28277
“Varrei os mares, tufão”
Desta imensa tempestade
Que deveras tudo invade
Sem ter rumo ou direção
Se perdendo todo o norte
Onde houvera uma esperança
Fogaréu na mata avança
Sem mais nada que conforte
Num confronto inadiável
Natureza em fogaréu
Incendeia o mar e o céu,
Um cenário formidável
E a loucura em que desfez
Demonstrando a insensatez.
28278
“Rolai das imensidades”
Fogos tantos, vendavais
Entre lobos magistrais
Já não restam mais cidades,
A catástrofe se espalha
Num terrível cataclismo,
Solitário vago e cismo,
Sou refugo da batalha,
Navegante solitário
De um planeta aonde a vida
Em terrível despedida
Sonegando este cenário,
Perco o rumo e sem jardim,
O que será, Deus de mim?
28279
“Astros! noites! tempestades!”
Os caminhos são dantescos
Em terríveis arabescos
Solução já não invade
Se degrada toda a sorte
Esperança me abandona,
Solidão volvendo à tona
O vazio que comporte
Traduzindo o nada ser
E este nada se transforma,
No futuro dita a norma
Cisma em tanto desprazer,
A mortalha se apresenta,
Nesta face, em vã tormenta.
28280
“De teu manto este borrão”
Em terríveis tons concebe
O que resta desta sebe
Feita espúria escuridão,
Caminhante do não ser
Navegante do vazio,
Mesmo assim eu desafio
Busco um novo amanhecer
Em grisalhas tempestades
Fogaréus em meio aos pastos,
Passos toscos, velhos gastos
Inda há sorte que se brade?
Não percebo e ainda luto,
Mas vestindo já tal luto.
28281
“Co'a esponja de tuas vagas”
Poderia o mar imenso
Apagar o fogo intenso,
Porém sombras morrem vagas
Nada tendo no futuro
Tempestade em fúria e morte,
Sem sequer saber de um norte,
Mesmo assim inda procuro
Caminhar por entre brasas
E sentindo este espinheiro
Sou quem sabe o derradeiro
Ser que vaga sem ter asas,
Os chacais já destroçados,
Os destinos solapados.
28282
“Ó mar, por que não apagas”
Este incêndio sobre a terra?
Tanta dor que ele descerra
Invadindo tantas plagas,
Nada resta do passado,
A mortalha cobre tudo,
Se deveras não me iludo,
Bebo o sonho degradado,
Falso guizo, temporal,
Vaga noite, dia insano,
O mergulho tão profano
A vergonha em ritual,
A senzala do presente,
Esperança tão ausente.
28283
“Tanto horror perante os céus,”
Traduzindo o nada ter
Nada sendo, o que fazer?
Entregando aos toscos véus
A esperança de um futuro,
A vontade de lutar
Nesta ausência de luar
Neste mundo tão escuro
O vazio se tornando
Sensação que não me deixa,
De que vale tanta queixa
Se não tendo aonde ou quando
O desfile das estrelas,
Já não posso sequer vê-las.
28284
“Se é loucura... se é verdade”
Não consigo desvendar
O caminho sem luar,
A tristeza que ora invade
Solidão ditando normas
O medonho anoitecer
Tanta vida a se perder
São diversas suas formas
E o que tenho dentro em mim,
Como um sonho derradeiro
Das angústias mensageiro
Sendo um tolo querubim,
Bebo esta água poluída
E percebo o fim da vida.
28285
“Dizei-me vós, Senhor Deus”
Com certeza por que tanto
No universo em desencanto
Encontrando tanto adeus,
Já vencido, nada posso
Nem tampouco ora sonhar,
Caminhando a divagar,
Cada fardo agora endosso
Com o medo, em vão reluto
E vestindo a turbulência
Sobre a terra esta regência
Do vazio em pleno luto,
Sendo assim, o que fazer?
Direção a se perder;
28286
“Senhor Deus dos desgraçados”
Nada além do quanto quero
Um momento menos fero,
Mas os dias desolados
Nada trazem, nada dizem
Só traduzem o vazio,
Se deveras desafio
Os meus passos contradizem
Mortes tantas e deslizes
Onde outrora houvera um sonho
Espetáculo medonho,
Dita regras infelizes,
Solidão, dura quimera,
Onde encontro a primavera?
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