sexta-feira, 2 de abril de 2010

28328/29/30/31/32/33/34/35/36/37

28328


“As melodias do céu,”
As lembranças do passado
Que carrego aqui do lado,
A saudade é tão cruel,
O sabor doce do mel,
Coração apaixonado,
Neste tempo abençoado
Hoje louco carrossel,
O sonhar sem ter limite,
Neste sonho que acredite
Possa um dia me trazer
A alegria novamente,
Mas o fim já se pressente,
Tão somente o desprazer.

28329

“Vós sabeis achar nas vagas”
Os momentos mais suaves
E permitam vossas naves
Dias calmos; noites magas
E deveras noutras plagas
Sem terrores ou entraves
Talvez dias menos graves
Talvez longe das adagas
Novos tempos surgirão.
Sonho apenas, nada mais
Destroçados magistrais
Delírios de um trovador,
Que decerto fez do amor,
A tábua de salvação.

28330


“Nautas de todas as plagas,”
Por momentos poderiam
Encontrar se fantasiam
Estas luzes que ora apagas,
Restitui-se nova vida
Traça em cores o futuro,
Do passado tão escuro
Amanhã decerto ungida,
Quem talvez inda veja
Nova senda mais brilhante,
Mas deveras num instante
Toda a sorte se negreja
E o caminho sem porvir
É o que posso enfim, sentir.


28331


“Versos que Homero gemeu,”
Noutros tempos mais felizes,
Quando começaram crises
E este rumo se perdeu,
Num momento mais dorido
Nossa história noutra trilha,
Mas agora sem partilha
Tudo morre em vago olvido
Do passado triunfante
Da ciência e do saber,
Da vitória ao desprazer
Tudo gira num instante
E a semente nada dita
Numa terra tão maldita.


28332


“Vão cantando em noite clara”
Os sonhos que já perdi,
O momento diz daqui
Que o futuro não declara
Nem sequer qualquer alento
A quem possa ter no olhar
Horizonte, sem o mar,
Tão somente areia e vento,
Doce sabor do passado
Vive ainda em torpes lábios
E o mundo sem astrolábios
O caminho destroçado
Nada resta sobre a terra
Longa história que se encerra.


28333


“Homens que Fídias talhara,”
Áureos tempos do passado,
Onde resta algum legado
Deste brilho de Carrara?
Nem a sombra do que fora
Esta senda soberana,
Cada passo mais engana
Quem tem a alma sonhadora,
Morte expressa no vazio,
Na fumaça e fogaréu
Tão ausente deste céu
Qualquer brilho, só desfio
Solidão em treva tanta,
A minha alma desencanta!

28334


“Do mar que Ulisses cortou,”
Nem sequer resta uma gota
Nossa história agora rota
Dela nada mais restou,
Nem semente ou mero grão
Onde vejo um arvoredo?
Se algum sonho inda concedo
Em bem sei é sempre em vão,
O meu mundo feito em nada,
No terror do nada ter,
Tão somente o desprazer
Nesta terra desolada
E o deserto toma conta
Nem sequer um brilho aponta.

28335


“Belos piratas morenos”
Belas moças. Belo sonho,
O que tanto inda componho
Ao falar de tempos plenos
Traz no peito esta saudade
De quem fora mais feliz,
A verdade contradiz
No terror que já degrade
Qualquer sombra de uma vida
Numa terra em podridão
Aridez tomando o chão
Já se mostra a despedida,
No horizonte acinzentado
Nem a sombra do passado.


28336

“Que a vaga jônia criou,”
Em seu momento de glória
Ao lembrar tal bela história
Neste nada que restou,
Caminheiro do passado
Sem presente nem futuro,
Dentro em mim inda procuro
Um diverso e manso Fado,
Mas somente uma ilusão
Nada além, isso eu percebo
Do vazio que recebo,
Não se vê a geração
Tão somente o fim atroz
Toma inteira a minha voz.

28337


“Os marinheiros Helenos,”
Os momentos em que a sorte
Ao ditar diverso norte
Tão distante dos venenos
Que espalharam tanto medo,
Tanta morte, tanta dor,
Onde houvera agricultor
Já não resta algum segredo,
Tudo fora destruído,
Nada mais eu vejo aqui,
Do passado me perdi,
Do futuro, apodrecido,
Nada tendo no presente,
O vazio então se sente.

Nenhum comentário: