terça-feira, 30 de março de 2010

28004/05/06/07/08/09/10

28004


“E da paixão fez-se o pressentimento”
De um tempo a sorte poderia
Vencer esta terrível agonia,
Que invade como um frio e torpe vento,
Quem dera se pudesse, ah quem me dera,
A vida se mostrando mais venal,
O amor que imaginara sem igual,
Morrendo em duro inverno, a primavera
Distante dos meus olhos, busco flores
Apenas espinheiros no caminho,
E o quanto prosseguindo mais sozinho
Distante desta estrada aonde fores,
Escrevo cada verso de saudade,
Enquanto a solidão fria me invade.

28005


“Que dos olhos desfez a última chama”
Não deixando sequer sobrar a sombra
Do amor que qual espectro ainda assombra
Enquanto a solidão, venal, me chama,
E o quarto se escurece em noite amarga,
A sórdida lembrança me desfaz,
Aonde desejara ao menos paz,
A voz a cada ausência mais se embarga,
O corte se aprofunda, e nada tendo,
O vento adentra em fúria meus umbrais,
Exposto aos mais terríveis vendavais
Pensara num futuro que estupendo
Percebo tão somente me frialdade,
Regado pelas mágoas da saudade.


28006


“De repente da calma fez-se o vento”
E tudo o que pensara em mansidão
Deveras neste imenso turbilhão
Traçando com vigor o desalento,
Pudesse te encontrar, talvez tivesse
A sorte de viver com alegria,
O amor que tanto ainda doma e guia,
Quem sabe me traria rara messe,
Mas tudo não passando de ilusão
A sombra do passado me rondando,
E o que deveras fora outrora brando
Agora se transforma em furacão,
E tantos vendavais e terremotos,
Os sonhos se tornando mais remotos.


28007




“E das mãos espalmadas fez-se o espanto”
Aonde desejara ter a paz
O passo que se dera mais mordaz,
Impede na verdade algum encanto,
Servindo de alimária sigo só,
Tristezas me domando, nada resta,
Do coração que um dia em plena festa
Sobrando tão somente, frio e pó,
Não posso perceber outro momento
Aonde com a glória me encontrasse,
A vida me mostrando nova face
E nela se concebe o desalento.
E tento ser feliz, porém vazio,
O mundo em versos tristes, eu desfio...


28008


“E das bocas unidas fez-se a espuma”
Trazendo para a praia a mera escória
Aonde se pensara na vitória
A vida pouco a pouco já se esfuma,
Andando sobre pedras, espinheiros,
Não posso perceber a luz do sol,
Tristeza dominando este arrebol,
Momentos com certeza derradeiros,
No quanto quis somente alguma estrela
E a noite em brumas feitas me negava,
A sorte se é do amor a mera escrava,
Deveras é melhor nunca contê-la;
Saber quanto é possível caminhar
Talvez abrande ainda o bravo mar.

28009


“Silencioso e branco como a bruma”
Ausente de esperança; sigo apenas
Buscando noites calmas e serenas,
Porém para distante o sonho ruma,
Deixando simples marcas, cicatrizes,
Algozes tempestades se porfiam,
E quando as noites chegam e se esfriam,
Acumulando dores e deslizes,
Escuto a voz do nada e mesmo assim,
Procuro algum alente e nada vejo,
Se o tempo sonegando este azulejo
Nevoenta madrugada não tem fim,
E amor que tanto quis, em negação,
Dizendo desta vã separação.

28010


“De repente do riso fez-se o pranto”
E nada mais traria um novo sol,
Aonde navegar sem o farol,
E como respirar tal desencanto,
Se o quanto fui feliz ainda visse,
Porém realidade me desmente,
E vivo da ternura tão ausente,
A vida repetindo esta mesmice,
Alheio ao que virá, nada me importa,
Apenas sei do nada que carrego,
Vagando pelas ruas, sigo cego,
Fechada num segundo toda a porta,
Separação tomando o meu caminho,
Aonde quis ternura, vou sozinho...

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