sexta-feira, 2 de abril de 2010

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28348


“Junto às lavas do vulcão”
Cinzas tantas farta lava
A minha alma já se lava
Na total desolação
Esta cena se repete
A cada instante e cada passo,
O futuro se não traço
O presente me compete,
Solitário navegante
De um cometa sem destino,
Quando vejo e me alucino,
Percebendo o degradante
Caminhar da terra imensa,
A morte por recompensa.

28349

“Relembra os versos de Tasso,”
Relembra os versos de amor,
Relembra os versos, cantor
Que não vendo mais espaço
Caminhando sem ter nada
Nem tampouco direção
Neste imenso mundo vão
Nesta terra desnudada
Sorte em trevas, nada além
Sorte em medo, morte em vida,
Preparando a despedida
Que deveras não contém
Esperança; então me calo,
Sem ter nada, nada falo...

28350

“Ou do golfo no regaço”
Ou do rio em grande foz,
Nada escuto, nem a voz
Nada vendo, nada traço,
Esperando o mesmo nada
Que deveras se percebe
No vazio desta sebe,
Uma etérea caminhada,
Rumo ao quê? Nada se vê
Nem tampouco saberei
Solitária e dura grei,
Nem na sorte mais se crê,
Vago alheio e sigo só,
Companhia? A deste pó.

28351


“Terra de amor e traição,”
Terra de sonho e de gozo
Um planeta majestoso
Em completa perdição
Senda amarga em desalento
Senda fria em noite escura,
Tanta sorte se procura
Nem sequer sombra, só vento
E o lamento de quem fora
Noutros tempos trovador
Hoje ausente campo e flor,
Nem imagem redentora,
Tão somente esta aridez
Tudo enfim já se desfez.

28352


“Canta Veneza dormente,”
Em sobejos carnavais
Em momentos magistrais,
Canta a terra plenamente,
Canta a América do sonho,
Canta uma África festiva,
Uma terra ainda viva,
Belo dia, eu recomponho,
Mas sequer vejo uma gota
Do que outrora fora farto,
Se do sonho já me aparto,
A minha alma agora rota
Nada tendo, nada faz,
Nem ternura, dor ou paz.

28353

“Da Itália o filho indolente”
De momentos geniais,
Mas agora nunca mais
Nada além, nada se sente,
Vandalismo dita as normas
E os desvios do planeta
Onde ao nada se arremeta
Já não vejo sonho ou formas,
Nem o canto do canário
Nem o som do rouxinol,
Nem a lua, nem o sol,
Tão terrível o cenário,
Somente desolação
Neste mundo em perdição.

28354


“As andaluzas em flor”
Asiáticas, morenas,
Ébano em divinas cenas
Tanta glória em farto amor,
Porém tudo se perdera
Já não vejo nem sinal,
De um momento casual,
Sem sequer pavio ou cera
A vela de uma esperança
Já não pode mais luzir,
Onde houvera algum porvir
O terror somente alcança
E a medonha realidade
Com terror agora invade.

28355

“Lembram as moças morenas,”
Os meus sonhos, sedução
Na terrível solidão,
Trago em mim as duras penas
De quem tanto desejara
E nada tendo no passado,
Mergulhando em seu legado,
Reabrindo enorme escara
Escancara tão somente
O seu peito que iludido,
Vive só em vago olvido
Já não tendo nem semente
Só pressente a morte em vida
Há tanto tempo decidida.

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“Requebradas de langor,”
Carnavais Bahia e Rio,
Meu passado, se eu porfio
Vejo um rito tentador,
Mas envolto pela sombra
Do que tanto mais temia,
Desta terra agora fria,
Solidão, terror, assombra
E o mergulho dentro em mim
Sonegando uma esperança
Ao vazio já se Lança
O que outrora quis jardim,
E morrendo a cada instante,
Num cenário degradante.

28357


“Do Espanhol as cantilenas”
Da alegria de uma história
Nada tendo, só memória
Caminheiro segue, apenas
Onde o rumo e a direção
Não existem, o horizonte
Sem ter sol que lá desponte,
Sem ter lua, duro chão
Nada além do nada, nada
E este rito se repete
O futuro não compete
Numa terra devorada,
Férreo sonho, mesquinhez
Vivo em tal insensatez.

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