sexta-feira, 2 de abril de 2010

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28376

“E o vento, que nas cordas assobia”
Traçando novos dias? Nada disso
Aonde se pudesse ter o viço
A sorte poluída e mais sombria,
O quadro definindo dor e morte
Desgaste de uma terra soberana
A cada novo dia, mais se explana
Assim tão tenebroso e duro norte.
Mesquinhas as fortunas em terrores
E secas, produção de dor e treva
Aonde se mostrando árida ceva
Não poderia haver decerto flores,
Albores, asas, sonhos, albatrozes...
Somente dissabores mais atrozes.

28377

“Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,”
Ascendo ao mais sublime caminhar
No sonho liberdade ganha o mar,
O pensamente é barco, nau, canoa.
Mas quando acordo ouvindo esta buzina
Atropelando a paz, tanto cinismo,
O quadro virtual de um cataclismo
Deveras totalmente já domina
E o vento do passado no meu rosto,
O sonho em podridão se decomposto
Não deixa qualquer sombra, morre em vão,
Assim ao se perder qualquer caminho,
Prosseguirei e mesmo se sozinho,
Quem sabe novos dias se verão?




28378

“Esta selvagem, livre poesia,”
Libertária por ser somente assim,
Sedenta de uma sombra, de um jardim,
Aonde se perdendo se recria
Vencida pela atroz realidade
Não deixa nem sequer um mero espaço
Verdade com terror, agora traço,
Mas nada adiantando deste brade
Fartura? Nada disso, só temor,
E o peso lacerando quem carrega
Uma alma sem destino, estando cega
Somente sem caminho, gera a dor
E o corpo estraçalhado do planeta
Prepara no futuro esta falseta.

28379



“Esperai! esperai! deixai que eu beba”
Ao menos da esperança é o que inda peço,
E sigo em tenebroso rumo avesso
Ao mundo que deveras se conceba
Na sorte, derrocada tão somente
Na fúria de uma voz sem galhardia,
De um tempo vendo morta a poesia
Já não se vê sequer viva semente
E o parto se abortando, em duro feto
Mesquinhos olhos lambem cada chão
O quanto se prepara em solidão
Gerada pelo intenso desafeto,
Não vejo nem percebo qualquer luz,
À morte em plena vida se conduz.

28380

“No berço destes pélagos profundos”
Gerações se formando no vazio,
E quando a própria sorte desafio
Percebo noites vãs dias imundos.
O corte se aproxima da garganta
A fúria da Natura se percebe
E quando se destroça cada sebe
Vingança bem mais alto se levanta,
Pudesse acreditar em novo tempo,
Mas como se o passado nos condena,
Aonde poderia mais serena
A terra se tomando em contratempo,
Audácia? Nada disso, só cobiça
A história em voz sombria, movediça.

28381


“Crianças que a procela acalentara”
Somente turbulência poderia
Haver em inclemência em tal sangria
Jamais a noite imersa em lua clara,
O gosto deste amargo toma tudo
E o fardo se aproxima a cada instante,
Cenário se moldando degradante
Deveras, já cansado eu não me iludo,
Sentindo este final que se aproxima
Sentindo a tepidez de um novo clima
A morte a cada dia se mostrando,
Aonde não cabiam mais porquês
O que deveras sentes, tocas, vês
Demonstra este futuro tão nefando.


28382


“Tostados pelo sol dos quatro mundos”
Os solos decompostos, na aridez
Aonde se plantando estupidez
Gerando tão somente toscos fundos
Astuciosamente vejo a gralha
Rondando este cenário em podres sendas
Diverso do que ainda crês, desvendas
Somente vejo um campo de batalha
E nele se percebe a ingratidão
E deles se concebe este vazio,
O quanto poderia, novo estio,
O quanto poderia em belo chão;
Mas tudo não passando de promessa
Cuidado que o planeta já tem pressa...

28383

“Homens do mar! ó rudes marinheiros,”
Já não percebo mais qualquer espaço
O mar tão destroçado; eu vejo e passo
Momentos que percebo derradeiros,
Medonhas as serpentes do passado
Medonhas as serpentes do momento
Medonha face vejo em desalento
Medonho este caminho em vão traçado,
O quadro se aproxima de um torpor
E dele novo coma produzido,
A morte num cenário envilecido
Gerado pelo farto desamor,
Não deixa qualquer dúvida numa alma
Que nunca nem na morte já se acalma.



