sexta-feira, 2 de abril de 2010

28392/93/94/95/96/97/98/99

28392


“Galopam, voam, mas não deixam traço”
Corcéis de uma esperança que se expõe
E quando o mundo em dores se compõe
De que me valeria tanto espaço?
O traço definindo este vazio
A sórdida ilusão de uma fortuna,
O peso do passado coaduna
Com toda a realidade que desfio,
O gesto mais audaz, o tenebroso.
A face mais mordaz, a de uma fera
E tudo transformando a primavera
Outrora num cenário majestoso
Agora em seca e fúria. É natural
O fim que se demonstra em tez venal.



28393

“Neste saara os corcéis o pó levantam,”
E apenas a poeira dita a regra
Desértico caminho desintegra
Futuro aonde os dias já me espantam,
Medonha realidade se aproxima
São várias as tormentas, cataclismos
Cavamos com a gula tais abismos
Mudança se percebe já no clima,
Assim desta possível tentação
A fome do poder e do dinheiro
Tomando este cenário, o derradeiro,
Gerando esta moderna escravidão,
Navio segue em água poluída
Traduz nesta viagem nossa vida.

28394


“Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?”
Quem sabe o rumo se é tão longa a vida?
Quem sabe... Nada além do que se acida
Quem sabe, nem sequer desvenda um passo,
E rumo ao mesmo nada do começo
Voltando deste ciclo vida e morte
Será que no final a nossa sorte
Não mude nem de casa ou endereço?
Um simples adereço, nada mais?
O ser humano pode em assembléia
Mudar esta verdade em tosca idéia
Gerando outros momentos, magistrais,
Ou mesmo, suicida com vileza
Matando desde cedo a natureza.


28395


“Donde vem? onde vai? Das naus errantes”
Gerindo estes caminhos pelas sombras,
E quando se procuram por alfombras
Somente se encontrando estas farsantes
Imagens de um momento mais cruel
Ausência de esperança gera a morte,
Sem ter sequer um rumo, busco um norte
Que possa desvendar um belo céu,
Mas como se em verdade me enlouqueço
Insânia vai domando o coração
E morto, sem saber desta amplidão
Garanto a cada passo outro tropeço,
Será que a nossa sorte seja assim?
Condena-nos deveras triste fim?


28396

“Como roçam na vaga as andorinhas”
Também as procelárias, migração
Sabendo desde sempre a direção
Seguindo pelos céus, migram sozinhas
Porém aquele ser que se diz nobre
Nem mesmo o seu futuro ainda traça
E quando se percebe na fumaça
O fim que se prepara e nos recobre,
O quanto desta estúpida senzala
Aonde esta corrente, feita em trevas
Negando da esperança suas cevas
Uma alma mais sombria não se cala,
E o corte do arvoredo em luz medonha
Demonstra tão somente esta vergonha!

28397

“Veleiro brigue corre à flor dos mares,”
Rasgando os oceanos: esperança.
Enquanto a voz ao longe já se lança
Criamos novos rumos? Vãos altares?
Seguindo em procissão não se percebe
Mudança alguma, o fim se aproximando
Cenário que desnudo em ar nefando
Domina com certeza a imensa sebe
E assim só se concebe este vazio
E nele outro momento mais atroz,
Inútil com certeza a minha voz?
Deveras morta a sorte, morto o estio,
O corpo do planeta decomposto
O visceral caminho já deposto.

28398


“Ao quente arfar das virações marinhas,”
A sorte traiçoeira dita a regra.
Futuro que deveras desintegra
A morte feita em trevas mais daninhas
O corte se aprofunda e vejo assim
Eviscerado sonho em morte e em dor,
Aonde poderia ter a flor
A seca dominando o meu jardim,
Jogado contra o fundo deste poço
Jogado pelas ondas, bebo o abismo
E quando solitário ainda cismo,
Não tendo nem sequer um alvoroço
Percebo ser inútil meu cantar,
Melhor pudesse então já me calar...

28399


“'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas”
Talvez ainda reste um cais ao menos,
Os dias que pudessem mais serenos,
Desenhos promissores de outras telas
Mas quando se percebe o mesmo gris
Esfumaçando o olhar, sem horizonte
Por mais que ainda cante ou mesmo aponte
Decerto outro poder maior desdiz,
Calado e me negando ao tom sombrio,
Seria muito bom, mas não consigo,
Se eu vejo a cada instante o desabrigo,
O quanto se me calo propicio?
Do nada já cansado de sentir
O nada garantido no porvir?

Nenhum comentário: