terça-feira, 30 de março de 2010

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28041


“Quando um homem sufoco à borda dos meus lábios,”
Diversa transfusão, bebendo gotas tantas,
E quando me percebo em faces quase santas
Olhando para trás ausência de astrolábios
Destino se moldando em cores mais sanguíneas
Esgueiro-me na noite e volto ao meu castelo,
Aonde em tez sombria ao nunca me revelo,
Sonhando com delírio em formas longilíneas
Daquela se fora a doce criatura
Mulher deliciosa em ares tão profanos,
Anseios tão gentis, e assim mais soberanos,
Gerando dentro em mim total, vital loucura,
E saciada a fome encontro em languidez
Desnuda a bela dama imersa em gelidez.



28042




“Tão douta na volúpia eu sou, queridos sábios,”
Dizia aquela sombra em forma sensual,
Fazendo do prazer insano ritual,
Caminho percorrido, envolto por tais lábios,
Delírio sem igual, profana esta ventura
Que tanto desejei e encontro em tua pele,
Aonde tanta fúria aos píncaros compele
Na noite feita em treva, imensa e tão escura,
Gerando este desejo ao qual me entrego tanto,
O corpo seduzido, imensa tempestade,
Ainda que se vê o quanto se degrade,
Tocado sem perdão, ausente o desencanto,
Propaga-se a vontade e dela me transbordo,
Do sonho mais audaz, eu nunca mais acordo.

28043


“As estrelas, o sol, o firmamento e a lua”
Vislumbro da janela após anseios fartos,
E quando se percebe imerso nestes quartos
A imagem delicada, ansiosamente nua
Daquela a quem me entrego e não sonego o gozo,
O templo feito em treva ascende ao Paraíso,
Num toque mais audaz, portanto mais preciso,
O tempo se tornando assim maravilhoso,
Jamais eu poderia além deste caminho,
Saber outro caminho aonde insanamente
O quanto insensatez deveras se pressente,
E nesta audácia plena eu quero e já me aninho,
Vivenciando então fartura em louca tez,
Aonde o dito amor, deveras já se fez.

28044


“Sou como, a quem vê sem véus a imagem nua,”
Falava-me a mulher desnuda no meu leito,
Açoda-me a vontade e nela satisfeito,
Uma alma ensandecida, aos poucos já flutua
Neblina toma a cena e dela me fartando,
A fúria natural esvai-se pouco a pouco
E imerso em corpo frio, intenso me treslouco,
E o sensual, profano, intensamente brando
Gerando nova senda a qual me entrego e sei
Que tanto se demonstra o rumo que buscara
Ainda que talvez mais viva a chaga e a escara,
Dourando em tez sombria a sorte desta grei,
Na qual me saciara e nunca me sacio,
E a cada madrugada, em ânsias desafio.


28045


“De no fundo de um leito afogar a consciência”
E trazendo agora à tona a imensa maravilha
Deveras coração aos poucos segue a trilha,
Deixando para trás o que fora clemência,
Satânico prazer alvissareira sorte,
Um mergulho sem volta envolto em treva tanta
Imagem delicada, ao mesmo tempo santa,
Deveras traduzindo o quanto me conforte
A imensidade exposta em bela e vã nudez,
Aonde tanta glória explode sensual,
A fonte nunca seca, e embora sem igual,
Traduz o que se quer e mesmo o que não vês
Anseio do imortal em trôpego caminho,
Ausente deste encanto, o que fazer, sozinho?


28046


“- "A boca úmida eu tenho e trago em minha ciência”
A vontade incessante em sangue transformada,
A sorte se traduz em toda a madrugada
Gerando sanguinária angústia e penitência.
Nefasto caminheiro às sombras vou entregue,
E nada me seduz além deste poder,
Da sede que matando, explode-se em morrer,
Não tendo quem ainda a fúria já sossegue,
Satânico caminho ao qual eu me perseguira
Vivendo tão somente a dor que vejo em ti,
Vibrando em cada gota a mais do que sorvi,
Acesa dentro em mim, vontade feita em pira
Jamais se apagaria, a vida sendo eterna,
O corte se aprofunda a morte já se hiberna.


28047


“Dizia, a voz imersa em bálsamo e tomilho”
Do quanto é necessário o gozo mais audaz,
E tanto se porfia enquanto já me traz
Ansiedade plena, aonde quero e trilho
Tocando este delírio aonde me perfaço
Distante do vazio onde perceberia
A claridade imensa, ausente deste dia,
A morte penetrando invade cada espaço,
E nada se traduz além deste sombrio
Caminho percorrido em noites, madrugadas
As ânsias sem igual, vontades saciadas,
O quarto em trevas feito, imensidão do frio,
E o peso do viver, eterno e sem final,
Banquete que ora exaure a vida de um mortal.


28048

“E o seio a comprimir sob o aço do espartilho,”
Daquela criatura a quem eu me entregara,
Além do permitido, a vida sendo escara,
Deveras me trazendo insólito, o seu brilho,
Quem trevas conhecera e delas me alimento
Ao ver tanta beleza, em alvo e raro colo,
Ainda que imortal, aos poucos me descolo
E sigo a tempestade entregue ao forte vento,
Profiro sonho audaz, e gozo cada instante,
Por mais que não pudesse, ainda quero mais,
O quanto amor se trama em tantos vendavais,
Trazendo ao vampiresco o sonho deslumbrante,
Mordaz e tão cruel, o gozo de uma vida
Que possa ter um fim e nele a despedida...


28049


“Coleando qual serpente ao pé da lenha acesa,”
Percebo-te desnuda, incrível criatura
Que leva-me sem dó às raias da loucura,
O caçador venal, agora mera presa.
O pânico tomando o coração mordaz, javascript:void(0)
A sorte se desenha em rumo diferente,
E mais do que pensara uma alma não pressente
Aquilo que o amor, aos poucos já me traz,
Tornando-me mortal matando pouco a pouco,
E o quanto se queria, eternidade, há tempos
Envolta pela fúria enormes contratempos,
Deveras nesta insânia, enquanto me treslouco,
Minguando minha vida angústia gera o medo,
E como fosse um tosco, ao amor me concedo.

28050

“E no entanto a mulher, com lábios de framboesa,”
Domando a fera imensa, um ato mais venal,
O amor me destroçando em ar tão sensual,
De um imortal caminho, a morte traz certeza
E o quanto desejara um ato mais audaz,
Agora em morte plena, o fim se aproximando,
O quanto da esperança em torpe e tosco bando
E incrível que pareça assim me satisfaz.
Aonde houvera glória, o medo já me invade,
Amor sem ter limite, a fúria além do cais,
E aonde houvera manso, imensos vendavais,
E aonde houvera luz, terrível tempestade,
A morte se aproxima e redime os engodos,
Só restará no fim os toscos, vagos, lodos...

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