando com certeza esta aridez atroz,
Mais forte eu sinto agora, ainda a tua voz
E nela a realidade em luz imensa e plena,
Não deixa que se perca o rumo e a direção
Traçando este farol que guia cada passo,
Aonde com firmeza eu sinto todo traço,
Embora saibas bem das dores que virão,
O passo segue firme em rumo à eternidade
Sem nada que te prive, imensa liberdade.


30


“Se podes ver o bem oculto em todo o mal”
E perdoares sempre após tanto terror,
Vivendo em plenitude o que se faz amor,
Meu filho em ti terei olhar mais triunfal,
E assim ao perceber intensa claridade
No olhar de quem caminha e sabe prosseguir
Enfrentando o leão sem temer o porvir
Na força sem igual, que tanto o bom invade,
Gerando após a chuva iridescente céu,
Vibrando com o brilho ameno deste sol,
Domando em voz tranqüila, o quanto do arrebol,
Traçando com firmeza o mais belo papel,
Assim eu te percebo e sei que tu serás,
Um mensageiro sim, do amor, da luz, da paz...


31


“O triunfo e a derrota, eternos impostores”
Jamais possam negar a realidade plena
Que tanto nos maltrata e mesmo se envenena
Transporta no seu bojo espinho em meio às flores.
Assim ao caminhar em meio aos temporais,
Meu filho saiba bem o quanto o amor nos dita,
Por vezes sendo a sorte, atroz, mesmo maldita
Deveras nos trará depois um manso cais
E assim ao prosseguir sem medo do que vem,
A força que este sonho expõe a cada passo,
Sabendo desde sempre o quanto é seu espaço
E tanto continua, às vezes bem aquém,
Mas mesmo assim, a luta, envolta em esperança
Trazendo ao fim o quanto ainda quer e alcança.


32



“Se podes encarar com indiferença igual”
A dor que nos invade e o gozo do prazer
Sabendo discernir momento a acontecer
Que tudo na verdade é sim, mais natural,
E tendo esta certeza, e nela o ritual
Do qual se poderia ainda bem mais crer,
Vivendo a plenitude embora em desprazer,
Que a vida nos prepara o bem, o nada e o mal,
Alvissareiro tempo em meio às vãs procelas
Na luz que tanto brilha o ocaso dita celas
E o medo te protege enquanto te faz forte,
Assim ao caminhar em dias mais sombrios
Vencendo o que vier, terríveis desafios,
Depois de tudo enfim, no amor que te conforte.


33


“Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho”
A vida desenhando os seus momentos quando
Deveras se percebe o mundo desabando
E nele se transforma o que decerto sonho,
Mas sabes muito bem o quanto é dolorido
O tempo de quem luta e mesmo na vitória
Estúpida decerto o que se faz vanglória,
A dor, medo e sorriso, apenas num olvido.
Assim meu filho veja o sol que amanhecendo
Após a bruma intensa em noite turbulenta
A vida se permite e mesmo se apascenta,
Momento doloroso, após um estupendo.
Revive-se na luz a treva do passado,
Assim o céu escuro, um dia iluminado.


34


“Fazer do pensamento um arco de aliança,”
Unindo o que já fora ao quanto inda virá,
Mudando a nossa história e sendo desde já
Assim caminha a vida e nela uma esperança
Aonde no futuro o presente se lança
O sol que com certeza ainda brilhará
E a chuva que depois decerto inda virá
Entre o ser e o não ser, a vida sempre avança.
Pudesse ter nas mãos, destino venturoso
Quem sabe nosso dia, um tempo caprichoso,
Mas quando se percebe a dor em dura face
Que o medo não te tome e nem deixe findar
O amor que tanto tens e sabes navegar,
Vencendo o temporal, terrível, vão impasse.


35


“Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho”
E não deixar sequer que a sorte dite normas,
Por mais que tanta vez o mundo tu transformas,
Às vezes o retrato é trágico e bisonho.
Mas quando tens no olhar, a mansidão de quem
Já sabe quanto pode e deve caminhar,
Assim a própria sorte, invés de maltratar
Transporta a lucidez na qual já se contém
Razão para seguir em paz mesmo em tormenta,
Na fúria se desenha a calmaria após
A dor que agora cala e nega a nossa voz,
Depois de certo tempo, aos poucos se apascenta
E ensina ao caminheiro o rumo a ser tomado,
É só ver as lições que vêm do teu passado.