28384

“Pelas vagas sem fim boiando à toa”
Vagando por espaços mais venais
Os dias demonstrando o nunca mais
E dele qualquer luz sempre destoa,
Trouxesse algum alívio, pelo menos,
O sonho de um poeta, mas no fundo
Quando deveras tento e me aprofundo
Bebendo dos terrores em venenos
Mesquinhos olhos tomam o cenário
E o medo se propaga por quem sabe
Que todo este futuro só lhe cabe,
Diverso deste canto temerário.
Pudesse pelo menos, se eu pudesse...
Mas nada nem sequer ternura ou prece.

28385

“Meu Deus! como é sublime um canto ardente”
Deveras mavioso em luzes fartas,
Mas quando do futuro tu te apartas
Mal vês este terror que se pressente
Nas ânsias do vazio em que se cria
A frágua toma conta da floresta
E o quando do poder que ainda resta
Gerando noite estúpida e sombria
Vazias minhas mãos, vazios olhos
Vazios caminhares, noites vãs
Vazias as certezas das manhãs
Vazios os canteiros, nem abrolhos,
Vazios e vazios, só vazios...
Venceremos no fim tais desafios?

28386

“Que música suave ao longe soa”,
Apenas ilusões? Sonhos dispersos?
Aonde se mostrassem belos versos
Uma alma vaga só, seguindo à toa
Sem rumo nem paragem, segue fria
E o vento em vandalismo dita as normas
E quando o próprio solo tu deformas
A sorte a cada passo se esvazia,
O tempo não tem tempo é temporal
Que tanto devastando cada sebe,
Nem mesmo uma alegria se percebe
O mundo não é sempre atemporal,
Diversidade dita a sua história,
Mas como se não temos nem memória?


28387


“Oh! que doce harmonia traz-me a brisa”
Traçando com ternura novos dias...
São meras ou espúrias fantasias
Apenas o vazio já me avisa
De uma avidez terrível da daninha
Afoitos camaradas do presente
Bebendo com terror nada se sente
Mortalha a cada dia se avizinha,
O vento em dissabores dita o mundo
O vento do terror em cada olhar
O vento insaciável demonstrar
O vento deste tempo amargo e imundo,
Ascendo ao que podia ser suave,
Mas como se emperrada a velha nave?



28388


“E no mar e no céu — a imensidade”
Não vejo divisão, belo azulejo,
Mas quando acinzentado céu prevejo
Marcando a cada dia tal degrade,
Não posso suportar a dura idéia
De um tempo feito em ódio, mais hostil,
O quanto se em verdade se previu
Gerando a cada dia em assembléia
A fúria dentre todas, a pior
A fúria dentre tantas a mais dura
A fúria se mostrando em face escura
A fúria destroçando, eu sei de cor
E sinto finalmente a dor imensa
Na morte do planeta, a recompensa?

28389


“Embaixo — o mar em cima — o firmamento...”
Apenas tal beleza bastaria
Se toda a sorte ao menos, na alegria
Mudasse este terrível sentimento
Da gula feita em gula e nada mais,
Da gula oprimindo quem é frágil,
Da gula do voraz deveras ágil
Da gula que só gera os temporais,
Assisto à derrocada de quem tanto
Outrora se mostra mãe gentil,
E quando se demonstra o que se viu,
Somente se prepara o desencanto,
Desarvorado passo rumo ao nada,
A história totalmente destroçada.

28390


“Sentir deste painel a majestade”
Diversa da que tanto se percebe,
No olhar mais delicado a bela sebe
Com toda a sua glória traz e invade
Sobeja maravilha, natureza
Descrita com ternura por poetas
E assim ao se mostrarem belas setas
O rio percorrendo a correnteza
Encontra a sua foz e ali renasce
A história deste mar, belo e profundo,
Na cíclica beleza deste mundo,
Se vê soberania em cada face,
Mas quando se percebe a insensatez
O quanto já se fora e se desfez?

28391

“Bem feliz quem ali pode nest'hora”
Saber da natureza em ar tranqüilo,
E quando em cada verso aqui desfilo
Beleza sem igual que nos decora,
Encontro-me deveras com o amor
E dele se moldando nova senda,
Quem sabe do passado se desvenda
Caminho mais suave a se compor,
Quem sabe... Mas percebo a solidão
Aonde poderia haver doçura
E quando se concebe em amargura
De fato o que meus olhos, pois verão?
Cenário degradante e nada mais,
Ausência de esperança em rituais.

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