quinta-feira, 1 de abril de 2010

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28181

“Que servires a um povo de mortalha, ‘
Melhor ter sido o fim de alguma história
O gosto relativo da vitória
Deveras sanguinário; dita a gralha,
Perpetuando assim uma injustiça
A sorte se transforma em dor venal,
O que pudera ser, pois, triunfal
Resume uma passada movediça,
Malsã quem tanto em morte se porfia,
Nefasta natureza de tal corvo,
Lacrimejante rumo em vil estorvo,
Delírio se transforma em falsa luz
E à plena derrocada já conduz.

28182

“Antes te houvessem roto na batalha,”
Talvez tanta desgraça não gerasse
Quem mostra a dolorosa e vaga face
No fio de uma torpe e vã navalha,
O medo que transforma-se em terror,
A dura caminhada sobre a Terra,
A fúria que outra fúria em si encerra
Mosaico tão nefando a se compor,
Assisto à derrocada da esperança
E a fonte se secando, dita o nada,
Imagem do futuro destroçada
Enquanto o teu furor mordaz avança,
Medonho caricato, vil guerreiro,
Sanguíneo e voraz, tal rapineiro.


28183


“Foste hasteado dos heróis na lança”
Aonde poderia haver a paz
O lábaro se mostra tão mordaz,
E à fome em pandemônio já nos lança,
Percebo quão inútil tal vitória
Transcende à própria treva e nada diz,
Somente a vida sempre por um triz
Traduz de uma esperança vil escória,
Putrefação gerando liberdade?
Deveras é assim tão necessário?
O grito que se faz mais temerário
Aquele que o furor deveras brade
E trame contra frágil pequenez,
Assim é que na paz ainda crês?


28184


“Tu que, da liberdade após a guerra,”
Trouxeste esta miséria ao derrotado,
Matando algum futuro e do passado
A sorte num terror ledo se encerra,
Negando uma existência mais tranqüila
Devora como fera o que restava,
Assim imagem rara, torpe, brava
Escravizando a sorte se perfila,
Gerando este vazio, imenso caos,
Não posso permitir visão de dor,
E quando mais à glória este rancor
Ditar as normas; desço alguns degraus
E chego ao mais profundo em treva plena,
Nem mesmo a claridade ainda acena.



28185


“E as promessas divinas da esperança”
Perdidas sobre a face mais cruel
Ainda que se perca rumo e céu,
O quanto do vazio já se alcança
Percebo vil herança que deixaste,
A morte feita em fúria é teu legado,
O mundo após o tempo, desolado,
Já não conhece mais apoio ou haste,
Jazigos espalhados, covas rasas,
Demônio em ânsia tanta, destroçando,
Trazendo junto a ti, diverso bando,
Aonde encontras vida; tu arrasas,
As asas da alegria se podadas,
As mãos de algum futuro já cortadas.

28186


“Estandarte que a luz do sol encerra”
Jazendo sobre o solo, tosco e vago,
O corpo macilento ainda afago
Enquanto a fera audaz, ainda berra,
Gerações de nefastas aves vãs
E delas se percebe apenas isso,
O quanto da esperança perde o viço,
Na ausência mais completa de amanhãs,
Fulgores entre mortos? Fátua luz.
A podridão se espalha e tu te ris,
Aonde se mostrara a cicatriz,
A fúria noutra imensa reproduz
Eternizando assim tanta fartura
Nefanda em vilipêndio, criatura.

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“Que a brisa do Brasil beija e balança,”
A sorte em derrocada das florestas
E quando tais desertos; cedo, gestas
Percebo quão inútil tal mudança.
A sorte desenhada a ferro e fogo,
O gosto da sanguínea fantasia,
A mão que contra o frágil se porfia,
Tramando a derrocada deste jogo,
Não posso me calar perante a cena
E ver se destruir a mãe natura,
A vida se tornando turva e escura,
Espúria aonde fora mais serena,
Jogando assim ao léu o que virá,
A morte se espalhando aqui e lá.

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“Auriverde pendão de minha terra,”
Cujo verde se perde a cada instante,
Aonde poderia deslumbrante,
A morte a cada dia mais descerra,
Imagem do futuro desolado,
Desértico caminho em meio ao nada,
Assim cada floresta derrubada,
Arranca este pendão do teu passado,
Medonho e peçonhento; se afigura
Quem tanto em fúria mata a natureza,
Gerando tão somente uma incerteza,
Aborta um amanhã com amargura,
Riquezas? Não! Somente esta ganância
Tornando bem maior tal discrepância.

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