36


“Se podes esperar sem fatigar a esperança”
E ter esta certeza em luzes sendo feita
Do quanto é necessário engodo que se aceita
E tanto nos ensina enquanto a vida avança
Futuro com passado, uma velha aliança
A fera sabe bem se aproveitar da espreita
Quem tem olhar mais firme enfrenta e se deleita
O caçador à presa, intensa e fera lança.
Assim ao caminhar espera com brandura,
A sorte só se dá pra quem sempre a procura,
E não se mostrará deveras por acaso,
O tempo tem seu ritmo, e dele se transforma,
O quanto desta vida é lei é regra é norma,
Decerto tudo tem limite, tem seu prazo.

37


“Nem pretensões de sábio a dar lições de amor”
Nem mesmo se calando em frente às injustiças
Deixando-se levar no vão destas cobiças
O canto que maltrata, às vezes redentor.
O mundo se disfarça e sempre é multicor,
Esconde-se detrás das mais terríveis liças
E quando se percebe ao fim tu mesmo atiças
Se não cuidar direito, o mal é tentador.
Por isso caro filho, eu quero nos teus olhos
Certeza de uma flor, ausência dos abrolhos
A paz como teu guia, e nela se fazendo
Um dia mais tranqüilo envolto em plenitude
Que seja sempre assim, pacífica atitude
O amor então virá sublime dividendo.


38


“Mas sem a afectação de um santo que oficia”
Tampouco seja o dono audaz de uma verdade,
Assim tu mostrarás, que em tal austeridade
Deveras me trarás ao fim tanta alegria,

Não deixe que o poder, que a vida mesmo guia
Aos poucos te tomando o rumo já degrade,
Sabendo quão é nobre o ter sinceridade,
Embora respeitando a alheia fantasia,

O corte cicatriza e seja o lenitivo
Enquanto a tua mão apóie quem mais pena,
Invés da tempestade, atroz, sempre serena,

Assim querido filho, o amor quando eu cultivo
Gerando a imensidade em perfumes e aroma,
Que seja muito além de simples, mera soma.



39


“Se dás ternura em troca aos que te dão rancor”
E sabes perdoar quem tanto te odiara
A tua vida filho, exposta à dura escara
No fim se transformando em glória de um amor
Que verdadeiramente eclode em raro brilho
Por mais que tanta vez, o mundo te maltrate,
Deveras não permita o nó que se desate
Com toda a plenitude, o amor este andarilho
Invade quem se dá e não permite a fúria
Tampouco se demonstra em ares mais venais,
Enfrenta em mansidão terríveis vendavais,
Supera com brandura, a dor de alguma incúria
E traça em linha firme o nosso amanhecer,
Somente o pleno amor traduz pleno prazer.

40


“Se podes dizer bem de quem te calunia”
Traçando em paz suprema o quanto em dor se faz,
Trazendo a mansidão, embora seja audaz
A sorte com certeza, eu sinto que te guia
Levando ao bem estar, com toda galhardia,
Momento mais feliz, o medo queda atrás
Restando em tuas mãos, aroma que é capaz
De transformar a vida, em plena luz do dia;
Meu filho não permita o anseio da vingança
O coração mais fero à fúria já se lança.
Por isso é necessário o canto mais tranqüilo
E nele se criar um tempo mais suave,
Não deixe que o terror; imensa e dura trave
Imerso em ódio tanto em ti encontre asilo.

41


“Com lágrimas de amor e bênçãos de perdão”
A vida seja assim, caminho venturoso
Aonde se perceba uma alegria em gozo,
E tome com ternura o norte e a direção,
Ausente deste olhar terrível punição
O quanto se mostrando às vezes caprichoso
O mundo seja enfim em ti maravilhoso,
E nele se conceba a imensa redenção.
Perpetuando o riso, infaustos quando vêm
Encontrem mansidão e fiquem bem aquém
Do que pudera em dor, gerar tanta tormenta
Que tua voz macia e calma já transmita
Serenidade plena, a quem deveras grita,
E toda esta beleza, ao fim tudo apascenta.

42


“Tu podes responder subindo o teu calvário”
Com toda a paciência e crendo ser assim
Que a vida nos levando inevitável fim,
Mas que amor permaneça intacto no inventário,
Gerando pleno amor, num ato renovável
Depois do temporal, um dia mais sereno,
O quanto se destila, a vida em vão veneno,
Que tenha em ti somente um ar bem mais amável,
Assim querido filho, encontrarás decerto
Um mundo mais feliz e nele esta certeza
De quanto se podendo em glória, em paz, nobreza
Deixando este caminho eternamente aberto,
Vencendo qualquer dor que um dia te tocando
Com ar bem mais tranqüilo, enfim doce e sereno.


43


“Se à torva intolerância, à negra incompreensão,”
Não souberes meu filho em paz já suplantar
Deveras tanto dor somente a se espalhar
E tudo o que vivera enfim seria vão,
Os dias com ternura eu sei que mostrarão
A cada novo raio um belo e bom luar
E mesmo quando a chuva aos poucos te tocar
Maravilhosamente em ti será verão.
Os dias são assim, momentos nada mais,
Às vezes tanta dor, às vezes magistrais,
Mas sempre me ensinando enfim a dar o passo
Preciso e necessário aonde possa ver
A plenitude feita em glória e no prazer,
Seguindo desta sorte, o firme e belo traço.


44


“Trilhando sem revolta um rumo solitário”
Ao fim da caminhada as cores do jardim,
O mundo se percebe e sempre é mesmo assim,
Por mais que dolorido, o tom deveras vário,
Não deixa que se veja apenas solidão,
É nela que se aprende a ter melhor caminho,
Por isso se traçando um novo e manso ninho,
Em solilóquio mesmo, encontro a decisão.
E tendo sob os pés passada bem mais firme,
Que cada novo dia, a história se transforma
E sem ter regra ou lei, não obedece à norma,
Precisa-se do tempo e nele se confirme,
O rumo que se acerta, às vezes mais banal,
Ao fero a mansidão, se mostra triunfal.


45


“Quando ninguém te crê…Se vais faminto e nu,”
Por mais que seja audaz o passo de quem tenta
E segue contra a força atroz e violenta
O manso vencerá, e espero sejas tu.
Não tema a noite escura, o sol rebrilhará
Tampouco a fome imensa, a sorte já sacia
Quem tanto nesta vida em busca da alegria
Começa a caminhada e sabe desde já
Da glória de uma luta, aonde se mostrando
Em pleno temporal, o coração suave,
Por mais que o dia a dia a dor cruel agrave,
No fim só vencerá o que se fizer brando,
Não deixe que a tormenta abale o firme passo,
Tampouco se entregando ao frio, dor, cansaço.


46


“Se podes crer em ti com toda a força de alma”
Não tema o caminhar embora tão sombrio,
Se quando em solidão a sorte desafio,
Deveras a certeza um dia já me acalma,
Saber do quão dorido o mundo feito em mágoa
A sorte não permite um ato tão cruel,
Estrelas vejo agora e dominam o céu,
O rio mais atroz, num mar sempre deságua
Por isso caro filho, ouvindo a voz da paz,
Do amor que tanto acolhe e nele se percebe
Beleza sem igual, incomparável sebe,
Assim o mais tranqüilo é sempre o mais audaz,
Acreditar em ti e não temer mais nada,
Sabendo desta luz, num sol, plena alvorada.


47


“No mundo a delirar para quem o louco és tu”
Já não se permita amado a dor que nos invade
E toma a cada instante o que em tranqüilidade
Expondo esta verdade inteira sempre a nu.
Vencer a frialdade e crer nalgum futuro
É tudo o que se quer e neste desafio,
A sorte a cada instante eu tento e já recrio,
Deixando no passado o céu que fosse escuro,
Cevando uma esperança e nela esta certeza
Aonde poderei sentir a maravilha
Do dia que virá na lua que ora trilha
Tornando em prata inteira a bela natureza,
Assim meu filho veja o mundo em belo olhar
Sabendo quão preciso é sempre o muito amar.


48


“Se podes conservar o teu bom senso e a calma”
Durante a mais sombria e fria tempestade
Por mais que o dia a dia aos poucos se degrade
Não deixe em ti sequer menor sombra do trauma,
Vencendo o descaminho em ti eu concebendo
O quanto que me orgulho e sei quanto és imenso,
Decerto então meu filho, assim eu convenço
Do dia me que vieste, o mais raro e estupendo,
Aonde a plenitude em amor sendo feita
Gerara com ternura, encanto sem igual,
Por mais que eu tenha sido, às vezes tão venal
Minha alma ao ter sabe e nisto se deleita
Ao ver e conferir, beleza do cenário
Do quanto amor se faz urgente e necessário.

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